Com modelo de conta paga, BTG prevê varejo rentável em até 3 anos

Nova operação para pessoa física aposta em estrutura digital e na oferta de banco completo

Por Talita Moreira – VALOR ECONÔMICO

Até alguns anos atrás, havia a expectativa de que o BTG Pactual faria uma aquisição para colocar em pé seu banco de varejo – na época, era imprescindível ter uma vasta rede de agências para atuar no segmento. No mês passado, a instituição finalmente abriu sua operação para pessoas físicas, numa estrutura digital e totalmente construída dentro de casa. O caminho mudou, mas os planos continuam ambiciosos. O BTG+, como foi batizada o novo negócio, terá pela frente o desafio de encontrar seu espaço num mercado já tomado por fintechs e bancos digitais, além das instituições financeiras tradicionais. A missão se faz ainda mais difícil porque tem em vista um público não apenas bancarizado, mas também cortejado pelos rivais.

Para atrair esse segmento, o plano é se posicionar como um banco completo e uma espécie de organizador da vida financeira dos clientes. “Viemos para ficar e para ser relevantes. O varejo pode se tornar um dos maiores negócios do BTG”, afirma Rodrigo Cury, sócio do banco e chefe do BTG+, em entrevista ao Valor. “Não vamos ser coadjuvantes.” É a primeira vez que o executivo fala detalhadamente sobre a estratégia do BTG+. A previsão é que o negócio se torne rentável em até três anos e, com isso em mente, não deve abrir contas de forma desenfreada. O objetivo, diz Cury, não é ter “milhões e milhões de clientes”, mas ter um relacionamento com esses correntistas para que a operação gere o retorno necessário.

O banco busca principalmente a população de classe média para alta com uma vida financeira mais “complexa” – gente que tem filhos, usa cartão, viaja e tem funcionários em casa são alguns exemplos. Para captar esse público, o BTG aposta em dois modelos de conta. Uma simples e gratuita, com transações ilimitadas. A grande expectativa, no entanto, reside no plano premium, com cobrança de tarifas, contrastando com a praxe entre bancos digitais e fintechs. Por R$ 29,90 mensais, a modalidade dará acesso a benefícios como o Simplypag, ferramenta de gestão de funcionários no eSocial; “tag” para pedágios; dez dias sem juros no cheque especial; monitoramento do CPF por meio de um serviço do Serasa e acesso ao conteúdo da “Exame”, revista da qual o BTG é dono. “Acho que as pessoas não se importam em pagar se veem valor no serviço”, avalia Cury, que antes era executivo da área de cartões do Santander. Com uso de dados, o banco também oferecerá ferramentas de gestão financeira e alertas relacionados a hábitos de consumo – por exemplo, avisando quando o cliente gastou demais com restaurantes no mês. No crédito, de acordo com o executivo, o BTG terá uma “oferta completa”. Cheque especial e cartões já estão disponíveis. Linhas de crédito pessoal serão lançadas até o fim de fevereiro. Crédito com garantia imobiliária (“home equity”) e linhas de financiamentos imobiliário e de veículos também estão previstas para os próximos meses. O banco não revela, por enquanto, qual a dimensão que o portfólio de crédito pode alcançar. No fim de setembro, o BTG Pactual tinha um saldo de R$ 68,3 bilhões em empréstimos e financiamentos, formado essencialmente por operações com pessoas jurídicas. “Mas a gente quer que o varejo seja algo relevante, representativo na carteira do banco”, diz. As sinergias com a plataforma de investimentos BTG Pactual Digital são óbvias, mas Cury explica que as estratégias são separadas e não há planos de unificar os dois aplicativos. “Mas os dois vão ter uma identidade parecida.” O BTG+ começou a ser oferecido a clientes da área de investimentos em setembro, mas foi apenas na terceira semana de janeiro que o banco abriu a operação para o público em geral. A operação do BTG+ começou a ser desenvolvida há pouco mais de um ano, embora os planos de um banco digital já existissem bem antes disso. Em maio de 2019, os planos começaram a tomar forma com a chegada de Amos Genish, ex-presidente da Vivo e da TIM, para ajudar o BTG a desenvolver um olhar para o varejo digital. O banco tem suas origens nas operações de crédito e mercado de capitais para grandes empresas.

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/02/09/com-modelo-de-conta-paga-btg-preve-varejo-rentavel-em-ate-3-anos.ghtml