Com selfies anti-fraude, idwall capta R$ 40 milhões

Na era dos aplicativos, uma série de empresas garantem a identidade das partes envolvidas numa transação online, criando uma relação de confiança instantânea – que permite, por exemplo, que você entre num táxi da 99 sem pestanejar. Uma dessas empresas é a idwall, que acaba de receber um investimento de R$ 40 milhões liderado pela Qualcomm Ventures – no primeiro aporte no Brasil feito pelo fundo de inteligência artificial da fabricante de processadores. O Grupo Globo e a gestora ONEVC também participaram da rodada. Fundada há apenas três anos, a idwall usa ferramentas de inteligência artificial e machine learning para fazer o cadastro de clientes e prevenir fraudes em todo o tipo de negócio online.

Entre os mais de 100 clientes estão empresas como Loggi, iFood, 99, os bancos Neon e Original, a Cielo, Movida e Unidas. No país da burocracia e da fraude, mais de R$ 60 bilhões são perdidos a cada ano com golpes envolvendo identidades falsas, de acordo com a Fecomércio. No ano passado, segundo o Serasa, houve uma tentativa de fraude a cada 16 minutos no País. “Na época da hiperinflação, não dava para esperar dois dias para fechar uma transação financeira – e por isso temos um dos sistemas financeiros mais ágeis do mundo”, diz o co-fundador Lincoln Ando. “O problema de fraude de identidade é tão grande no Brasil que a oportunidade é igualmente única.” Hoje com 28 anos, Lincoln provavelmente só ouviu falar da hiperinflação, mas sentiu na prática as dificuldades para fazer cadastro de clientes online.

Em 2011, ele fez parte da equipe que começava a transformar o Original de banco de atacado tradicional em banco de varejo digital. A primeira dificuldade era como abrir uma conta online – numa época em que nem mesmo o regulador admitia expressamente essa possibilidade. Depois de dois anos no banco – e antes do lançamento oficial do novo Original –, decidiu empreender e abriu um marketplace para conectar locadoras de equipamentos de construção com os clientes (uma espécie de Mills 3.0). Não deu certo: as locadoras temiam tomar golpes num setor em que é comum bandidos usarem o registro de empresas falsas para roubar os equipamentos.

Em seguida, Lincoln se uniu a Raphael Melo, um colega de faculdade com quem trabalhou no Original, para abrir a idwall – com um aporte de cerca de R$ 13 milhões garantido por investidores-anjo e uma rodada seed liderada pelo fundo Canary e a Monashees. Diferentemente de outras empresas do setor, que fazem apenas uma parte do processo, a idwall faz desde a validação de documentos até o reconhecimento facial, passando pelo background check e a garantia de que as empresas estão cumprindo as regras de compliance. Apesar das particularidades de cada negócio, os processos de identificação seguem todos os mesmos três passos – que acontecem praticamente em tempo real. O primeiro é saber se a pessoa tem um registro válido por meio de um documento. Com técnicas de machine learning e visão computacional, a idwall identifica o documento e extrai todas as informações necessárias para que o cliente não precise digitar. Em seguida, valida essas informações em bases de dados públicas e privadas.

Depois é preciso saber se a pessoa em questão é, de fato, a dona do documento, por meio de tecnologias de reconhecimento facial. Para eliminar o risco de que a pessoa esteja usando uma selfie de terceiro ou até de uma pessoa falecida, é preciso uma prova de vida, através de movimentações faciais. O último passo é saber se a pessoa realmente está apta a fazer o que pretende. Por exemplo: para abrir uma conta, é preciso atender as normas de ‘know your client’ e prevenção de lavagem de dinheiro. Para isso a idwall cruza diversas fontes e dá um score de risco em tempo real que autoriza ou veta a abertura da conta. Para as locadoras de veículo, o importante é evitar roubos – em média, de 4% a 5% da frota é perdida todo o ano dessa maneira. A locadora de veículos Zazcar, que utiliza os sistemas da idwall, não tem nenhum roubo há dois anos.

Os recursos que acabam de ser captados vão ser utilizados para expandir o negócio – que hoje queima pouco caixa e está próximo do breakeven, segundo Lincoln. Com 100 funcionários atualmente, a empresa pretende dobrar o número nos próximos meses. “A Amazon Web Services um dia chegou e falou: ‘vocês não precisam alugar servidor, engenheiro para tomar conta do servidor, eu faço tudo aqui’. A gente quer fazer a mesma coisa, oferecendo todos os serviços de onboarding e compliance,” diz Lincoln. “Nosso maior concorrente são as próprias empresas que ainda acham que precisam de uma equipe interna para tomar conta de parte desse processo.”

FONTE: BRAZIL JOURNAL