Braincare: a startup que pode tornar a pressão intracraniana um sinal vital

A Braincare desenvolveu um sensor que monitora a pressão intracraniana em segundos; procedimento não é invasivo, diferente do atual, em que o crânio é perfurado

O cientista Sérgio Mascarenhas foi diagnosticado com doença de Parkinson quanto tinha 77 anos. No entanto, um ano depois descobriu que tinha, na verdade, hidrocefalia. O tratamento é, no mínimo, invasivo – uma cirurgia que perfura o crânio para colocar uma válvula que drena o líquido em excesso. Com essa motivação, ele passou a buscar uma solução não invasiva.

 O professor e químico acabou descobrindo algo muito importante em suas pesquisas: o crânio humano adulto não é rígido, ao contrário do que pregava a medicina. “Mascarenhas provou que o crânio oscila, expandindo e contraindo com o fluxo cardíaco”, contou Plinio Targa, presidente-executivo da Braincare. Foi aí que Sergio Mascarenhas desenvolveu um sensor externo capaz de monitorar de maneira não invasiva a pressão intracraniana, solução oferecida pela healthtech Braincare atualmente.

O sensor é fixado na cabeça do paciente com o auxílio de uma banda ajustável e é capaz de monitorar em poucos segundos sua pressão intracraniana. Os dados podem ser visualizados em tempo real em dispositivos Android e são armazenados em nuvem. A startup une esses dados com inteligência artficial para criar relatórios que podem auxiliar em decisões médicas.

A possibilidade de monitorar a pressão intracraniana de forma mais rápida e menos invasiva traz informações valiosas que os médicos não possuíam antes. “Conseguimos apresentar a evolução da pressão intracraniana e a perda da complacência (elasticidade) cerebral”, disse Targa em entrevista à StartSe.

O sensor sem fio será lançado na Healthtech Conference da StartSe no dia 25 de abril e será comercializado como um serviço, custando R$ 3.500 por mês. “Nas áreas de atendimento intensivo, como a UTI, os médicos estão mais familiarizados com a utilização e importância da pressão intracraniana. Estamos focando em UTIs e em pesquisa nesse lançamento”, comentou o engenheiro.

Um novo sinal vital

Sergio Mascarenhas, Gustavo Frigieri e Rodrigo Andrade criaram a Braincare em 2014, após entrarem com pedidos de patente nos Estados Unidos e no Brasil. A startup recebeu um aporte de investidores-anjo em 2016, quando Targa começou a fazer parte da startup.

Já o segundo investimento foi em 2017, no valor de US$ 5 milhões. A Braincare havia retornado de uma aceleração na Singularity University e levantou o valor necessário para colocar seus planos em prática. “Em nossa estadia lá, ficamos sabendo que o motivo principal porque fomos selecionados é que essa tecnologia pode impactar um bilhão de pessoas nos próximos 10 anos”, comentou Targa.

Segundo o presidente-executivo da Braincare, os neurologistas da Singularity University também acreditam que o monitoramento da pressão intracraniana pode ser um sinal vital no futuro.

E é por isso que faz parte do plano de negócios da Braincare que o maior número de pessoas tenha acesso à essa tecnologia no menor tempo possível. “Deixamos de ser uma empresa de equipamento médico e passamos a ser uma empresa de serviço. Decidimos que não vamos vender equipamentos hospitalares, vamos focar no nosso sensor, torná-lo uma miniatura”, disse o presidente-executivo.

Expansão para os Estados Unidos

Empreender no setor de saúde traz desafios diferentes dos usuais. Para a Braincare, por exemplo, requer o tempo e o dinheiro para registrar patentes. Além disso, o sucesso do negócio também depende da aceitação dos cientistas e médicos da área.

“Temos a vantagem de ter uma descoberta científica e uma equipe técnico-científica muito forte, reconhecida. Mas é um segmento muito regulamentado, então não é só desenvolver um aplicativo que tenha uma aplicação bacana, tem a propriedade intelectual, a ANVISA (órgão regulador brasileiro para a área de saúde) e não dá para acelerar muito rápido em alguns processos”, comentou Plinio Targa.

Atualmente, a Braincare possui um escritório em São Paulo e outro em São Carlos, cidade no interior do Estado onde estão baseados os campi da USP e Universidade Federal de São Carlos. Ao todo, 35 pessoas trabalham na empresa. A expectativa agora é de expandir para os Estados Unidos, visto que a aprovação com o FDA (órgão regulador americano de saúde) está quase pronta.

“Estamos em um bom momento agora. Tudo o que era complexo e demorado nós já fizemos, passamos uns 20 meses trabalhando arduamente para vencer as barreiras do segmento. Estamos praticamente prontos para escalar a solução”, finaliza Targa.

FONTE: StartSe