Comsentimento atrai fundo japonês Incubate para triagem clínica

Startup usa inteligência artificial para encontrar pacientes para pesquisas em oncologia.

Lucas Oliveira e Guilherme Sakajiri, cofundadores da healthtech Comsentimento: dados para avanço médico — Foto: Divulgação

O japonês Incubate Fund, que estruturou um veículo no ano passado para começar a investir no Brasil, acaba de fechar a terceira healthtech de seu portfólio no país. Depois de fazer aportes early stage na Dr.Cash e na Medictalks, o fundo liderou a rodada pré-seed de R$ 1,5 milhão na Comsentimento.

Se o nome lembra app de paquera, a causa é nobre: a startup usa inteligência artificial para analisar dados de prontuários médicos e auxiliar hospitais, clínicas e farmacêuticas no recrutamento de pacientes para pesquisas clínicas, com foco na área oncológica. Inspirada em modelos como do unicórnio americano Reufy, a especialização da Comsentimento foi definida depois de ingressar no programa de aceleração Arena, do Hospital de Barretos.

“É uma doença que atinge uma a cada seis pessoas, e eu já perdi pessoas próximas para o câncer. Os tratamentos avançaram, mas ainda causam um dano muito grande”, diz Guilherme Sakajiri, fundador e CEO, ao Pipeline. “Em Barretos, vimos que uma das grandes demandas era o recrutamento para pesquisas, uma tese que a gente já avaliava e acabou se firmando como proposta de valor.”

Engenheiro naval de formação, Sakajiri já tinha experiência prévia com análise de dados no setor de saúde na Optum (grupo United Health) e na Semantix. Avaliou que uma forma de se aproximar dos potenciais clientes era com a oferta de serviço de NLP, que transforma a linguagem humana em dados e algoritmos. “Tinha assistido a um curso do Lucas Oliveira sobre o assunto num congresso de saúde e sabia que tinha encontrado o cofounder”, conta. Oliveira topou a empreitada.

O hospital no interior paulista foi o primeiro cliente oficial, com um contrato focado em pesquisa clínica de câncer de próstata – o case, já apresentado em congressos, aponta aumento de 130% no número de pacientes elegíveis. A healthtech também fechou com o Hospital AC Camargo, outra referência na área, e como Grupo Carinho, rede de clínica no Vale do Paraíba.

“O Carinho, por exemplo, não faz pesquisa mas vê essa área como proposta para seus pacientes, um modelo que nos Estados Unidos é mais comum, chamada de clinical research as a care option”, diz o empreendedor. “É tratar a pesquisa clínica como via de cuidado, já que alguns cânceres não têm medicamento já aprovado e a alternativa é participar na fase experimental.”

Com a crise de liquidez, os fundos de venture capital passaram a perguntar mais sobre consumo de caixa do que taxa de crescimento. Mas, na Comsentimento, breakeven nem entra na pauta desta e da próxima rodada. “Pode parecer na contramão do que mercado tem pregado. A gente disciplina nos gastos, mas para ter posição dominante em rede de dados precisamos primeiro construir essa base com um volume grande de informações”, justifica.

O capital é para buscar mais cliente e entrar em novas áreas de especialização. Ainda assim, o empreendedor vê um timing favorável para captação no setor e já está em conversa para a rodada seed no primeiro trimestre. No Brasil, há um projeto de lei que pode ajudar a destravar o mercado de pesquisas clínicas – que busca reduzir o prazo de aprovações desses processos e a obrigatoriedade de custeio de medicamentos após a conclusão da pesquisa – e, globalmente, há uma pressão para maior diversidade e representatividade nos grupos de pacientes participantes, ainda muito focada em grupos étnicos específicos.

A captação fechada agora é mútuo conversível em ações na rodada série A. A Incubate colocou R$ 1 milhão e empreendedores à frente de outros negócios complementaram. A startup já tinha recebido investimento anjo da Aimorés, um venture capital que também entrou na rodada da Medictalks e ajudou a fazer a ponte entre as partes.

A Incubate é a maior gestora focada em seed money no Japão e já injetou capital em mais de 300 startups, em rodadas de US$ 6 milhões em média. No Brasil, a operação é comandada por Mauricio Omura, um brasileiro criado na Ásia.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/comsentimento-atrai-fundo-japones-incubate-para-triagem-clinica.ghtml