Campo investe em tecnologia e já tem até rebanho em nuvem na internet

O agronegócio brasileiro aumenta a cada ano sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) graças, sobretudo, à pesquisa e aos investimentos em tecnologia. De uma participação de 21% no PIB de 2014, a fatia cresceu para 23% em 2015 e deve aumentar 2% este ano, com um Valor Bruto de Produção de R$ 548 bilhões.

O agronegócio já corresponde a 48% do total de exportações brasileiras. No cenário interno, tem produzido grandes safras, o que tem ajudado a derrubar os índices de inflação. Hoje, o campo utiliza pesquisas avançadas como o emprego da nanotecnologia no controle de alimentos, redes de satélites e drones para levantamento de dados de solo e clima e até o rastreamento de rebanhos já é feito em tempo real, com informações disponibilizadas na nuvem da internet.

Para falar sobre os avanços em tecnologia, a Sputnik Brasil conversou com exclusividade com o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, nesta segunda-feira, quando foi aberto, em São Paulo, o Agronegócio Brasil 2017, um dos maiores eventos do setor. Segundo Lopes, nas últimas quatro décadas, o Brasil teve um avanço extraordinário do agronegócio.

“Em quatro décadas fomos capazes de sair de uma situação de dependência e insegurança alimentar para conseguir alimentar nossa população e projetar o Brasil como um grande provedor de alimentos para o mundo. Vivemos agora o início de outra revolução: o avanço tecnológico em áreas como a transformação digital, em tecnologias novas como a internet de alta velocidade e drones. Daqui a pouco, virá a inteligência artificial e a era dos big daters com a possibilidade de acumularmos volumes extraordinários de dados e informações”, exemplifica Lopes.

O presidente da Embrapa prevê que o uso de novas tecnologias vai impactar a produção, permitir a oferta de alimentos de forma cada vez mais segura a custos mais baixos de forma sustentável com atenção cada vez maior ao meio ambiente. Segundo ele, as novas tecnologias dos sensores estão mudando a capacidade de monitorar os sistemas de produção. Ele exemplifica com o trabalho dos tratores, que podem receber sensores avançados que permitem acompanhar em tempo real como as lavouras estão produzindo, ajudar a monitorar pragas e doenças, além de instalar chips em um drone com algoritmos muito sofisticados que podem capturar informações precisas nas plantações, reduzindo o emprego de defensivos.

Outros aplicativos são capazes de reunir dados de até 1.600 estações meteorológicas no país, apontando a melhor época de plantio para cada espécie, aumentado a produtividade das colheitas. Outros programas preveem índices de secas e geadas, bem como a quantidade de água no solo e até outros que recomendam o volume de capim oferecido aos bois por hectare.

O presidente da Embrapa cita a nanotecnologia como outro aspecto importante no desenvolvimento de novos projetos. Em 2018, deve chegar ao mercado um desses produtos desenvolvidos pela Embrapa, os nanobiosnacks de frutas, uma espécie de chip de batata frita, embora sem fritura, e também filmes biodegradáveis feitos de alimentos. Nanosensores colocados em tintas de impressão podem ser colocados em etiquetas de frutas, medindo a concentração de gás etileno, permitindo assim o consumidor saber o ponto de maturação do produto.

“Esses novos materiais vão nos permitir produzir moléculas que podem ser usadas para proteger a superfície dos alimentos, aumentado a vida de prateleira. Com o surgimento de aplicativos que podem ser usados através dos celulares, hoje acessamos programas sofisticados de computadores na nuvem com informações sobre clima, mercado, acionamos equipamentos a distância, na chamada internet das coisa, que combina equipamentos e estratégias de monitoramento com a internet”, detalha o dirigente. O presidente da Embrapa diz que um dos desafios é fazer que as novas tecnologias gerem produtos a custos acessíveis. Segundo ele, o custo de equipamentos e sensores tende a cair.

“A Embrapa está desenvolvendo o conceito de sensores vestíveis. Por exemplo, um cabresto que você pode colocar na cabeça do animal. Ali existem sensores que permitem o monitoramento das condições fisiológicas do animal, batimentos cardíacos, movimentação, se ele está indo frequentemente beber água ou se alimentar.”

Lopes observa que a Embrapa, como empresa pública, tem feito nos últimos anos um grande esforço para reduzir sua dependência dos recursos do Tesouro Nacional e para isso vem procurando ampliar suas parcerias tanto com entidades do governo quanto da iniciativa privada, totalizando hoje cerca de 400 acordos nacionais e internacionais. Além disso, tramita no Congresso projeto de lei para a criação de um braço da Embrapa no mercado de inovações tecnológicas chamado Embrapa Tec. Essa empresa poderia receber o grande acervo de ativos e conhecimentos da Embrapa e se preparar para ir ao mercado buscar mais associações e parcerias no setor privado.

FONTE:  SPUTINIK