Conheça o hidrogel capaz de recuperar fraturas ósseas

Novidade pode chegar à prática clínica dentro de alguns anos, segundo pesquisadores; projeto envolve cientistas da Argentina, da Espanha e do Brasil

Imagine quebrar um braço ou uma perna e o tratamento envolver a aplicação de uma substância que estimula a regeneração do osso. Por mais que pareça futurista, essa proposta já está em desenvolvimento e é possível que esteja disponível para aplicação clínica nos próximos anos, de acordo com os pesquisadores à frente desse estudo – o grupo é formado por cientistas da Argentina, Espanha e Brasil.

Trata-se de um hidrogel derivado de proteínas naturais do corpo humano. Ele segue um processo de gelificação inverso – isso significa que é líquido a uma temperatura inferior a 4ºC, mas, à medida que aquece, adquire uma consistência gelatinosa (de forma oposta ao que ocorre com a gelatina, que é líquida quando está quente, mas endurece ao entrar em contato com o ambiente frio da geladeira).

 Quando essa substância é aplicada na fratura óssea, ela se adapta à área lesionada e começa a atuar. Nesse estudo, foi combinada a BMP-2 (proteína morfogenética tipo 2) de capacidade osteoindutiva, ou seja, que induz a proliferação de células envolvidas na formação do tecido ósseo, chamadas de osteoblastos. À medida que o osso vai se regenerando, o material que foi injetado na lesão vai se decompondo.

“Com o tempo, ele deve se degradar e permitir a formação do tecido ósseo, com sua matriz mineralizada”, afirma a dra. Sara Feldman, professora de medicina da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. A meta da equipe é permitir que, no futuro, os pacientes com fraturas ósseas ou com outras condições congênitas e/ou adquiridas que envolvam perda óssea possam ser tratados de forma menos invasiva, graças a essa terapia de reposição.

O brasileiro João Paulo Mardegan Issa, professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp), da USP, participou dos testes (realizados em coelhos), da análise dos resultados e da escrita do trabalho, que foi publicado na revista científica Tissue Engineering Part A. Segundo ele, existe a expectativa de que, no futuro, esse gel possa ser utilizado em várias áreas médicas, incluindo procedimentos odontológicos relacionados a reparação óssea – mas isso demandaria novos estudos.

Agora, os pesquisadores entraram numa nova etapa, na qual será testada uma nova versão desse hidrogel, com algumas pequenas modificações em relação à anterior, com o intuito de melhorar a formação de tecido similar ao osso. Ainda são necessários mais experimentos antes que o hidrogel possa ser finalmente testado em humanos. Mas, segundo Feldman e Issa, isso não deve demorar muito.

“A aplicação clínica deveria ocorre dentro de poucos anos, mas há regulamentações em cada um dos países participantes, tudo precisa ser analisado com muita cautela”, afirma a professora, ressaltando que os pesquisadores espanhóis estão responsáveis por essa parte do projeto. A parceria envolve, além da Universidade Nacional de Rosário e da Forp, a Universidade de Tucuman, Argentina, e o Instituto Bioforge, da Universidade de Valladolid, Espanha. Este tem como foco o desenvolvimento e a aplicação de materiais avançados e nanobiotecnologia em diversas áreas acadêmicas.

FONTE: ÉPOCA