Brasil tem avião de vigilância 100% nacional

Aeronave foi desenvolvida em cinco anos e custou R$ 11,5 milhões Por Rafael Rosas

Uma empresa de capital nacional realizou, no fim de julho, o voo inaugural do primeiro Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant) de grande porte inteiramente produzido no Brasil. E agora se prepara para atender demandas que vão desde a vigilância de fronteiras ao monitoramento de florestas. A aeronave, batizada de Atobá, foi desenvolvida em cinco anos pela Stella Tecnologia, que contou no projeto com alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Estácio, ao custo de R$ 11,5 milhões. O tempo do projeto é justamente o tempo de vida da Stella, formada em 2015 pelos sócios Gilberto Buffara Jr e Eudes de Orleans e Bragança. Eudes morreu em agosto deste ano, aos 81 anos, e seu filho, de mesmo nome, assumiu a sociedade na companhia. O veículo construído pela companhia tem 11 metros de envergadura e tem autonomia de voo de 28 horas, utilizando gasolina como combustível e carregando sensores e câmeras de alta definição com peso total entre 70 e 150 quilos. A aeronave pode ser comandada por rádio – com alcance de 250 quilômetros – ou por link de satélite, com alcance irrestrito.

Buffara se mostra animado com as possibilidades de um equipamento que pode ter uso tanto pelo lado militar e de segurança, quanto na vigilância de fronteiras e do litoral e da proteção na costa e de florestas, quanto pelo lado civil, como no monitoramento de linhas de transmissão e de outros ativos privados. “Sabemos que existe a demanda”, afirma Buffara. “E esse tipo de ferramenta é que tem o melhor custo-benefício para monitorar nossa grande extensão territorial. Existe uma demanda reprimida incrível”, acrescenta. Ele frisa ainda que poucos países no mundo produzem veículos de grande porte semelhantes e destaca que o governo brasileiro tem comprado aeronaves semelhantes fabricadas em Israel, a um custo de US$ 25 milhões por um sistema com dois Vants e uma estação de controle. Buffara afirma que conseguiria entregar um pacote semelhante por um terço do preço, cerca de US$ 8 milhões, e ainda ter um lucro “saudável”. O empresário decidiu fundar a Stella depois de dez anos de atuação em uma empresa que fabricava drones e que fez, inclusive, a primeira venda militar de drones no Brasil. Na época, os equipamentos foram utilizados nas operações de tomada pelo poder público de algumas comunidades até então nas mãos do tráfico, no período da política de segurança pública baseada nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro. Segundo ele, seu objetivo com a nova empresa – cujo capital para desenvolvimento do Atobá veio inteiramente dos dois sócios – era construir no Brasil com uma tecnologia utilizada apenas no exterior. “O mercado de drones abriu e muitas empresas passaram a fazer aeronaves de pequeno porte. Abrimos a Stella em 2015 para desenvolver tecnologias que não existiam no país”, diz. Buffara lembra que atualmente a empresa tem oito funcionários na unidade de produção de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, equipada para produzir até três aeronaves simultaneamente. De acordo com o empresário, o voo inaugural do Atobá, realizado na cidade fluminense de Casimiro de Abreu no dia 20 de julho – curiosamente a data de nascimento de Santos Dumont – foi bem-sucedido e hoje a Stella teria condições de entregar o primeiro lote de três unidades 14 meses após o fechamento do primeiro contrato. A partir daí, cada novo lote poderia ser feito em nove meses. “A gente acredita que esse produto, vai permitir que o Brasil se lance em projetos muito maiores, capazes de monitorar melhor o país”.

FONTE: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/08/26/brasil-tem-aviao-de-vigilancia-100-nacional.ghtml