“A competição deu lugar a colaboração”, diz Head de Inovação da Visa

“Davi e Golias da Era Moderna”: talvez esse fosse um mote plausível, alguns anos atrás, para descrever o então embrionário embate entre fintechs e grandes bancos. Fato é que chegamos a 2018, o ecossistema amadureceu e essa relação também. É presunçoso ou aterrorizante demais acreditar que modelos tão complementares continuam se digladiando para ver quem ficará com a atração principal. A competição deu lugar a colaboração. Para reforçar essa linha de raciocínio, ninguém melhor que Erico Fileno, Head de Inovação da Visa.

“Nossa aproximação com o ecossistema tem como único objetivo colaborar. Já passou o tempo das ameaças, bilateral, ou é um ou é outro. O mundo e, sobretudo a Visa, entendeu que a grande ideia por detrás da Nova Economia é colaborar. Temos muito o que aprender ainda: como uma fintech consegue rapidamente identificar um problema, gerar uma solução e escalar de forma exponencial? Por outro lado, como uma startup se conecta com uma empresa estabelecida como a Visa, com toda sua rede de contatos, know-how e experiência, para se plugar em um espaço que, continuamente, estamos construindo ao longo dos últimos 60 anos?”.

Inicialmente, a forma pela qual a Visa decidiu se conectar foi através do programa global Visa Everywhere Initiative. Entendeu então existirem contextos específicos ao redor do mundo, como aqui no Brasil, e lançou iniciativas que fossem mais assertivas localmente. O ecossistema de startups do Vale do Silício é diferente do de Israel e os dois são mais diferentes ainda do brasileiro.

“Entendemos no Brasil que o suporte precisava ir além do investimento em startups. Tínhamos que aproximar todo o ecossistema: investidores, empresas, mentores. A Kyvo, nossa parceira para o programa, não só ajuda na seleção das startups, mas também na montagem do programa, consultoria de desenvolvimento de negócio e serviço. Entendemos também que a mudança precisa ser interna. Não adianta falar de inovação, se só aplicamos para fora. Para isso, nessa nova edição, teremos um treinamento de mentoria para funcionários da Visa, com o suporte de pessoas que já trabalham com desenvolvimento pessoal. A ideia é nos prepararmos melhor para conseguir capacitar as startups e todos os agentes do ecossistema”, continua.

Em 2018, a empresa terá capacidade de acelerar até 30 dos mais inovadores projetos de fintechs do país. O projeto – mais uma vez realizado em parceria com a consultoria Kyvo, representante do centro de inovação norte-americano GSV Labs no Brasil – faz parte de uma iniciativa global da Visa para desenvolver tecnologia no setor financeiro.

O programa terá duas edições ao longo deste ano, sempre com foco em dois perfis de startups: Growth e Start. No Growth, o objetivo é acelerar as startups que já estão estabelecidas no mercado, enquanto no Start a busca é por startups ainda em estágio embrionário. No primeiro semestre, as inscrições para o Growth e o Start estão abertas até 21 de março e 11 de abril, respectivamente. E a partir de maio, as selecionadas passarão por um processo de imersão, bootcamp e elaboração de estratégias.  Serão três primeiros meses de aceleração, e mais três de incubação. As startups poderão viver uma rotina intensa de mentoria, num espaço de coworking em São Paulo coordenado pela Kyvo.

“As startups da categoria Start são aquelas com menos de um ano de vida, que estão construindo seu MVP, estão tateando ainda esse universo digital, validando os primeiros testes. As startups Growth são as que possuem seu produto lançado, rodando. Não necessariamente precisa estar faturando, mas importante ela ter seu produto rodando, seus primeiros clientes. O foco principal do programa são fintechs, mas não estamos restringindo exclusivamente para fintechs. Ano passado dizíamos estar atrás apenas de fintechs, mas achamos startups que trabalhavam com social score, startups que trabalhavam com autenticação facial. Ou seja, não estamos falando necessariamente de tecnologias para finanças, mas sim daquelas que podem ser aplicadas dentro do contexto que a Visa atua”.

As startups receberão investimentos, através de serviços e consultorias, de R$ 78 mil para startups do Start, e R$ 206 mil para startups do Growth – este último conta com um mês de imersão no Vale do Silício. Importante lembrar que a Visa não pedirá por participação acionária às startups interessadas.

De uma edição para a outra, quais foram os aprendizados? Questionamos Érico:

“Adequar o tempo de cada ciclo. Na edição passada, as startups passavam por um ciclo de seis meses, agora já são quatro. Conseguimos deixar mais intenso o período de aceleração, já que existe a relação pós aceleração, para se conectar com a Visa. Elas não necessariamente precisariam estar em um formato de aceleração, já que o contato comercial continua. As startups que foram aceleradas no ano passado estão desenvolvendo poc’s (Proof of Concept) com a gente e com clientes da Visa”.

Ao final do programa, todas as participantes terão a oportunidade de apresentar seus resultados para um comitê formado pela Visa, Kyvo, GSVlabs e nomes importantes do mercado em São Paulo.

Por fim, o que não poderia faltar em um pitch para a Visa?

“O que mais valorizamos é ter uma dor muito bem definida. O cara pé no chão, que tentou, sabe o que não deu certo, propõe melhorar isso. Na edição passada, vimos muita gente com uma belíssima eloquência, mas que no fim não entendíamos muito bem que dor que ela tentava cobrir. Se a pessoa não tem muito bem definido o que ela quer resolver, não dá certo para nós. Nosso programa é intenso e acreditamos que não seja o momento certo para uma startup achar um problema”.

FONTE:  StartSe