Revolução Digital
“É uma evolução na maneira de fazer gestão”, afirma o diretor de operações corporativas Agenor Cunha Pavan. “Nossos gestores discutem os dados de maneira muito diferente e passamos a ter uma resposta muito mais rápida, além de ter um banco de dados com os resultados.” Nos primeiros quatro meses com 4G na lavoura, a média de colheita da usina passou de 948 toneladas para 1.000 toneladas por dia por máquina.
A expansão da internet nas zonas rurais, nos últimos anos, é citada como um dos principais motores para a chegada de novas tecnologias ao campo. Entre 2006 e 2017, o Censo Agropecuário registrou um aumento de quase 20 vezes no número de propriedades rurais com acesso à rede. A conexão, que antes alcançava 75 mil produtores, na última pesquisa atingiu 1,4 milhão de propriedades. Ainda é pouco: representa só 28% do total dos imóveis rurais, mas já é o suficiente para abrir o que a chefe da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Masruhá, chama de revolução digital. “Ela está acontecendo em vários setores da economia: na área da saúde, de cidades inteligentes, financeira. Na agricultura não poderia ser diferente”, diz.
A unidade dirigida por Masruhá é responsável por criar soluções de informática para o mundo rural. Cuidam, por exemplo, do Zoneamento Agrícola de Risco Climático, o Zarc, que produz milhares de informações anualmente sobre as janelas de plantio de cada cultura. Essa ferramenta já existia e agora está, também, em um aplicativo de celular – o Plantio Certo –, na palma da mão do agricultor. É um dos mais de 40 aplicativos gratuitos criados pela Embrapa. “Para aumentar a produtividade, com pouca expansão de área, conservando os recursos naturais para as gerações futuras, é preciso agregar novas tecnologias. Aumentar a produção de modo sustentável, do ponto de vista econômico, ambiental e social. ”, completa Masruhá.
Se na fazenda de cana a revolução está no acesso à internet, que facilitou a captação de milhares de dados, em uma produção de frutas a chave para um futuro mais eficiente pode estar, também, na nanotecnologia. Essa ciência, que lida com moléculas quase invisíveis, criou uma emulsão a partir de cera de carnaúba.
No Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio, da Embrapa, sediado em São Carlos (SP), a bióloga Marcela Miranda explica que, quando aplicada em frutas, essa película nano “cria um filme e consegue diminuir o oxigênio que entra e aprisionar o gás carbônico que sai”. Ao impedir a troca de gases, a tecnologia retarda o amadurecimento dos frutos. Pelos testes realizados em laboratório, a cera nano é mais eficiente que o produto convencional já usado comercialmente.
No mesmo laboratório, instituições de pesquisa de todo o Brasil se unem em torno de tecnologias para o agronegócio. Há pesquisas na área de veterinária, com o desenvolvimento de fibras que aceleram cicatrizações e, até mesmo, a criação de ossos impressos em 3D, que podem revolucionar o tratamento de animais.
O engenheiro e pesquisador em nanotecnologia José Manoel Marconcini acredita que, cada vez mais, o produtor rural vai ter diferentes ferramentas à disposição para aplicar no campo. “Quando a gente juntar nanotecnologia, biotecnologia, ciências da informação, internet das coisas e mais as ciências cognitivas, tudo isso junto vai construir um novo tipo de agricultura. O consumidor vai ter rastreabilidade e saber melhor o que está comendo.”
Um exemplo do sucesso do uso da tecnologia é a propriedade da família Tsuge, em São Gotardo (MG). Na década de 1970, quando o patriarca, Naohito Tsuge, chegou à região, a ciência buscava ferramentas para plantar no Cerrado, melhorar o solo e criar opções mais amplas para famílias que buscavam renda no campo. Hoje, pelas mãos de um dos filhos, Paulo Tsuge, a produção de abacates absorve novas técnicas em busca de maior produtividade, com eficiência no uso de recursos. “Eu acredito que vamos conseguir ter melhor produtividade e ficar menos vulneráveis às tantas variáveis que a gente tem hoje.”
Por meio de uma rede de internet privada, a empresa monitora de perto dados de irrigação do abacate, informações sobre o clima e até o manejo de pragas. Com um tablet em mão, os técnicos de campo vistoriam a lavoura em busca da broca-do-abacate, uma das principais pragas da cultura. Quando encontram, lançam o dado no pequeno computador, que é georreferenciado. O resultado é um mapa preciso de infestação que permite ao produtor ser preciso na reação. Os Tsuge reduziram o uso de agrotóxicos em 15% aplicando insumos pontualmente, além de adotarem ferramentas de controle biológico.
A produção está bem, diz a família. Investem em variedades de abacate para exportação e, aos poucos, deixaram todos os pés de café no passado. O produto que sai da fazenda é todo rastreado e conseguiu acesso a mercados exigentes, como o europeu. Além de comemorar os bons negócios, seu Naohito arrasta o sotaque japonês e acha graça comparando as mudanças que viu nas últimas décadas. “Quando chegamos aqui, telefone ainda precisava pedir pro central (sic) e central falava: ‘Quando conseguir ligação a gente chama’. Hoje, faz chamada de vídeo e recado vai por WhatsApp, a qualquer hora da noite.”
FONTE: GLOBO RURAL