Como a Inteligência Artificial planeja se tornar íntima de nossas rotinas

Há que se valorizar a solidão de tempos em tempos. Afinal, é preciso de certa introspecção para aprender certas coisas e refletir sobre outras. Pesquisas científicas, inclusive, buscam comprovar os benefícios do isolamento social, praticado com moderação, claro. Mas em tempos de tantas telas, redes sociais, podcasts, vídeos no YouTube, streaming e aplicativos, estar em silêncio soa quase como um desconforto. Acostumamos a estar no ruído.

E, bem, se depender de algumas grandes empresas de tecnologia e startups, a solidão pode se tornar cada vez mais rara. Durante a CES 2018, feira internacional de tecnologia que aconteceu no início de janeiro, em Las Vegas, um dos principais destaques não era nem palpável, mas era quase onipresente.

– Hey Google, acenda as luzes da garagem 
– Hey Bixby, mostre minha agenda para a segunda-feira. 
– Alexa, dê descarga na privada. 
– Sanbot, vamos dançar? 
Dispositivos inteligentes ativados por voz e robôs habilitados por inteligência artificial estavam por todos os lados da CES. Um deles me acompanhou com grandes olhos prostrados em uma tela touchscreen. Para onde eu caminhava, ele me seguia. Fale em solidão quando estiver com robôs da Softbank, por exemplo, aquele que até celebra funerais no Japão. O Aibo, cachorrinho robótico que a Sony apresentou no evento, sabia latir, fazer alguns truques e fitava durante muito tempo seus espectadores para que seus algoritmos de inteligência artificial pudessem reconhecê-los.
Google Assistant, Alexa (Amazon), Bixby (Samsung), Siri (Apple) e Cortana (Microsoft) são os exemplos, talvez, mais conhecidos do grande público para interfaces de conversação. Mas outras empresas, como a SapientX, também desenvolvem tecnologia para a área. A startup americana diz que seu sistema conversacional de IA, que começou a ser desenvolvido em 2003 para a NSA (Agência Nacional de Segurança Americana), é otimizado para conversas naturais e que consegue ser superior a Siri e Alexa. Bem, isso se você falar em inglês com esses sistemas.
Se há sete anos apareciam os primeiros smartphones com recursos de assistente por voz no mercado, ficou claro durante a CES 2018 que a plataforma de conversação sustentada por IA é, agora, a grande tendência de tecnologia e ela evoluirá muito nos próximos anos. É ela quem conversará com você, com as coisas inteligentes na sua casa – geladeiras, TVs, microondas, aspiradores, painéis dos carros e até mesmo espelhos para o banheiro. Todos esses produtos já escutavam e falavam durante a feira. Mas o quão inteligente essas assistentes já se encontram? Tais plataformas e seus kits de desenvolvimento abertos para desenvolvedores têm dado efeito, visto o ecossistema de parceiros encontrado na CES. Google e Amazon disputam a linha de frente para quem irá dominar o futuro das casas conectadas. Mas há certas barreiras a serem endereçadas nos próximos anos.
Por uma IA que tome a iniciativa 
Nos próximos anos, a IA se integrará mais e mais as nossas vidas, o que pode se tornar algo incômodo do ponto de vista da privacidade e segurança de dados. Mas, fato é que a medida que esses dispositivos ganham nossas rotinas e espaços físicos, a tecnologia irá aprender mais sobre nós. Algo essencial para a evolução da própria inteligência artificial.
Em um dos painéis da CES, especialistas que trabalham na área dos assistentes digitais da Microsoft, Amazon e IBM, discutiram a ascensão das máquinas e o futuro da IA.
Atualmente a maioria das interações com a IA são iniciadas por nós, usuários. Você pode perguntar e dar comandos a assistente do Google, mas não espere – pelo menos por enquanto – que ela inicie um diálogo sem antes você soletrar o comando “OK, Google”. Para conversas existencialistas, você ainda precisa recorrer a pessoas de carne e osso. O mesmo acontece com as outras assistentes.
Segundo Cameron Clayton, gerente geral da plataforma de IoT e conteúdo Watson da IBM, a companhia trabalha para entregar uma situação reversa aos seus clientes. No caso, uma experiência de análise iniciada pelo sistema de computação cognitiva Watson. Assim, ele irá saber e prever quando você precisa de algo e falará ou fornecerá dados ou recomendações para uma pergunta. “Estamos ainda nos estágios iniciais”, informou.
Contexto inteligente 
“A ideia de que um software começará a aprender sobre você, ao invés de você ter de aprender como o software funciona, é realmente poderosa”, disse Andrew Shuman, VP corporativo para a Cortana, da Microsoft.
Isso significa que a IA irá conseguir compreender as dimensões do contexto do usuário. Exemplo: quem são as pessoas que estão em um cômodo, quais são suas expressões ou gestos e a interações com outros? Esse tipo de análise já é usado por alguns robôs domésticos e industriais, que contam com câmeras e sensores para seus olhos artificiais. A expectativa, segundo os especialistas, é que esse tipo de tecnologia se popularize no mercado, seja ele destinado ao consumidor final ou ao universo corporativo.
A ideia é que a inteligência artificial e diferentes plataformas conectadas saibam mais sobre você e suas nuances do que você mesmo ou seus amigos, algo que, convenhamos, já é feito pelas redes sociais e seus algoritmos com boa dose de intimidade. Shuman vislumbra um cenário onde todas as salas, eventualmente, possuam um dispositivo para o qual as pessoas esperam iniciar interações por voz, da mesma forma que hoje crianças esperam que todas as telas sejam touchscreen.
Além das assistentes de voz 
No final das contas, a grande estrela por trás dessas assistentes ativadas por voz é a tecnologia que a sustenta – a inteligência artificial.
Praticamente todos os serviços e produtos exibidos aos 180 mil visitantes da CES 2018 tinham um recurso de inteligência artificial. Empresas se aproveitaram disso para fazer a devida propaganda. A inteligência artificial, que é a capacidade de sistemas aprenderem automaticamente com dados fornecidos, consegue reconhecer objetos em uma foto, analisar o discurso humano ou coisas simples como sugerir uma resposta automática em um e-mail.
Para Al Lindsay, VP para a divisão da Alexa, da Amazon, as assistentes de hoje estão em sua infância: “é como se elas tivessem dois anos de idade, na verdade. E algo que levou 70 anos para construir”. “Você possui interações curtas, não consegue conduzir uma conversa sobre tópicos sociais ou o que está acontecendo no noticiário com sua assistente. Daqui cinco anos, essa assistente de dois anos terá sete anos?”, questiona para depois responder: “talvez, mas provavelmente não”.
Mas a medida que empresas conseguem sofisticar tal inteligência artificial nessa trama aparentemente infinita que é a Internet das Coisas, ela deve se tornar o tipo de recurso que pautará a decisão de compra de muitos clientes. É bem possível que, daqui uns anos, na hora de você avaliar a compra do seu próximo smartphone, você considere a qualidade da câmera, do processador, o design e também o quanto a sua interface de voz é realmente inteligente e integrada com todo um ecossistema de coisas conectadas.
FONTE: IDGNOW!