Brasil Solar planeja construir 38 usinas de energia solar ao criar fundo e captar R$ 900 mil de financiamento

O objetivo da companhia com a construção das usinas de energia solar é abrir ao mercado a oportunidade de participar de um investimento verde, renovável, alinhado com os padrões ESG e com uma rentabilidade previsível e atrativa

A Usinas Brasil Solar (BRS) é uma empresa especializada em geração distribuída. Ela criou um Fundo de Investimentos em Participação em Projetos de Infraestrutura (FIP-IE), o OBB Brasil Solar. A primeira captação será realizada em 2022 e possui o intuito de levantar R$ 400 milhões. Em 2023, caso haja a aprovação dos cotistas, haverá a segunda etapa do fundo com o objetivo de captar outros R$ 500 milhões e viabilizar mais 65 MW em projetos. O propósito é financiar a construção de 38 usinas de energia solar no país, que ficarão localizadas no sudeste.

Qual a motivação para o financiamento?

Em 2022, o fundo estará aberto somente para investidores profissionais, representados por aqueles com patrimônio mínimo de R$ 10 milhões. A partir de janeiro 2023, porém, estará aberto para investidores qualificados, os quais possuem patrimônio de R$ 1 milhão, com um tíquete mínimo de investimento de R$ 50 mil.

Em entrevista ao EXAME IN, Rafael D’Angelo, diretor da Usinas Brasil Solar, disse que o objetivo da companhia é abrir ao mercado a oportunidade de participar de um investimento verde, renovável, alinhado com os padrões ESG e com uma rentabilidade previsível e atrativa.

O retorno almejado pela Usinas Brasil Solar é de IPCA+14% ao ano. O BTG administra o fundo e a OBB Capital gere esse fundo. Na pessoa física, o gestor responsável é André Caminada, o qual possui mais de 34 anos de experiência no mercado, tendo experiência no Citibank, Itaú e Victoire.

D’Angelo, questionado a respeito do alto retorno aos investidores, especialmente com um patamar de juros básicos elevados, fala de dois motivos que levam à alta rentabilidade. O primeiro motivo é a expertise da Usinas Brasil Solar com projetos de energia fotovoltaica, já que a companhia é totalmente verticalizada e cuida desde a instalação das placas solares até a gestão dos projetos.

O fato de ser uma empresa que é a dona das usinas solares e que participa de todo o processo de construção e gestão dos projetos faz do cliente, ainda que possa haver intermediários no meio, o trunfo na manga que a companhia tem para convencer investidores de que é possível investir recursos nos projetos dela de forma segura.

O diretor da Brasil Solar, D’Angelo, diz que a companhia terá uma central de controle em Barueri, na sua sede, com monitoramento remoto de todas as usinas e uma equipe preparada para fazer reparos quando necessário. Dessa forma, não haverá ‘surpresas’ para o investidor.

O segundo motivo da alta rentabilidade é a tarifa de energia no Brasil que, por ter um valor alto, permite ao consumidor final possuir um desconto no valor pago ao mesmo tempo que ainda garante rentabilidade para empresas do setor. Segundo levantamento realizado pela Agência Internacional de Energia (IEA), baseado em dados de 2018, o Brasil tem a segunda energia elétrica mais cara do mundo.

O Marco Legal de Geração Distribuída (Lei 14.300/2022), que trouxe uma base sólida para a operação do setor no país, influenciou a ideia da companhia de criar um fundo de investimentos para financiar a sua expansão, mesmo com a popularização das placas solares no país desde 2016. Unir esse fator a uma empresa que, apesar de nova, tem executivos experientes no setor no comando foi a oportunidade perfeita para estruturar a plataforma de investimentos.

D’Angelo diz que por ser um setor com alto potencial de retorno, acaba atraindo muitos “aventureiros”. Porém, por não conhecerem muito o modo de funcionamento do setor, acabam prometendo uma rentabilidade no início dos projetos que não se concluem ao longo do tempo. Esse não é o caso da Usinas Brasil Solar.

Onde os recursos irão parar?

Os recursos serão utilizados para financiar a construção de 38 novas usinas de energia solar no Brasil, principalmente para a compra de equipamentos e de painéis solares. Não há aquisição de terreno com o dinheiro, mas arrendamentos serão feitos para instalar as placas solares em cada um dos locais. As usinas ficarão em três regiões: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Esses estados foram escolhidos porque conciliam um tripé de tarifas de energia atrativas, benefícios fiscais e grande demanda por energia.

A capacidade futura de cada uma das usinas será de 1MW. O executivo diz que vender blocos de 1MW é mais fácil ao atrair investidores, mas a companhia não está restrita a isso, uma vez que as usinas estão preparadas para serem expandidas e poderão chegar a 2,5MW.

Considerando só o ponto de partida, sem as expansões, a geração será de 1.800 Mwh/ano, o suficiente para abastecer cerca de 1.000 residências, considerando o consumo médio no país. Apesar da comparação, a energia será vendida, no primeiro momento, principalmente a estabelecimentos comerciais de pequeno e médio porte, os quais visam a redução dos custos com energia em comparação com o sistema tradicional de abastecimento.  Um ponto importante é que toda a capacidade futura das usinas a serem construídas já está contratada.

Atualmente, a capacidade instalada da Brasil Solar se resume a duas usinas que entrarão em operação ainda neste mês: Avelar 1 e Avelar 2, localizadas na região serrana do Rio de Janeiro. Elas têm 1MW de potência, como manda o padrão da empresa, atendendo, individualmente, 24 clientes, somadas em igual parte. São predominantemente restaurantes e escritórios, mas o objetivo da companhia é focar cada vez mais na diversificação desse público, formando as bases para atender clientes pessoa física.

Setor de energia solar gera concorrência

A empresa Usinas Brasil Solar não é a única a buscar investidores para estimular o investimento em energia solar. A Sunrun, empresa norte-americana de sistemas fotovoltaicos para residências, em 2020, comprou a concorrente Vivint Solar em um acordo de US$ 3,2 bilhões. O objetivo era mirar o mercado norte-americano, em que a geração distribuída tem apenas 3% de penetração.

Voltando os olhos para o Brasil, em junho deste ano, a empresa de energia renovável norte-americana Energea declarou estar ampliando o foco especialmente em energia solar no Brasil. De acordo com informações publicadas pela Reuters, a empresa tem cerca de 60 usinas de energia solar no Brasil e pretende aumentar sua capacidade para 0,5 gigawatt, dos atuais 100 megawatts. O cofundador Mike Silvestrini disse à agência de notícias que o Brasil é inquestionavelmente o mercado de energia solar mais atraente do mundo.

Isso se deve aos altos índices de irradiação solar do país. Uma comparação comum no setor é a com a Alemanha, país que investe continuamente nesse tipo de geração. No Brasil, a incidência de luz é 50% maior do que a de lá, permitindo maior geração de energia em praticamente todas as regiões do país. Ademais, uma estimativa da Absolar aponta que em 2022 a capacidade instalada dessa matriz será de 24,9GW no Brasil, um crescimento de mais de 90% em relação ao fim do ano passado.

A Brasil Solar quer mostrar, em meio à aprovação recente do marco regulatório para o setor e às discussões cada vez mais frequentes sobre esse modelo de geração como uma alternativa para avançar em meio a uma demanda que só cresce, que tem a capacidade de ser a empresa que vai trazer ‘a energia do futuro’ para cada vez mais perto.

FONTE: https://clickpetroleoegas.com.br/brasil-solar-planeja-construir-38-usinas-de-energia-solar-ao-criar-fundo-e-captar-r-900-mil-de-financiamento/