BYD mostra como foi de fabricante de baterias a maior produtora mundial de carros elétricos

Primeiro modelo da empresa, que faturou US$ 61,7 bilhões em 2023, era um sedã.

Uma visita à sede da BYD, em Shenzhen, China, pode começar de forma pouco habitual. Num espaço protegido por paredes de vidro, logo após a entrada de um imenso showroom, estão duas máquinas. Cada uma tem uma bateria apoiada em suporte. Os equipamentos, então, começam a lançar fogo sobre as baterias. A que sai das chamas intacta, explica o funcionário, é a mesma utilizada nos veículos da BYD, que em 2023 se tornou a maior fabricante de carros elétricos do mundo. A outra, destruída pelo fogo em poucos minutos, “é a usada por outras marcas”, ressalta.

Como a ideia é contar a história da companhia, faz sentido iniciar a narração com o produto que, há quase 28 anos, fez surgir a empresa que no ano passado obteve receita de US$ 61,7 bilhões. A BYD foi criada em 1995 para produzir baterias para celulares.

A ideia partiu de Wang Chuanfu, um químico especializado em tecnologia de baterias. Aos 29 anos, o jovem que havia se mudado para Shenzhen, um centro de inovação em expansão, aproveitou o início da onda do uso de aparelhos celulares para abrir uma fábrica de baterias, no subdistrito industrial de Kuichong.

Como em um museu, a história da BYD e de seu discreto fundador é contada por meio de fotos e informações que podem ser lidas pelo visitante à medida em que passeia pelo showroom. Em 2000, a BYD começou a vender baterias de lítio para a Motorola. Em pouco tempo, tornou-se fornecedora também da Nokia, Ericsson e Samsung.

Em 2002, a BYD, sigla de “Build Your Dreams” (construa seus sonhos) entrou na Bolsa de Valores de Hong Kong e um ano depois Chuanfu, hoje presidente da companhia, realizou o sonho de iniciar a produção de veículos. Um sedã foi o primeiro modelo.

O ano de 2008 marcou a passagem de um bilionário como acionista da companhia. O americano Warren Buffett investiu US$ 232 milhões para comprar ações da BYD que valiam, na época, US$ 1 cada. Quatorze anos, depois, quando a Berkshire Hathaway, gestora de Buffett, começou a vender as ações, o papel estava cotado a US$ 35.

Em 2009, a BYD estreou no segmento de ônibus e no ano seguinte produziu o primeiro ônibus elétrico. Em 2012, a empresa instalou uma fábrica de ônibus em Campinas (SP). Em 2016, iniciou, na China, a produção de monotrilhos, que em breve serão conhecidos pelos paulistanos. Até o fim de 2024, a empresa pretende iniciar a entrega dos primeiros veículos que serão usados na linha 17-Ouro em São Paulo.

Funcionários se orgulham de falar sobre sua participação no combate à covid-19

A BYD continua a produzir baterias. Tem, inclusive uma unidade em Manaus que abastece a linha de ônibus em Campinas. Também produz painéis solares. Por isso, os representantes da empresa repetem sempre que a BYD não é só uma montadora.

O ano de 2023 marcou a instalação da companhia chinesa na Bahia. Na antiga fábrica da Ford, em Camaçari, serão produzidos automóveis elétricos e híbridos “plug-in”, incluindo uma picape híbrida movida a etanol.

As obras para ampliar e modernizar a fábrica brasileira começarão em fevereiro, segundo Marcelo Schneider, diretor da BYD. Segundo o executivo anunciou durante o Brazil China Meeting, em Shenzhen, na semana passada, o plano de contratação de mão de obra na primeira fase foi ampliado de 5 mil para 10 mil operários. O investimento anunciado soma R$ 3 bilhões na primeira etapa.

Em Shenzhen, os funcionários da BYD têm orgulho de contar sua participação no esforço para combater a covid-19. Durante a pandemia, a produção de máscaras de proteção contra o coronavírus salvou não apenas vidas como também os salários dos empregados da BYD na China. É no país de origem da companhia que está a maior parte dos seus 700 mil funcionários.

Assim que toda a população do planeta foi obrigada a fazer isolamento social, a BYD colocou a equipe de engenharia para trabalhar no desenvolvimento de máscaras, um artigo escasso na época. Em três dias, o projeto estava concluído. A BYD tornou-se uma grande produtora de máscaras, ainda vendidas, inclusive no Brasil.

A empresa tem 90 mil engenheiros e calcula chegar a 100 mil até o fim do ano. Fileiras de patentes adquiridas pela BYD estão estampadas numa enorme parede do showroom de sua sede, em Shenzhen. São 11 mil pedidos por dia.

Os números dessa empresa chinesa são grandes em todas as frentes. Quando começou a fabricar carros, levou 13 anos para atingir um milhão de unidades produzidas. Um ano e meio depois já estava em três milhões e após nove meses computava quatro milhões. Em 2023, chegou a seis milhões de veículos.

No espaço do showroom dedicado à exposição dos carros, surgem os compactos com nomes de animais, como o Dolphin. Na China, o Dolphin Mini, que será lançado no Brasil em fevereiro, é chamado de Seagull.

Na área externa, é a vez de ver o carro que se movimenta de forma diferente. Lançado no mercado chinês em setembro, o modelo Yangwang U8, utilitário esportivo de grande porte, faz um giro de 360 graus sobre o próprio eixo.

Mas a grande expectativa da direção da BYD é saber qual será a reação dos visitantes brasileiros ao Dolphin Mini. A diretora da divisão americana de vendas, Jolin Zhang, então, aparece, para ajudar na propaganda: “Esse carro é compacto, mas muito espaçoso por dentro. É perfeito para o Brasil”, afirma.

FONTE:

https://valor.globo.com/brazilchinameeting/noticia/2024/01/16/byd-mostra-como-foi-de-fabricante-de-baterias-a-maior-produtora-mundial-de-carros-eletricos-sembarreira.ghtml