Como a terceira onda da revolução financeira vai mudar a sua vida

Estamos presenciando o nascimento de uma nova indústria do dinheiro. O novo banco, que sairá deste movimento, será muito diferente daquele que conhecemos

A indústria financeira iniciou uma transformação importante na década de 70, com a disseminação das ATMs, os caixas automáticos. Ali começava uma nova era na indústria bancária, com impactos diretos no dia a dia do consumidor. Esta primeira onda da revolução financeira foi ditada pelos investimentos maciços em tecnologia. No final da década de 90, Peter Drucker já apontava o setor financeiro como o que mais investia em tecnologia globalmente.

A tecnologia proporcionou uma grande transformação na indústria, tanto internamente, nos bancos, quanto no uso de seus produtos e serviços pelos clientes. Na década seguinte, o internet banking colocou as instituições financeiras na residência e no escritório das pessoas, fazendo-as economizar um tempo valioso no seu cotidiano. A tecnologia trouxe também mais segurança às operações financeiras, a despeito da crescente quantidade de fraudes, no mundo todo.

Com o passar do tempo, a invasão da tecnologia na vida das pessoas gerou então uma nova transformação, desta vez no comportamento do consumidor. Agilidade e conveniência passaram a ser exigidas pelos clientes, em todos os pontos de contato com a marca. Chegávamos então à segunda onda da revolução financeira: a do consumidor. O novo e empoderado usuário ajudou na proliferação das fintechs, que trouxeram ao mercado financeiro experiências de uso que antes só eram encontradas em outros segmentos, como e-commerce e entretenimento. Aplicativos facilitaram a vida das pessoas, o uso intensivo de dados proporcionou ofertas mais personalizadas e, ao colocar o consumidor no centro, as organizações perceberam que as fronteiras entre os setores haviam acabado. Varejistas e indústrias entraram na prestação de serviços financeiros, numa seara antes restrita aos bancos.

Agora, vivemos o início da terceira onda da revolução financeira. Se, na primeira, quem direcionou os acontecimentos foi a tecnologia; e, na segunda, foi o consumidor, agora é a vez da regulamentação entrar em campo e mudar o jogo. Três regulamentações estão varrendo o mundo, um país após o outro: LGPD, open banking e pagamentos instantâneos. Esta tríade abrange as transações mais frequentes num ambiente bancário (pagamentos) e a propriedade e o uso de um dos maiores ativos do segmento financeiro (os dados dos clientes).

A LGPD, que é a versão brasileira de uma lei que já vigora em cerca de 120 países, vai mudar a forma como as empresas usam os dados dos seus usuários, impondo regras e penalidades significativas caso as normas não sejam cumpridas. O objetivo é dar transparência ao consumidor sobre que dados estão sendo coletados e como eles estão sendo usados.

A regulamentação brasileira de open banking está em linha com o que já acontece em quase 30 países no mundo. Ela confere a propriedade dos dados aos clientes e permite que eles autorizem o seu compartilhamento com outras instituições financeiras. O impacto será a oferta de produtos mais personalizados, o lançamento de novos serviços e a criação de novos modelos de negócios. Haverá um aumento na competitividade da indústria e isso poderá se refletir em compressão de margens.

Já a terceira regulamentação, de pagamentos instantâneos, recebeu o nome de PIX no Brasil. Já implementada em 35 países, vai muito além de pagamentos mais rápidos, baratos e disponíveis 24/7. O PIX tem o potencial de redesenhar a cadeia de valor da indústria. Vai trazer novos participantes, como varejistas e prestadores de serviços, e permitir que novos vínculos sejam criados com os clientes.

O que estamos presenciando, portanto, é o nascimento de uma nova indústria financeira. O novo banco, que sairá deste movimento, será um banco muito diferente daquele que conhecemos. Será um banco, ao mesmo tempo, mais presente e menos presente na vida das pessoas. Mais presente, porque poderá estar em todos os momentos desse cotidiano; e menos presente, porque sua marca não vai aparecer em todos esses momentos. Em algumas operações ele será infraestrutura, em outras será a interface com o usuário. Em alguns momentos, ele fornecerá sua licença e seu balanço a terceiros, que prestarão serviços ao consumidor final; em outros, ele será o aplicativo a ser usado. Esse novo modelo de banco exigirá das instituições financeiras um mindset de parcerias, uma arquitetura de tecnologia flexível e capacidade de adaptar seus modelos de negócios de forma ágil.

Essa terceira onda da revolução financeira vai trazer uma nova configuração para a indústria, onde bancos, fintechs, varejistas, fabricantes de produtos, empresas de tecnologia… Todos serão prestadores de serviços financeiros. Bem-vindo a essa nova era.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/colunas/Ruptura/noticia/2020/09/como-terceira-onda-da-revolucao-financeira-vai-mudar-sua-vida.html