Cidades adotam coletivos sob demanda, o ‘Uber’ público

Fortaleza e São Bernardo do Campo experimentam um novo sistema de transporte urbano

Por Domingos Zaparolli

Fortaleza, no Ceará, e São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, são as duas cidades brasileiras que experimentam um novo sistema de transporte urbano – os coletivos sob demanda. Um serviço já adotado em várias cidades da Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália e que já vem sendo estudado por algumas dos principais municípios brasileiros. Em Fortaleza, o serviço Top Bus+, do ponto de vista do passageiro, é muito parecido com o Uber.

O usuário acessa um aplicativo, informa localização e destino e é informado sobre o tempo de espera do veículo que fará o serviço. São duas as diferenças. O usuário não viajará sozinho, mas em uma van tipo Sprinter que comporta 13 passageiros sentados. O aplicativo se encarrega de identificar e agregar outros passageiros com trajeto parecido, mas que não representem um desvio maior que dois minutos na rota programada. O usuário tem sua viagem garantida, mesmo que o sistema não identifique outros passageiros. Em média, o tempo de espera pela van é de 16 minutos.

A outra diferença é que o veículo não chega à porta do usuário. É preciso se deslocar até a esquina mais próxima. A tarifa é de R$ 3,50 no primeiro quilômetro e mais R$ 2,00 por quilômetro rodado. Nos horários de pico, no início da manhã e fim de tarde, R$ 4,50 e R$ 2,50 respectivamente. O Top Bus+ foi implementado em dezembro de 2019 pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). Começou com 17 veículos atendendo 15 bairros centrais e a região nobre da Aldeota. A abrangência será ampliada até abril com a entrada em operação de mais 20 vans, totalizando 37 veículos.

A expectativa é que o número de clientes cadastrados, hoje 76 mil, e usuários diários, atualmente na casa de 1.100 por dia, seja ampliado significativamente em consequência do aumento da frota. “Uma média de cem passageiros diários por veículo irá proporcionar rentabilidade ao serviço, hoje ainda deficitário”, diz Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus. O Top Bus+ nasceu como uma resposta ao Uber. “Estávamos perdendo os passageiros pagantes para o transporte sob demanda individual e ficando apenas com estudantes, que pagam meia, e idosos, que não pagam”, diz Barreira. A evolução do Top Bus+ está sendo acompanhada de perto por gestores públicos e frotistas de ônibus de várias capitais que estudam implementar a solução para reconquistar os passageiros perdidos para os aplicativos.

“A pandemia da Covid atrasou vários projetos no país, mas vamos ver um boom de lançamentos nos próximos meses”, diz Barreira, que informa já ter feito várias apresentações do serviço para interessados nas principais cidades do país. O serviço pioneiro na oferta de transporte público sob demanda é o CityBus 2.0, implementado pela HP Transportes em Goiânia em fevereiro de 2019. Chegou a ter 80 mil clientes cadastrados até ser interrompido por causa da pandemia em 2020.

“Estamos reestruturando o serviço, com novas rotas e precificações, e vamos relançar no meio deste ano com o nome de CityBus 3.0”, diz Hugo Santana, diretor da HP. A pandemia também paralisou o serviço CityBus DF operado pela Urbi em três cidades satélites do Distrito Federal: Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo. Em São Bernardo do Campo a startup UBus desenvolveu uma plataforma de transporte sob demanda em operação desde o fim de 2020.

O usuário acessa o aplicativo, informa localização e destino e lhe é disponibilizado opções de rotas, horários e veículos. O passageiro faz pelo aplicativo a reserva da poltrona no veículo escolhido. O serviço é ofertado pela operadora BR7 Mobilidade que dedica oito vans e um micro-ônibus e oferece dois itinerários que cruzam a cidade.

A tarifa é de R$ 6,80. E também pela Next Mobilidade que dedica cinco ônibus executivos para ligações intermunicipais com Diadema e Santo André. A UBus também desenvolveu um sistema porta a porta, onde as rotas são definidas pela demanda, a licença para a oferta do serviço está sendo avaliado pela prefeitura de São Bernardo.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2022/03/30/cidades-adotam-coletivos-sob-demanda-o-uber-publico.ghtml