Carros autônomos podem vir a ser problema para setor dos seguros

Se não ter condutor reduz maioritariamente o risco de acidente, qual a necessidade de ter um seguro? Setor tem estado a debater o futuro

Os carros autónomos têm dado que falar. Por vários motivos. Seja por causa dos testes que estão a ser feitos, das questões éticas ou até mesmo as mudanças que implementarão no nosso dia a dia. Estes veículos que ganharam espaço na agenda mediática podem vir a mudar ainda vários setores, nomeadamente, o dos seguros. De acordo com a Bloomberg, sem humanos ao volante espera-se conseguir diminuir radicalmente o risco de acidente e este será um ponto que muda tudo quanto à necessidade de ter um seguro.

Dan Peate, um capitalista de risco e empreendedor do sul da Califórnia, quis em tempos comprar um Testa Model X, até descobrir o que tinha a seguradora a dizer sobre o assunto: “Avaliaram o seguro em 10 mil dólares por ano”.
Foi então que Dan Peate decidiu criar a Avinew. A ideia da empresa é recolher o maior número de informação possível sobre o uso destes carros sem condutor. A publicação explica que as seguradoras cobram mais por não terem informações suficientes. A ideia é conseguir ter informação que chegue para mudar esse cenário.

Ainda assim, de acordo com a análise da Bloomberg, continua a existir uma questão de fundo que faz toda a diferença: “Se não há ninguém a conduzir, porque é que precisamos de um seguro automóvel? Os prémios baseiam-se na probabilidade de um motorista sofrer acidentes e nos índices reais de colisão”. Se os maiores riscos estão associados a ter alguém ao volante, acabar com isso é reduzir o risco. E é aqui que se esperam grandes transformações e desafios para o setor.

Para Michelle Krause, diretora do serviço ao cliente dos seguros da Accenture, é por isso que as grandes empresas “estão concentradas em entender a tecnologia por detrás e as oportunidades disponíveis para elas”.

Recorde-se que estes carros têm gerado muito discussão. Depois de ter morrido uma pessoa, em 2018, no decorrer de alguns testes, o tema voltou à praça pública logo no início deste ano. No Arizona, quando começaram novamente a ser testados, os habitantes mostraram descontentamento de todas as formas. De acordo com o New York Times, os protestos começaram com o corte de pneus de um Chrysler, que estava parado num cruzamento, e passou a tendência. Houve até, de acordo com a imprensa local, pessoas a atirar pedras a estes veículos.

A somar a isto está a velha discussão em torno das questões éticas que se levantam quando o assunto é carros sem condutor. Já em 2016, a questão de como seriam as regras aplicadas a estes veículos levantavam polémicas. Que regras aplicar quando um acidente for inevitável? Um estudo divulgado pela revista Science mostrava que há uma grande diferença entre o que desejamos que sejam as regras de programação destes carros e o que verdadeiramente queremos usar. Na teoria, todos parecem concordar com carros autónomos preparados para minimizar danos em caso de acidente, mesmo que tal implique a morte do motorista. No entanto, a mesma pesquisa diz que as pessoas não querem usar carros assim. 76% dos entrevistados concordaram que o veículo deveria estar programado para sacrificar um passageiro se isso garantisse a vida de dez peões, por exemplo. No entanto, quando tiveram de responder sobre o uso de um carro assim, a taxa de aprovação deste tipo de programação caiu para um terço.

Seja como for, o setor automóvel caminha a passos largos para a mudança. Em Portugal, por exemplo, o tradicional já começou a dar lugar ao novo: No primeiro mês deste ano foram vendidos 652 automóveis 100% elétricos. Recorde-se que este é valor mensal mais elevado de sempre.

FONTE: SOL.SAPO