Coliving promete: segmento “alternativo” tem potencial para crescer mais de 25 vezes no país

Esta é uma das principais conclusões do estudo “Portugal Coliving- Follow the Trend” desenvolvido pela JLL em parceria com a Joyn.

Uma tendência, uma nova moda ou uma forma de (con)viver com raízes na economia da partilha. Trata-se, sobretudo, de um novo estilo de vida que veio para ficar. Em Portugal, o coliving já é visto como um dos mais promissores segmentos do imobiliário “alternativo”, com potencial para crescer mais de 25 vezes. Esta é a conclusão do primeiro research nacional focado apenas e só neste segmento – desenvolvido pela JLL em parceria com a Joyn – e que coloca Lisboa e Porto entre as 40 cidades europeias mais apetecíveis para receberem este tipo de projetos.

“Portugal Coliving- Follow the Trend” – assim se chama o estudo –  foi esta quarta-feira (11 de dezembro de 2019) apresentado em Lisboa e foca-se no potencial e atratividade deste tipo de habitação como uma das soluções residenciais a desenvolver nos próximos anos, assumindo-se como peça chave para o futuro do mercado imobiliário residencial. Além de analisar a realidade portuguesa e europeia de coliving, apresenta ainda as principais tendências, características, públicos alvo e tipos de projeto que existem neste segmento.

Oferta “muito longe” de responder à procura

O estudo estima que a procura potencial para este tipo de habitação partilhada possa atingir entre 16.000 a 18.000 camas em Lisboa e no Porto, ou seja, mais de 25 vezes o atual ‘pipeline’. De acordo com este ‘research’, as duas cidades portuguesas “contabilizam atualmente apenas 50 camas de coliving em operação e uma carteira de outras 570 em desenvolvimento para os próximos dois anos”.

Este pipeline inclui o projeto Smart Studios, com 114 camas em Santa Apolónia, previsto para dar resposta aos profissionais do Hub Criativo do Beato, junto ao qual nascerá outro projeto de com aproximadamente 120 camas, revela a JLL. Para o centro de Lisboa, adianta, está previsto o maior dos projetos, com 300 camas e vários espaços de coworking. Para o Porto está projetado um coliving com 40 camas, que deverá ser operado pela B-Hive Living.

“O nosso país é um mercado de grande potencial para o coliving. É cada vez mais um destino global, procurado para trabalhar, estudar, investir e viver, e, por isso, o fluxo de pessoas com apetência para a experiência do coliving vai aumentar cada vez mais, à medida que este tipo de habitação também se vai impondo por toda a Europa como um estilo de vida e uma das opções mais pretendidas para viver nas cidades”, refere Maria Empis, Head of Strategic Consultancy & Research da JLL.

De acordo com a especialista, e apesar dos investidores e operadores nacionais e internacionais terem já investimentos em Portugal que aumentam em dez vezes o atual stock de camas, “a oferta continuará a ser muito reduzida e está longe de dar resposta a esta procura latente”.

Coliving dá resposta aos millennials

Quem procura esta alternativa? Os nómadas digitais que ficam nas cidades por períodos de tempo mais curtos, os expatriados atraídos pelas recentes multinacionais que se estabelecem em Portugal, os empreendedores internacionais que se mudaram para Lisboa, onde querem viver e interagir, mas também os jovens trabalhadores entre os 20 e 35 anos que têm pelo menos uma licenciatura, ganham mais de 1.200 euros líquidos por mês e vivem sozinhos ou com um cônjuge, sem filhos. “Normalmente procuram flexibilidade e não pretendem formar família nos próximos anos”, diz o estudo da JLL. Os estudantes internacionais e os nacionais deslocalizados, bem como os jovens empreendedores também integram a procura potencial de coliving em Portugal.

Já os investidores “procuram hoje oportunidades em segmentos onde a procura é muito maior do que a oferta em busca de retornos mais elevados e diversificação de ativos e, em especial, estão atentos aos segmentos alternativos, onde os ‘drivers’ da procura são gerados em mudanças demográficas e geracionais”, frisa Maria Empis, explicando que este segmento assume uma “atratividade especial” neste contexto, dando resposta à geração dos millennials “naqueles que são alguns dos seus gostos e necessidades mais marcantes: a partilha, a mobilidade, a flexibilidade e a experiência pessoal”.

