Com trabalho remoto, executivos brasileiros assumem cargos globais sem “sair de casa”

A tendência, chamada de “expatriamento virtual”, é uma nova versão do já conhecido expatriamento voluntário, em que profissionais buscam oportunidades para desenvolver uma carreira internacional

Deborah Palacios Wanzo, presidente e cofundadora da Tuvis, cuja sede fica em Israel (Foto: Divulgação)

A adoção permanente do trabalho remoto por diversas empresas tem permitido que executivos brasileiros assumam posições globais sem sair de casa, ou seja, sem precisar mudar de cidade ou de país, passando a liderar essas novas estruturas à distância. É o que as empresas têm chamado de “expatriamento virtual”.

O expatriamento virtual é uma espécie de nova versão do já conhecido expatriamento voluntário, em que profissionais brasileiros buscam oportunidades para desenvolver uma carreira internacional. Com o trabalho remoto, no entanto, muitas burocracias deixaram de ser uma preocupação – como a necessidade de conseguir um visto permanente que permite morar e trabalhar em outro país, ou o período de adaptação cultural para o executivo.

Entre os prós estão a possibilidade de o profissional permanecer próximo da família e dos amigos, em alguns casos ganhando salário em dólares e mantendo o custo de vida local.

Só no começo deste ano, algumas movimentações exemplificam essa tendência. Na Mondelez, a executiva Renata Vieira, que liderava a categoria de chocolates da empresa no Brasil, assumiu a posição de Diretora Sênior Global Brand Oreo, passando a integrar o time de Global Brands. Na Tetra PakEdison Kubo tornou-se Diretor Global de Serviços de Processamento para Categorias Alimentícias. Já na BayerMalu Weber é a primeira brasileira a assumir uma cadeira no Conselho Global de Comunicação da empresa, como Diretora-Executiva de Comunicação Corporativa da Bayer Brasil.

Outro exemplo é Fernando Rych, Senior Manager for LATAM Communities da Turing, empresa que recruta desenvolvedores brasileiros para trabalhar remotamente para empresas dos EUA. Rych deixou Nova York e voltou para o Brasil após 5 anos atuando na IBM. “Em vez de me mudar para um país diferente, decidi buscar a mesma qualidade de vida, segurança e melhor uso dos meus recursos no Brasil mesmo. Viver por aqui ganhando em dólar, com equilíbrio entre trabalho e vida familiar, é a combinação perfeita de cenários”, afirma.

Fernando Rych - Senior Manager for LATAM Communities na Turing (Foto: Divulgação)

Fernando Rych, da Turing: “Combinação perfeita de cenários” (Foto: Divulgação)

Decisão estratégica

Embora as vantagens para os executivos sejam mais evidentes, Edison Kubo destaca que a decisão de manter os executivos em seus países de origem pode ser estratégica também para as próprias empresas. No caso da Tetra Pak, a intenção é fortalecer a estratégia global, a presença local da companhia e sua diversidade.

“A descentralização do time global amplia o leque de potenciais candidatos às posições de liderança. Essa possibilidade aumenta a diversidade de pessoas e opiniões na liderança da empresa, melhora a forma de gerenciar os negócios e garante que as pessoas estejam mais próximas dos clientes, o que agiliza o processo de tomada de decisão”, diz o executivo.

O modelo remoto também é estratégico para executivos que buscam parcerias internacionais, mesmo atuando diretamente do Brasil. É o caso de Deborah Palacios Wanzo, presidente e cofundadora da Tuvis, startup que conecta o WhatsApp à Salesforce. Ela conheceu pelo LinkedIn o israelense Yanir Calisar, CEO, cofundador e seu sócio. A sociedade nasceu antes mesmo de eles se conhecerem pessoalmente.

“Durante o período inicial, eu fiquei grávida da minha segunda filha, e as vantagens de poder estar baseada no Brasil fizeram a diferença para o equilíbrio entre trabalho e família”, destaca. Hoje, cerca de dois anos depois, a empresa tem clientes em mais de 35 países e operação física nos EUA, Brasil, México e Argentina, com sede em Israel.

Viagens ainda são necessárias

As companhias também estão atentas aos desafios de manter gestores de alto nível em diferentes lugares do mundo. Na lista de ônus estão fatores como fuso horário, gestão do tempo, integração de times e alinhamento da cultura organizacional.

“Existe uma parte importante do trabalho que não se pode fazer remotamente: a de criar compromissos sustentáveis no longo prazo”, destaca Kubo. Para criar essa relação de confiança, especialmente com os clientes, as viagens de negócios e eventuais reuniões presenciais ainda continuam sendo necessárias.

A intensidade de viagens de negócios, no entanto, está longe de ser a mesma de antes da pandemia. “A melhor forma de mostrar a efetividade é observar o que aconteceu durante a pandemia, em que trabalhamos remotamente por cerca de dois anos e garantimos que os resultados fossem sempre entregues”, diz o executivo.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2022/06/com-trabalho-remoto-executivos-brasileiros-assumem-cargos-globais-sem-sair-de-casa.html