Com tecnologia, exportação brasileira cresceria acima da média mundial, diz OMC

A revolução tecnológica permitirá que os países emergentes vejam uma redução nos custos de comércio e poderão, em 2030, representar 57% dos fluxos de exportações e importações no mundo. Os dados estão sendo apresentados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu informe anual publicado nesta quarta-feira, 3, em Genebra.

No caso do Brasil, a entidade estima que a introdução de novas tecnologias poderia fazer com que a expansão do comércio recebesse um impulso extra de cerca de três pontos porcentuais por ano até 2030, bem acima da média mundial. Para isso, porém, o País teria de se abrir para as inovações.

 De acordo com o levantamento, os custos do comércio no mundo caíram em 15 pontos porcentuais entre 1996 e 2014. Mas, na avaliação de Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, a nova revolução poderá fazer o comércio crescer entre 1,8 e 2 pontos porcentuais por ano, até 2030. “De forma acumulada, isso representará um aumento de 31% a 34% em 15 anos”, declarou.

Hoje, 35% dos custos de uma exportação estão ligados ao transporte, enquanto procedimentos nas fronteira e logística também têm um peso importante. Com as novas tecnologias, a previsão é de que esses custos sejam reduzidos de forma importante.

“Em tal cenário, a participação dos países em desenvolvimento no comércio poderia aumentar de 46% para 57% em 2030”, declarou Azevêdo. Segundo ele, porém, isso vai depender de como governos vão estabelecer políticas para permitir que essa tecnologia seja utilizada.

Sem uma estratégia, Azevêdo alerta que a comunidade internacional pode ver um aprofundamento das disparidades como resultado da tecnologia. “As forças de mercado não serão suficientes”, disse.

No levantamento, a OMC admite que nem todas as regiões do mundo vivem da mesma forma o desenvolvimento tecnológico. No Brasil, por exemplo, menos de 50% da população tinha acesso a computadores em sua casa em 2015. Naquele mesmo ano, a taxa era de quase 100% no norte da Europa.

Mas, com políticas públicas que possam ir na direção correta, a OMC aposta que seriam os emergentes quem mais ganhariam com a tecnologia no comércio. No caso brasileiro, a estimativa é de que a tecnologia poderia reduzir os custos de comércio em 0,76 ponto porcentual por ano até 2030, uma taxa superior ao que ocorreria nos EUA, com 0,43 ponto percentual por ano.

A OMC também prevê que, no caso do Brasil, o papel do comércio de serviços aumentará de 15% para 18%. No mundo, a taxa subiria dos atuais 21% para 25% até 2030.

Na avaliação de Azevêdo, o que o comércio vive hoje é uma mudança sem precedentes por conta da tecnologia. “São mudanças estruturais”, destacou. Em apenas 20 anos, o comércio de tecnologia triplicou, passando a valer US$ 1,6 trilhão em 2016.

Segundo ele, a tecnologia de blockchain ajudará pequenas empresas e aumentar transparência e visibilidade, além de acelerar a digitalização de trocas comerciais. Sua estimativa é de que, até 2030, US$ 3 trilhões seriam adicionados no comércio apenas por conta dessa inovação.

Internet, impressoras 3D e outras tecnologias também prometem ter um impacto grande na redução do custo do comércio. A avaliação da OMC é de que, com as impressoras 3D, alguns produtos podem deixar de cruzar fronteiras, também fazendo os custos desabarem. Não se compraria mais o produto, mas o código para produzir algo.

“Estamos entrando em nova era econômica. E como responderemos é uma momento definidor de nosso tempo”, disse Azevedo.

Tensão

O brasileiro ainda destacou como a tecnologia – e não o fluxo comercial – tem sido a responsável por grande parte das mudanças em mercados de trabalho, o que alimenta uma tensão sobre governos em busca de proteção para certos setores. “Estamos vivendo uma escalada de tensões que ameaça ter um impacto econômico grande”, disse, numa referência à pressão do governo americano por novas relações comerciais com seus parceiros.

“É responsabilidade de todos buscarmos uma solução. Precisamos ouvir as pessoas afetadas. Não podemos ignorá-las. Empregos estão sendo perdidos na agricultura e na indústria. A ansiedade sentida pelos trabalhadores é real. Mas 80% da perda de postos de trabalho foi causada pela automação, não pelo comércio”, alertou o brasileiro.

Em sua avaliação, a comunidade internacional precisa responder a essa mudança. Mas a resposta não será asfixiando o comércio com medidas protecionistas. “Isso apenas vai agravar a crise e gerar mais desemprego. Precisamos de um debate informado”, alertou.

FONTE: GAUCHA ZH