Câmeras que reconhecem objetos, situações e até emoções são criadas por startup de São Carlos

Empresa usa inteligência artificial para ensinar os equipamentos a ‘enxergar’. A Ideia veio após amiga de fundador ser assaltada diante de câmeras de segurança em 2011.

Espalhadas por espaços públicos e particulares de todas as cidades, as câmeras de segurança registram tudo o que acontece na sua frente. Um grupo de amigos de São Carlos (SP) acreditou que elas poderiam ser mais do que meras espectadoras e ajudar mais no monitoramento dos espaços e na prevenção contra o crime e criou uma startup. Eles usaram inteligência artificial para deixar esses equipamentos mais inteligentes, capazes de reconhecer situações e pessoas indesejadas, objetos e até mesmo emoções (veja vídeo acima).

Ideia após assalto

A ideia surgiu em 2011, após uma amiga de um dos fundadores ser assaltada na porta de casa. “Havia algumas câmeras ali, mas até hoje elas servem somente para documentar o crime e não servem nem como base legal para levar na justiça e prender o cara”, afirma o diretor e um dos fundadores da Gryfo, Victor Gomes.

“A gente resolveu colocar uma inteligência mínima nas câmeras que detectasse uma pessoa ou reconhece algum comportamento estranho e avisasse o dono da casa para que ele tomar alguma ação.”

Startup Gryfo de São Carlos usou inteligência artificial para ensinar câmeras identificarem objetos e emoções.  — Foto: Fabiana Assis/G1

Startup Gryfo de São Carlos usou inteligência artificial para ensinar câmeras identificarem objetos e emoções.  — Foto: Fabiana Assis/G1

Startup Gryfo de São Carlos usou inteligência artificial para ensinar câmeras identificarem objetos e emoções. — Foto: Fabiana Assis/G1

 Inteligência artificial

A limitação tecnológica da época fez com que a ideia ficasse hibernada por um tempo até que, em 2016, após algum avanço tecnológico, ela voltou à tona. A Gryfo surgiu em 2017 e usando a inteligência artificial ensinou as câmeras a “enxergar” como o olho humano e a reconhecer objetos, pessoas, animais e o que mais for captado nas imagens.

“Como humano, a gente está acostumado a enxergar o ambiente, para a câmara é diferente, a gente precisa ensinar para a máquina o que é uma TV, uma cama, um armário para que ela entenda o que que está ali naquele contexto”, explicou Gomes.

O primeiro trabalho da startup foi uma sala segura, com controle de quantas e quais pessoas poderiam estar dentro dela. Tudo feito por meio da câmera de segurança.

A plataforma permite combinar inúmeras funcionalidades em diversos segmentos: rastreamento de pessoas, veículos e objetos, busca em vídeo por características visuais, contagem de pessoas, mapa de calor e alerta inteligente a partir de determinada situação, como uma pessoa de capacete dentro do local, por exemplo.

Startup de segurança foi montada em São Carlos em 2017 e já recebeu R$ 800 mil em investimentos.  — Foto: Fabiana Assis/G1

O sistema da Gryfo fica interligado a central de monitoramentos para avisar atitudes suspeitas.

“O objetivo é otimizar o monitoramento. Um humano não consegue ficar observando muitas câmeras por muito tempo, então a tecnologia que a gente criou faz o filtro e dispara o alerta sobre o que é importante ele olhar. Ao invés de ele olhar as câmeras ele vai ficar uma tela onde vão chegar alguns alertas para ele e ele vai decidir se aquilo é perigoso ou não. Hoje, sistema não tem esse nível de decisão ainda”, explica Gomes.

Inteligência artificial embarcada em câmeras de segurança permite que pessoas e objetos sejam reconhecidos. — Foto: Pixabay/Divulgação

Inteligência artificial embarcada em câmeras de segurança permite que pessoas e objetos sejam reconhecidos. — Foto: Pixabay/Divulgação

Um dos diferenciais da tecnologia é o reconhecimento de emoções das pessoas flagradas pela câmera. O serviço já foi testado no setor educacional para apurar as reações de crianças sobre os conteúdos da aula. Também tem amplo campo na área de varejo para ajudar comerciantes a entender as reações de seus clientes.

