‘Casa Conectada’ já é uma realidade no Brasil

Com aporte em português, Google Assistente deverá ser ferramenta de manuseio de eletrodomésticos e outras objetos em domicílios

Google Assistente deverá conectar pessoas com objetos de casa
Foto: Divulgação

Já pensou em poder conversar com a sua casa e, assim, pedir a ajuda dela na execução das tarefas do dia a dia? Pois essa já é uma realidade no Brasil. É que o assistente do Google, que já nos permite trocar algumas ideias com o celular, agora também pode ser incorporado a objetos residenciais como caixas de som, lâmpadas, televisores, aspiradores de pó, cortinas e cafeteiras. Basta chegar em casa e dizer “Ok, Google, pode fazer isso para mim?” para obter a resposta do seu assistente pessoal e começar a ver os equipamentos funcionando por conta própria.

“Faz anos que nós ouvimos que a Casa Conectada vai aportar no Brasil. Mas, agora, chegou o momento em que a tecnologia vai de fato mudar a forma como interagimos com a nossa casa”, anunciou o diretor de desenvolvimento de negócios do Google para a América Latina, Alessandro Germano, explicando que isso se tornou possível porque o Google Assistente passou a entender o português.

Capaz de ouvir, compreender, responder e reagir às falas do seu proprietário por conta do uso da aprendizagem de máquina (o machine learning), o Google Assistente está disponível em português em smartphones desde 2017. Porém, ainda não havia aprendido esse idioma no uso residencial. Quem queria levar as funcionalidades da ferramenta, que no celular já informa a temperatura, a agenda e as notícias do dia, para dentro de casa, portanto, precisava falar em inglês com seu ajudante doméstico.

A “formação em português”, contudo, foi concluída nesta semana. “Agora, o Google Assistente fala 30 idiomas em 80 países”, contou a gerente de marketing para parcerias do Google Assistente no Brasil, Maia Mau, dizendo que a empresa atualizou seu sistema para incluir o português porque acredita que a novidade será bem recebida pelos brasileiros.

É uma aposta que, de fato, tem fundamento. Afinal, o Brasil já tem o terceiro maior uso do Google Assistente em smartphones do mundo, o que faz com que o português seja o segundo idioma mais popular da plataforma móvel. “O Google Assistente é utilizado de forma muito intensa no Brasil. E o brasileiro adora novas tecnologias”, confirmou Maia. “Além disso, a curva de domicílios conectados chegou a uma curva de inflexão”, afirmou Germano, contando que há 147 milhões de residências inteligentes no mundo hoje, mas que esse número deve saltar para 327 milhões já em 2021. “Na média, cada um desses domicílios terá 5,5 aparelhos conectados já em 2020”, completou o diretor do Google.

O número de empresas interessadas em incorporar o sistema em português em seus eletrônicos e eletrodomésticos, por sinal, também é grande. Já são mais de 30 aparelhos, de 10 marcas diferentes, sintonizados à ferramenta no Brasil. Entre eles, estão as caixas de som e os fones de ouvido da JBL; as televisões da LG, Sony, Samsung e TCL; os aspiradores de pó da iRobot; as câmeras de segurança da D Link; e a central multimídia do Jeep Compass. E a tendência é que esse número só cresça. O Google explica que a integração com novos produtos continua e só leva seis semanas para ser concluída. Por isso, a empresa acredita que a quantidade de objetos inteligentes que entendem português deve crescer de três a cinco vezes nos próximos 18 meses. Já estão na lista dessa segunda rodada de automação residencial, por exemplo, produtos da linha branca da Samsung, como geladeiras, ares-condicionados e máquinas de lavar.

Com isso, será possível executar mais de um milhão de ações de forma automatizada dentro de casa. Afinal, o consumidor que decidir levar esses aparelhos inteligentes para o seu dia a dia ainda poderá configurá-los da forma que preferir. Para uma TV inteligente, ele pode pedir, por exemplo, para ver filmes, ouvir música, assistir ao noticiário, acessar o YouTube e até marcar o tempo. Da mesma forma, ele pode usar o comando de voz para ligar o aspirador de pó, a luminária e a câmera de vigilância do portão.

