Como a inteligência artificial generativa vai transformar sua empresa em 2023

Aqueles capazes de entender onde, como e quando empregar a tecnologia do ChatGPT serão os vencedores desta corrida; os outros estão fadados ao esquecimento.

Os sistemas de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, vão alterar radicalmente as maneiras de trabalhar — Foto: Getty Images

Este artigo foi parcialmente escrito em colaboração com o ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial generativa desenvolvido pela OpenAI. E o que isso significa? Há alguns anos venho acompanhando a evolução das aplicações da inteligência artificial, inclusive como cofundador do Instituto Brasileiro de Ciência de Dados. Há pouco menos de dois meses, comecei a testar o ChatGPT em contextos reais de negócio.

Nenhuma tecnologia lançada desde o começo da internet comercial possui potencial tão transformador, capaz de desestabilizar a competitividade entre as empresas, o equilíbrio do mercado de trabalho e a produtividade individual. A inteligência artificial generativa (IAG) é uma subárea da ciência de dados focada na criação de sistemas que podem gerar conteúdo de forma autônoma. Esses sistemas são capazes de aprender a partir de exemplos e gerar novo conteúdo que se assemelha ao que foi apresentado.

Recentemente, a fronteira deste campo do conhecimento foi rompida pelo lançamento de dezenas de ferramentas baseadas no ChatGPT (que acaba de receber um investimento bilionário da Microsoft), no Dall-E e no Midjourney (esses últimos voltados para a criação de imagens). A adoção tem sido explosiva, e desenvolvedores autônomos já começaram a criar aplicações focadas no universo do trabalho. Aproveito a oportunidade para analisar o impacto dessa tecnologia nas empresas brasileiras.

Como a IAG vai afetar a transformação digital e cultural das empresas?

Inicialmente, o foco está na automação de tarefas repetitivas e na melhoria da eficiência e precisão das decisões. Por exemplo, um sistema de IAG pode ser treinado para gerar relatórios financeiros ou de vendas, o que pode economizar um tempo estupendo dos colaboradores. Além disso, os sistemas podem ser usados para analisar grandes volumes de dados e identificar padrões ou tendências para suportar tomadas de decisão mais assertivas.

Uma forma menos trivial de aplicação da IAG em organizações de todos os tamanhos é ajudando a desenvolver novos modelos de negócios. A tecnologia pode ser usada para criar produtos ou serviços ao ser submetida a seções de brainstorm, por exemplo. A partir das sugestões dos colaboradores, o sistema pode aprofundar e refinar ideias existentes, cruzar tendências em setores, ou mesmo criar soluções de hiper personalização. Pode também ser usado para gerar conteúdo criativo, como música, arte e texto, o que pode ser revolucionário para as áreas de marketing e vendas.

Pontos para começar a utilizar IAG na sua companhia

Adotar a inteligência artificial generativa como ferramenta de transformação organizacional requer uma mudança cultural significativa. É preciso aceitar novas formas de trabalhar. Se a IAG for usada para automatizar tarefas repetitivas, por exemplo, isso exigirá pessoas capazes de, sistematicamente, fazer testes em pequena escala, dialogar sobre os resultados de forma crítica e rever processos em toda a cadeia de operações. Isso pode ser desafiador, sobretudo em meio à implementação ainda pouco madura de sistemas híbridos e remotos de trabalho, do desenvolvimento de culturas ágeis e da transformação digital mais ampla que está em curso na grande maioria das corporações brasileiras.

Outra mudança cultural importante é a criação de equipes multidisciplinares que possam colaborar para aproveitar ao máximo as vantagens da IAG. Isso inclui reunir no mesmo time especialistas em tecnologia, negócios e criatividade para trabalhar em projetos de inteligência artificial. Estamos ainda na infância da IAG, uma tecnologia em constante evolução que irá requerer das empresas atenção contínua.

Por fim, a IAG exige que as empresas tenham uma visão de longo prazo e sejam capazes de planejar e investir no futuro. Será preciso investir em infraestrutura e tecnologia de ponta, bem como em recursos humanos e capacitação. Claro que os resultados de curto prazo por automação existem, mas eles são pequenos se comparados às possibilidades de disrupção ao longo dos próximos cinco anos.

Já vale a pena usar a IAG no estado de maturidade atual?

A resposta simples é sim. Após poucas horas de experimentação, qualquer analista ou gerente será capaz de enxergar aplicações imediatas para substituir tarefas repetitivas do seu dia a dia. No Marketing, a IAG pode ser usada para automatizar a geração de conteúdo, versões de copy e arte, análise de dados e segmentação de públicos-alvo. Também pode criar textos com tagueamento otimizado e responder comentários em redes sociais. Na área dos Recursos Humanos, a tecnologia pode ajudar a automatizar processos de recrutamento, atuando na leitura e seleção de CVs, na preparação de roteiros de entrevista, ou na criação de provas e cases. Pode ser aplicada ainda na construção de pesquisas de engajamento, para auxiliar em brainstorms ligados à jornada do colaborador ou mesmo para apresentar modelos de feedback e avaliação.

Pessoalmente, testei essas aplicações em consultorias de transformação com bastante sucesso. A ferramenta é particularmente útil para vencer o fantasma da folha em branco, realizando múltiplas tarefas, de conteúdo para relatórios e documentação de projetos até roteiros de entrevistas.

Apesar dos óbvios benefícios, preciso reforçar o outro lado da IAG: por ser treinada com bases de dados feitas por seres humanos, ela replica os mesmos preconceitos e vieses da nossa sociedade. Além disso, é capa de reproduzir notícias falsas, o que requer revisão minuciosa. Construir bases afirmativas e boas práticas de mitigação de fake news são igualmente importantes.

Outra questão é o apagão de mão-de-obra. Segundo o Fórum Econômico Mundial, quase 40% dos trabalhos existentes hoje são automatizáveis. Com a aceleração exponencial da adoção de IAG, pode surgir um fenômeno perigoso de desemprego estrutural, principalmente entre os trabalhadores com idade mais avançada ou menor qualificação.

A IAG deve, portanto, ser aplicada em conjunto com mudanças no design organizacional, na capacitação e na avaliação contínua dos funcionários. Não há dúvida de que é o início de uma revolução nas formas de trabalhar. Aqueles capazes de entender onde, como e quando empregar a tecnologia serão os vencedores desta corrida. Os outros estão fadados à obsolescência.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/colunas/coluna/2023/02/como-a-inteligencia-artificial-generativa-vai-transformar-sua-empresa-em-2023.ghtml