Corporate Venture Capital: como grandes empresas inovam na crise

Por Rafael Gonçalves de Albuquerque, advogado do Faria, Cendão & Maia Advogados (FCMLaw) e sócio da M.A. Capital Family Office.

Um time pesquisando inovação dentro da empresa pode ser uma saída para buscar soluções em meio às crises? Sim. Porém, outras formas podem ser tão ou mais eficientes quanto esta, como o Corporate Venture Capital. Também chamado de “CVC”, é o ingresso de empresas não financeiras no mercado de capital de risco.

Corporate Venture se tornou uma estratégia de investimentos que grandes corporações adotam para comprar pequenas – ou às vezes não tão pequenas – empresas inovadoras. É uma forma de se aproximar de startups e/ou adquirir inovação de forma externa. O fato de ser uma busca externa o diferencia do conceito de Pesquisa e Desenvolvimento (“P&D”).

Na prática, as grandes e médias companhias, as quais chamaremos aqui de “empresas-mães”, criam divisões, com time específico, orçamento e outros componentes para fazer investimentos. As participações podem ser minoritárias ou até mesmo aquisições totais de startups.

O “CVC” tornou-se uma forma comum de investimento corporativo adotado por centenas de empresas e emergiu como uma importante fonte de capital empresarial. A natureza como investimento corporativo o distingue do modelo tradicional de “Venture Capital” (“VC”) que busca retorno financeiro puro. Uma empresa que deseja maximizar o valor para o acionista se concentra não apenas no retorno financeiro, mas também no valor estratégico que os investimentos com CVC podem agregar à empresa-mãe.

Exemplos conhecidos de empresas que usam a estratégia são:

– Apple: A empresa americana de tecnologia, com estimados 267,7 bilhões de dólares de receita anual, investiu, de 2019 para cá, em 12 empresas diversas, sendo um exemplo de aquisição deste ano de 2020 a “Xnora.AI”, empresa de inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT);

– Google LLC: Com estimados 160,7 bilhões de dólares de receita anual, a empresa investiu, de 2019 para cá, em 11 empresas diversas, sendo alguns exemplos de aquisições a californiana “FitBit”, em novembro de 2019, por 2,6 bilhões de dólares e a irlandesa “Pointy”, em janeiro de 2020, por 163 milhões de dólares.

No Brasil, empresas como Magazine Luiza, TOTVS, Embraer, Bradesco, BRF, Algar, Raízen, Vale, Votorantim, dentre outras, têm programas estruturados para o fomento de startups que tenham sinergia com os modelos de negócio ou desafios das empresas.

O papel estratégico dos fundos de CVC

Empiricamente, trazemos duas visões diferentes: por um lado, as empresas podem fazer investimentos via Corporate Venture com a intenção de “corrigir os pontos fracos” – ou seja, ​​se expor a novas tecnologias e recuperar sua vantagem competitiva de inovação. As companhias, neste caso, aprendem junto às startups, adquirindo práticas e informações, criando um legado de ativos e capital intelectual.

Por outro lado, as empresas podem também fazer investimentos via CVC para “desenvolver pontos fortes”, ou seja, usam suas informações vantajosas para identificar promessas de startups inovadoras. As novas tecnologias também complementam a inovação interna, fortalecendo seu poder de mercado. Algumas pesquisas mostram que empresas que têm Pesquisa e Desenvolvimento interno mais fortes estão mais dispostas a expandir seus limites porque são melhores em colher sinergias de inovação.

Crises, de forma geral, aceleram essa decisão de grandes empresas na busca de soluções inovadoras para manter a performance ou por sobrevivência.

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Uma visão não tão clássica para estudos das teses de investimento das empresas que adotam o CVC, argumenta que é provável que os principais aportes sejam feitos em companhias que inovam nas classes tecnológicas enfraquecidas das empresas-mãe. Para extrair essa informação, as startups que buscam esse capital das grandes corporações, podem, por exemplo, fazer uma comparação detalhada entre os portfólios de patentes das empresas-mãe e das soluções que pode oferecer para gerar valor ao investimento.

Outro aspecto importante a ser considerado por quem busca capital de CVC, é que estes “fundos” das grandes empresas não são limitados pela vida útil típica que pode ser observada em um fundo de Venture Capital tradicional, usualmente de 10 a 12 anos. Pelo contrário, eles parecem ter divisões temporárias com ciclos de vida mais curtos e não uniformes. A duração média do ciclo de vida do CVC é de cerca de quatro anos, porém, não há uniformidade neste dado.

O tempo de vida de um fundo de CVC está intimamente relacionado à dinâmica de inovação da empresa-mãe e à capacidade de recuperação desta empresa em relação às fraquezas internas da inovação. O poder de permanência e a decisão de rescisão não são explicados nem pelas ofertas públicas iniciais (IPO) nem pelas métricas de saída de aquisição que são usadas para julgar os fundos de Venture Capital tradicionais, orientados por retorno financeiro ou por mudanças na governança.

De forma geral, as empresas precisam se preparar para a chamada Integração Pós-Aquisição (“Post-Merger Integration” ou “PMI”). Isto porque a cultura empresarial, valores e diretrizes de negócio podem gerar um risco abissal para empresa-mãe e a companhia investida. Problemas de confidencialidade de informações, concorrência, aliciamento e até mesmo o estrangulamento ou limitação mortal da startup investida são alguns exemplos.

Assim, uma abordagem de tópicos de post-merger integration na fase de design jurídico e societário das operações são primordiais para o sucesso da relação de investimento da grande empresa em pequenas empresas de tecnologia.

Por fim, pode-se afirmar que os fundos de Corporate Venture Capital como divisões corporativas estratégicas de grandes empresas, podem ser essenciais, se corretamente utilizados. Eles podem ​​responder a choques negativos de inovação, corrigir fraquezas e recuperar performance, bem como no apoio às pequenas empresas que mais sofrem para a retomada em épocas turbulentas.

FONTE: startse.com