Concorrência entre os bancos digitais fica mais acirrada

Concorrência entre os bancos digitais fica mais acirrada
Nubank viu a demanda disparar e agregou 10 milhões de usuários a sua base este ano
Por Danylo Martins — Para o Valor, de São Paulo

O avanço dos bancos digitais se acelerou na pandemia. Levantamento recente feito pela S&P Global Market Intelligence, a partir de dados públicos, mostra que os principais ‘neobanks’ viram o número de clientes subir entre 40% e 50% no primeiro semestre. Seis bancos digitais ouvidos pelo Valor, juntos, somam cerca de 52 milhões de clientes, sendo 30 milhões do Nubank, que adicionou 10 milhões à base somente este ano. Entre alguns dos principais bancos digitais, é consenso de que ter uma conta gratuita para transações financeiras básicas deixou de ser diferencial. A concorrência está mais acirrada, e o movimento tem sido de adicionar novos produtos e serviços financeiros para rentabilizar a base de usuários. Há, ainda, instituições que apostam no conceito de marketplace.

Um dos ‘neobanks’ mais valiosos do mundo, o Nubank começou há sete anos com um cartão de crédito, lançou conta digital para pessoa física e PJ, empréstimo pessoal e agora também quer disputar uma fatia no mercado de investimentos. Em setembro, anunciou compra da Easynvest, operação que ainda depende de aprovação do Banco Central e do Cade. “Estamos construindo algo para o longo prazo. O objetivo é que o cliente nos ame fanaticamente”, observa Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank. A fintech viu a demanda pelo seu serviço disparar no período de distanciamento social, puxado pelo processo de digitalização e pelas pessoas que optaram por receber o auxílio emergencial na conta digital do Nubank. Para dar conta da demanda, foi preciso reforçar a equipe. Desde março, a empresa contratou mais de 200 funcionários e tem outra 350 posições em aberto, com previsão de fechá-las até o fim do ano. O Inter começou o ano com cerca de 4 milhões de clientes e recentemente chegou a 7,2 milhões. “Devemos encerrar o ano com 8,5 milhões”, aponta Priscila Salles, Chief Marketing Officer (CMO) do Inter. Uma das principais estratégias é a construção de uma plataforma com produtos financeiros e não financeiros, num modelo de marketplace. No mês passado, a instituição fez um follow-on de R$ 1,2 bilhão, que permitirá lançar novos produtos e serviços e fazer aquisições estratégicas. “Estamos nos tornando um ‘super app’, e com essa coluna vertebral bancária que nos dá folego para trabalhar com recorrência”, afirma Priscila. Ainda este mês, o Inter prevê colocar no ar uma nova versão da plataforma aberta de investimentos. A Neon Pagamentos, com 9,6 milhões de contas abertas, também vem ampliando a oferta de produtos. No início do mês, lançou uma conta digital para microempreendedor individual (MEI), por meio da MEI Fácil, fintech comprada no ano passado. Em julho, a empresa fechou a compra da Magliano, e usará a licença da mais antiga corretora de valores para ingressar de vez no mercado de investimentos. “O objetivo é ajudar as pessoas a ver valor fora dos bancões”, diz Daniel Mazini, Chief Product Officer (CPO) da Neon. Nos próximos meses, a fintech prevê lançar cartão de crédito, maquininha e outros serviços para MEI. Com pouco mais de um ano de operação, o C6 Bank bateu 3 milhões de clientes. “Nosso posicionamento é ser um banco completo”, destaca Maxnaun Gutierrez, head de produtos e pessoa física do C6 Bank. O ‘neobank’ aposta em diferenciais como programa de fidelidade gratuito, marketplace com mais de 40 mil produtos, plataforma aberta de investimentos e conta internacional. Para o início de 2021, a instituição prevê uma plataforma de investimentos global. Neste ano, também fechou uma parceria com a TIM, que em duas semanas resultou na abertura de 200 mil novas contas. O BS2 quer ser visto como ‘hub de soluções financeiras’. A instituição começa a atuar com uma plataforma de ‘banking as a service’. “Se conseguimos servir bem o cliente, podemos oferecer nosso core bancário para outras empresas. Já temos conversas”, diz Juliana Pentagna Guimarães, vice-presidente do BS2. Com 600 mil contas abertas, o banco vai começar a ofertar crédito para empresas ainda este ano. No digio, banco digital que tem Banco do Brasil e Bradesco como acionistas, superou 1,6 milhão de clientes. Com cerca de 900 mil solicitações de cartões por mês, a meta é atrair 5 milhões de clientes e originar R$ 1 bilhão em empréstimo pessoal por ano até 2023. “A gente tenta firmar a bandeira de ‘bantech’. Temos solidez de banco e agilidade de fintech”, diz Ana Paula Bellino, superintendente de marketing, produtos e UX do digio.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2020/10/23/concorrencia-entre-os-bancos-digitais-fica-mais-acirrada.ghtml