Lisboa e Porto são mercados de oportunidade

O estudo da JLL identifica 40 cidades na Europa como destinos apetecíveis para o estabelecimento de projetos de coliving, distinguindo-as entre mercados-chave: de crescimento, de oportunidade e de oportunidade de longo-prazo, considerando o momento da procura de coliving, a escala e atividade do mercado, bem como o seu potencial de crescimento a longo-prazo. Lisboa, que aparece na na 27ª posição, e o Porto, na 39ª, são encarados como mercado de oportunidade e de oportunidade a longo-prazo, respetivamente. Lisboa aparece no mesmo grupo de Barcelona, Madrid, Milão ou Liverpool, e o Porto alinha-se com Roma, Sevilha, Valência ou Marselha.

O mercado europeu de coliving contabiliza atualmente, de resto, 23.500 camas entre projetos já construídos ou em desenvolvimento, sendo que 60% dos projetos em funcionamento ficou operacional nos últimos dois anos. Londres e Amesterdão são os dois principais destinos deste tipo de imobiliário, concentrando entre si 40% deste stock.

O estudo deixa claro que o coliving é “uma tendência que veio para ficar na Europa e em Portugal, exibindo um rápido crescimento”, esperando-se que nos próximos anos os investidores aloquem um volume significativo de capital ao desenvolvimento de novas camas e que os operadores se foquem em cada vez mais mercados, como forma de assegurar novos projetos.

“Antecipa-se ainda que esta forma de habitação se vai tornar cada vez mais relevante nas cidades modernas, sendo crucial que os poderes políticos percebam, por um lado, os benefícios que traz e, por outro, criem legislação que proteja os investidores e os ocupantes, garantindo ao mesmo tempo os padrões de qualidade”, lê-se no estudo.

Para Maria Empis, o crescente fluxo de imigrantes jovens e de alta qualificação atraídos para Portugal, a par dos empreendedores locais, “cria enormes oportunidades para o desenvolvimento da chamada Co-Revolution e dos espaços partilhados”. Acomodar estas novas gerações, muito vocacionadas para a vida em comunidade, para uma economia da partilha e para a acessibilidade, diz, “é um dos maiores desafios que o mercado imobiliário tem que enfrentar”.

“A emergência destas novas soluções de habitação é especialmente interessante, numa altura em que o acesso à habitação é um problema estrutural e em que os jovens são dos segmentos mais limitados”, remata a responsável.

Principais indicadores

Espaço

  • Localização: central em áreas cosmopolitas com acessibilidades.
  • Arquitetura: moderna, flexível e funcional. Design de ponta. Edifícios recuperados, com o sentido moderno/clássico, sustentabilidade e áreas comuns confortáveis.
  • Experiência: áreas sociais, comunidade, experiência pessoal, serviços, comodidade, tecnologia, conectividade, acessibilidade.
  • Dimensão: os residentes preferem as comunidades pequenas (clusters de 4-10 pessoas); otimização dos m2 em áreas privadas, áreas comuns multifacetadas, média de 25 a 30 m2 por cama (quarto).

Produto:

  • Estadias: períodos de arrendamento semanal a mensal; estadia média entre 1 a 12 meses; contratos mais flexíveis para responder à baixa sazonalidade.
  • Serviços: renda com tudo incluído; serviços extra on-demand, em parceria com empresas especializadas; serviços de gestão com apps/soluções digitais; integração de serviços de instalação/mudança
  • Comunidade: Residentes: valorizam os diferentes percursos com interesses semelhantes; importância de gestores de comunidade para acesso ao coliving.

Públicos-alvo:

A grande maioria dos residentes de coliving são trabalhadores remotos, independentes de uma localização física – os nómadas digitais, ou seja, todos os que usam tecnologia para ganhar a vida e adotem um comportamento nómada. Os expatriados, turistas de negócios ou os jovens locais também estão entre os públicos-alvo deste tipo de habitação.

Tipos de coliving:

  • Focado na comunidade
  • Focado no estilo de vida urbano
  • Focado nas viagens
  • Focado no trabalho
  • Focado no custo

FONTE: ID