Parcerias

Com pouco mais de um ano, a startup já recebeu mais de R$ 800 mil em investimentos e aumentou 140%. A estimativa para 2019 é de um crescimento de 30% ao ano.

A Gryfotem um contrato com a empresa de segurança patrimonial Brinks. Também está desenvolvendo um projeto com a Guarda Civil Municipal (GCM) de São Carlos para usar as câmeras para monitoramento de pessoas suspeitas e desaparecidas.

Equipe da Gryfo, startup de segurança de São Carlos — Foto: Fabiana Assis/G1

Equipe da Gryfo, startup de segurança de São Carlos — Foto: Fabiana Assis/G1

A tecnologia de reconhecimento de produtos embarcado em câmeras também está sendo aplicada no setor supermercadista. A Gryfo desenvolveu uma ferramenta que permite um caixa automatizado, sem necessidade de um operador humano.

Os produtos são colocados em uma esteira que passam por um túnel cheio de câmeras que identificam e contam os produtos com um nível de certeza de 99% de precisão.

O reconhecimento não é feito pelo códigos de barras, mas pelas cores, dimensões, formatos e padrões das embalagens. A leitura é de 40 produtos por minuto, em média, algo seis vezes mais rápido do que um caixa humano.

Tecnologia de reconhecimento de produtos embarcado em câmeras pode diminuir perdas e reduzir tempo — Foto: Larissa Emille/Arquivo Pessoal

Tecnologia de reconhecimento de produtos embarcado em câmeras pode diminuir perdas e reduzir tempo — Foto: Larissa Emille/Arquivo Pessoal

“O objetivo é diminuir a perda nos supermercados. Enquanto o lucro do setor é de 2 a 4% das vendas, 1% é perdido nos caixas. O objetivo é evitar erros ou fraudes que gerem essa perda”, explica Gomes

Segundo o diretor, ainda é necessário um apoio humano para solucionar divergências no sistema, mas a tendência é ela ser autossuficiente. “É uma máquina que está aprendendo com o tempo e a gente imagina que em algum tempo não precisará de supervisão humana.”

Melhor que o olho humano

O sistema de monitoração inteligente é mais um item da longa lista de serviços humanos que tem sido substituído pela automação, mas Gomes pondera que, em contrapartida, muitos postos de trabalho são criados na outra ponta para desenvolver a tecnologia. O problema é encontrar pessoas capacitadas que preencham as vagas que estão sendo criadas.

 “Não é simples encontrar profissional qualificado para atuar nessa área. A gente vê a tecnologia crescendo muito na China, Israel é um polo tecnológico grande e aqui no Brasil a gente está começando a ter essa transição nas universidades para que tipo de tecnologia é do futuro, que tecnologia os estudantes gostam mais”, afirma.

Startup de segurança montada em São Carlos usa mão de obra formada nas universidades da cidade.  — Foto: Fabiana Assis/G1

Startup de segurança montada em São Carlos usa mão de obra formada nas universidades da cidade. — Foto: Fabiana Assis/G1

Ele mesmo não parou de se capacitar e aos 29 anos é formado análise de desenvolvimento de sistemas pelo IFSP de São Carlos, tem mestrado em ciências da computação pela UFSCar, especializou-se em desenvolvimento dispositivos móveis também pelo IFSP e está fazendo MBA em gestão empresarial pela FGV.

Segundo Gomes, estar em São Carlos, que é um grande polo de formador de mão de obra de tecnologia, minimiza essa dificuldade.

“As empresas sempre foram buscar profissionais em São Carlos e agora estão se instalando na cidade. São Carlos é a capital da tecnologia e o pessoal sai bem capacitado das universidades, a gente está no melhor lugar possível do país”, diz.

FONTE: G1