Coletivo usa realidade virtual para ensinar e preservar história afro e indígena nas regiões de Piracicaba e Campinas; veja como funciona

Com auxílio de óculos de VR, participante faz experiência imersiva, conhecendo personalidades como o engenheiro Antonio Rebouças ou assistindo a reconstrução de uma igreja negra que foi demolida no século 19.

Coletivo que atua com a preservação do patrimônio da história negra e indígena em quatro cidades do interior do estado, o Rotas Afro lança nos próximos dias 2 e 3 de setembro uma nova fase de suas obras de realidade virtual (VR).

Iniciado em 2019 em Piracicaba (SP), o projeto tem como principal atividade a realização de rotas na cidade e em Campinas (SP), Vinhedo (SP) e Rio Claro (SP) nas quais são explicadas as relações de diferentes locais e personalidades desses municípios com a história negra e indígena.

As obras de realidade virtual expandem a experiência dos participantes através do uso de um óculos que acentua a imersão nesse tipo de tecnologia. A intenção é fazer com que o participante se sinta dentro de determinado período do passado enquanto conhece algum dos pontos ou pessoas ligados à atividade.

A seguir, a partir de entrevista do g1 com a fundadora do Rotas, Julia Madeira, entenda melhor como funcionam as atividades do coletivo, as novas obras virtuais e como participar.

▶️ Como nasceu o Rotas Afro?

O Rotas surgiu em 2019, inspirado em uma atividade que aconteceu no Sesc Piracicaba junto com o professor e historiador Noedi Monteiro, que também era um roteiro turístico. “Eu fui convidada para ser guia nesse dia e, a partir desse dia, eu falei: ‘Noedi, eu quero levar essa atividade pra frente'”, conta Julia.

🗺️ Como funciona o roteiro?

Em Piracicaba, ele sai do Largo de Santa Cruz e finaliza no Engenho Central. “É um roteiro que passa não só pela história negra, como a história afro e indígena, nós comentamos sobre a história de personalidades, não só de Piracicaba, mas de toda a região”, explica a fundadora.

🌍 Como houve a expansão para outras cidades?

“Em 2021, entendemos que o Rotas não é apenas um roteiro de Piracicaba. Passa a se tornar um coletivo de pessoas. Então, surge o roteiro de Campinas em 2021, 2022 em Vinhedo, e neste ano avançamos em Rio Claro. Aí o Rotas, atualmente, está se tornando um instituto de preservação do patrimônio da memória negra”, detalha Julia.

A expectativa é de que o instituto seja oficializado ainda neste ano.

🏫 Quais outras atividades o Rotas Afro realiza?

Também são realizados roteiros exclusivos para escolas, chamados de Rotas nas Escolas, e empresas. São os mesmo roteiros mensais, mas especialmente para as escolas”. Com a transição para instituto, o coletivo espera ampliar atuações tanto na área privada como pública, através de captação de recursos via editais.

📚 Como são as pesquisas históricas para construir as rotas?

Segundo Julia, trata-se de uma “pesquisa viva”. “Visitamos os arquivos da cidade, discutimos todos os arquivos. Ao longo dos roteiros, nesses quatro anos, muitas pessoas trazem muitos relatos para o Rotas, que é uma forma de pesquisa através da oralidade. Também [fazemos] reunião de relatos da mestras e mestres do saber da cidade. Até mesmo as lendas e também a produção intelectual que já existe”, detalha.

🥽 Como funcionam as obras de realidade virtual?

Elas são chamadas pelo coletivo como “acervo imersivo”. Três delas foram lançadas em 2022 e também estão disponíveis no canal do Rotas Afro no YouTube. Nesses vídeos, é possível assistir apresentações de batuque de umbigada, capoeira e hip hop de grupos tradicionais por meio de um vídeo em 360º.

Embora o YouTube permita um alcance mais amplo, a experiência completa, segundo Julia, ocorre durante os roteiros presenciais e os eventos Ocupa Rotas Afro, quando os participantes podem ver os vídeos com um óculos de realidade virtual.

“A partir do momento que a gente faz uma obra desse tipo, estamos permitindo uma outra forma de documentação da história negra. Então, nosso objetivo é esse. Criar um acervo imersivo que seja sobre tecnologia e preservação através dela”.

📹 Como são as novas obras de VR?

Serão três novas obras. Duas delas serão de realidade aumentada, que também utiliza a tecnologia 3D, através de um acesso via QR Code. A terceira obra mistura realidade aumentada e virtual.

Uma das obras em 3D é sobre o engenheiro negro que construiu a Ponte Rebouças, em Piracicaba. “A gente vai fazer um QR Code em que a pessoa vai acessar e vai ter o busto do Antônio Rebouças, como se fosse uma estátua, e uma narração contando a obra dele”.

Outra obra vai ser sobre um ponto negro de Campinas. “Vai ser a reconstrução da Igreja do Rosário de Campinas, que é uma igreja negra que foi demolida lá no século 19”, revela.

Outra novidade é uma narração que acompanha o participante, que é realçada com uso de fones de ouvido, que permitem também uma experiência sonora de 360 graus, como se o narrador estivesse ao lado do participante da atividade.

“E é como se fosse uma pessoa da época falando. A gente tentou trazer essa parte artística também. Traz uma coisa como uma linguagem colonial, para a pessoa se sentir dentro da época”.

📆 Quando vai ocorrer o lançamento?

O lançamento das novas obras em Piracicaba ocorre no dia 2 em Piracicaba. Pela manhã, será realizada mais uma edição do Rotas Afro com um trajeto mais reduzido. “Vai começar a rota na Praça José Bonifácio, às 10h, e descer até a Ponte Rebouças. Ali, vamos disponibilizar QR Codes para s pessoas terem acesso à obra [de realidade virtual]”.

Das 15h às 19h, todas as obras, tanto de 2022 quanto desse ano, serão disponibilizadas com óculos de VR na Casa do Hip Hop. Para a rota é necessário realizar inscrição e o evento na Casa do Hip Hop terá entrada livre.

Também haverá lançamento em Campinas. Mais detalhes e link para inscrição podem ser acompanhados pelo canal de Instagram @rotasafro.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2023/08/30/coletivo-usa-realidade-virtual-para-ensinar-e-preservar-historia-afro-e-indigena-nas-regioes-de-piracicaba-e-campinas-veja-como-funciona.ghtml