Como (re)alimentar a sua sede de aprender

O segredo para se manter em alta no mercado hoje é ter uma postura proativa em relação ao aprendizado ao longo da vida – Kelly Palmer, autora de The Expertise Economy, conta como turbinar sua sede de aprender

Este artigo foi escrito por Kelly Palmer e cedido à StartSe pela Degreed. Ela é líder da área de aprendizado da Degreed, edtech fundada em 2012, em São Francisco (EUA), por David Blake, David Wiley, e Eric Sharp

 Pense em todo o tempo que você já passou, em qualquer trabalho, desenvolvendo novas habilidades. Algo incluía aprender como aprender? Agora pense também nos dias de escola e faça a mesma pergunta.

Surpreendentemente, apesar da parte considerável de nossas vidas que passamos em ambientes de aprendizado, muitos de nós nunca aprendemos o que a ciência mostra sobre as melhores maneiras de aprender.

Isso representa um enorme problema para as empresas hoje. Nessa Era que eu e meu colega David Blake – escrevi com ele  The Expertise Economy, publicado há um ano – chamamos de Economia da Expertise, caracterizada, entre outras coisas, pela força de trabalho ágil, que é o recurso mais importante que qualquer empresa possui.

Precisamos de pessoas constantemente motivadas e curiosas para aprender novas habilidades, procurar oportunidades e colocar os recursos de aprendizado da melhor maneira possível.

Para conseguir tudo isso, as empresas precisam de toda a sua equipe – desde o nível operacional até a gerência média e nível executivo, para adotar métodos avançados e comprovados de como aprender.

Isso contraria os métodos tradicionais. “O sistema educacional incentiva as pessoas a dominar a realização de testes, não a aprender”, diz David Blake.

Esse tipo de aprendizado não se mantém e não leva ao desenvolvimento de habilidades concretas para que as pessoas possam aplicar no futuro.

Desmistificando a aprendizagem

A solução desse problema para as empresas de hoje, começa desvendando alguns mitos:

Mito 1: As pessoas usam apenas 10% de seus cérebros.

Isso é tão errado que é quase ridículo, disse um neurologista da Faculdade de Medicina Johns Hopkins à Scientific American. De fato, você usa quase a totalidade do seu cérebro. Portanto, não, não há maneira mágica de desbloquear uma enorme quantidade de matéria cerebral e de repente se tornar um gênio.

Mito 2: As pessoas utilizam ou o lado direito do cérebro ou o lado esquerdo.

As pessoas utilizam os dois hemisférios do cérebro para pensar. Esse “neuromito” generalizado levou a debatermos se certos métodos de ensino favorecem as pessoas que são lado direito ou lado esquerdo.

Mas foi desmascarado. De fato, as partes esquerda e direita do cérebro não funcionam totalmente separadas. Como um estudo colocou, “os dois hemisférios do cérebro trabalham juntos em todas as tarefas cognitivas”.

Mito 3: As pessoas têm um canal ideal pelo qual aprendem.

Talvez alguém já lhe classificou como um “aprendiz visual” ou “aprendiz auditivo”. Mas, na verdade, as pessoas usam para aprender todos os canais que podem acessar.

É como a Associação de Ciências Psicológicas colocou em uma manchete: “Estilos de aprendizagem desmascarados: Não há evidências que apoiam a aprendizagem auditiva e visual, dizem os psicólogos”.

Mito 4: Existem certas janelas de aprendizado e, quando fecham, elas não têm mais chance de serem reabertas.

Essa crença ajuda a alimentar o envelhecimento em vários setores, incluindo a tecnologia. A realidade é que as pessoas podem desenvolver novas habilidades em qualquer idade. A neuroplasticidade do cérebro nos permite aprender, refinar ou adicionar novos recursos por toda a vida.

Agora, com todos esses mitos removidos de nossa concepção do que é aprender, eis o melhor método para ajudar os funcionários a aprender:

O ciclo do aprendizado

O “ciclo de aprendizado” é um processo de quatro estágios que ajuda as pessoas a desenvolver habilidades, aprimorar essas habilidades e se tornarem especialistas.

Ele contém quatro componentes:

  1. Conhecimento
  2. Prática
  3. Feedback
  4. Reflexão

Primeiro, o aluno gasta tempo com o conteúdo que ensina a habilidade. Podem ser livros, artigos, vídeos do YouTube, Ted Talks, podcasts, audiolivros, cursos on-line ou outros materiais.

Em seguida, o aluno pratica a habilidade. Muitas pessoas pulam esta etapa, o que é um grande erro. Para que você transforme em habilidade algo que leu ou ouviu – ou seja, para que passe a fazer – a prática é essencial.

Depois, o profissional procura feedback de pessoas confiáveis que tenham experiência nessa habilidade. Isso pode vir de colegas, mentores, ou outras fontes. O feedback deve ser atencioso e construtivo.

Então, cabe ao profissional dedicar algum tempo refletindo sobre esse feedback para melhorar sua habilidade. Mais uma vez, muitas pessoas pulam esta etapa. Péssima ideia.

Pesquisas mostram que o tempo gasto em reflexão aumenta o desempenho e os resultados. Um estudo constatou que os funcionários que passavam 15 minutos por dia refletindo sobre as lições aprendidas tiveram um desempenho 23% melhor após 10 dias do que seus colegas.

O processo então se repete: O conteúdo pode ajudar o aluno a encontrar os caminhos para melhorar, e assim as outras etapas são realizadas.

Motivação é a chave para a aprendizagem

Para envolver os trabalhadores na paixão pelo aprendizado, as empresas também precisam transferir para eles o poder de decisão.

Antigamente, o aprendizado era definido de cima para baixo, com executivos e gerentes dizendo às pessoas o que elas deveriam aprender. Agora, fora da curva, as empresas estão descobrindo que se saem melhor quando permitem que os funcionários decidam o que querem aprender.

Os colaboradores naturalmente se interessam pelas habilidades que os ajudarão a melhorar suas carreiras; portanto, é importante que as empresas saibam onde estão as lacunas de habilidades da organização e que tipos de habilidades estão procurando.

Mas quando as pessoas têm liberdade, recursos e tempo para escolher o que mais as motiva, ficam mais engajadas e comprometidas com o aprendizado. Eles adquirem habilidades mais rapidamente.

Para criar a força de trabalho do futuro e competir na economia global, as empresas de hoje precisam de culturas de aprendizado contínuo. O aprendizado deve fazer parte do nosso trabalho diário. Portanto, é hora de repensar o que pode ser o aprendizado – e abraçar o que sabemos que funciona.

FONTE: STARTSE