Ainda é possível usar uma tomada inteligente (smart plug) para levar a conexão com a internet a aparelhos que ainda não tiveram o sistema pareado com o do Google, como cafeteiras, ventiladores e despertadores. E o que não puder ser conectado dessa forma pode ser ajustado à realidade digital com a ajuda de uma empresa de automação residencial. Esse serviço pode automatizar, por exemplo, a abertura das cortinas. Por isso, além de conversar com seu celular, o brasileiro agora também pode interagir com seu quarto, sua casa, sua cozinha e até sua garagem.

“A ideia é conectar diversos objetos para facilitar o dia a dia, mas o serviço está disponível no mercado para cada um montar como quiser”, reforça Maia, contando que tudo isso pode ser controlado pelo smartphone, através do aplicativo Google Home, ou de uma maneira ainda mais fácil: por comandos de voz. É que, em parceria com a JBL, o Google também lançou as primeiras caixas de som inteligentes do Brasil. São caixas que, além de reproduzir músicas, podem ouvir pessoas e transmitir os comandos humanos aos demais aparelhos inteligentes da residência. Basta dizer “Ok, Google” para que essas caixas fiquem “ligadas” no que você vai pedir e transmitam a mensagem para os aparelhos que precisam se movimentar.

“É uma casa pensante, que conhece os gostos e cuida das pessoas dentro dela. E é uma casa fácil de operar, natural e útil para todos”, afirmou Germano, dizendo que a integração por voz vai ajudar a espalhar essa ideia no Brasil, já que não limita o uso da casa inteligente aos experts em tecnologia. Até quem tem dificuldade em digitar no celular poderá, portanto, contar com a ajuda do Google Assistente.
“Se você permitir, essa caixa vai ter acesso a suas contas do Google e vai se ligar aos equipamentos da sua casa através da conexão bluetooth. Ou seja, vai ser um link entre a sua voz e produtos inteligentes como os sistemas de iluminação”, explicou o gerente de produto da JBL, Cesar Franck, garantindo que o funcionamento é simples. “Quando você ligar o equipamento, vai ligá-lo ao Wi-Fi e pareá-lo com o Google Home no celular. Depois disso, é só configurar seu modo de uso”, orientou.

Dessa forma, é possível até estabelecer rotinas personalizadas para o conjunto dos aparelhos inteligentes da sua casa. É possível criar, por exemplo, o modo “cheguei” para que, quando você diga isso a sua residência, a luz se acenda, o ar-condicionado ligue, o chuveiro comece a esquentar e o som toque sua música preferida, tudo de uma vez. Outra ideia é criar o modo meditação, para baixar a luz, esfriar o ambiente e ativar um som ambiente que lhe permita relaxar. Quando estiver se arrumando para o trabalho, você ainda pode dar “bom dia” para o seu assistente e conversar com ele para saber da temperatura prevista para o dia, o trânsito que lhe espera e as principais notícias do momento. Se permitir, o sistema ainda pode ler seus e-mails, conferir sua agenda e enviar as mensagens que você deseja pelo WhatsApp. “Como está conectado à busca do Google, o assistente pode responder qualquer pergunta”, garante Maia.

Como a caixa de som é pequena, ela ainda pode fazer parte da decoração da sua casa para estar sempre pronta para esses e outros comandos. “Ela ainda tem o benefício do som JBL, que é uma coisa valorizada pelos brasileiros. Afinal, pesquisas de 75% a 80% dos comandos de voz são para pedir uma música”, conta Franck.
Apesar de atraente, a ideia de ter uma casa conectada, porém, ainda custa caro ao brasileiro. Só a caixa de som da JBL que faz a integração entre o Google Assistente e os demais produtos inteligentes da residência sai por pelo menos R$ 1.199 (veja os preços dos outros produtos na arte ao lado). Mas as empresas garantem que, como acontece com todo novo item de tecnologia, inclusive com os smartphones, esses itens devem ficar mais baratos com o tempo, à medida em que se popularizam no mercado.

“A ideia é que o preço decresça com as novas gerações”, afirmou Franck, dizendo que, nesse primeiro momento, a JBL trouxe dois modelos de caixa de som inteligente ao Brasil. É a Link 10 (R$ 1.199) e a Link 20 (R$ 1.499), ambas importadas da China. Com o crescimento da demanda, contudo, a tendência é que a oferta de modelos e até de marcas aumente. Até a Amazon já pensa em seguir os passos do Google e trazer seu assistente virtual, a Alexa, para o País, aumentando, assim, a concorrência e as possibilidades de conexão entre os brasileiros e os objetos ao seu redor.

FONTE: FOLHA PE