Biotech Nintx atrai Pitanga, fundo de Guilherme Leal e Candido Bracher

Rodada de US$ 3 milhões vai ajudar startup a investir em P&D para “inovação radical” em remédios

Miller Freitas, Cristiano Guimarães e Stephani Saverio, fundadores da Nintx: capital intelectual e financeiro para inovar — Foto: Divulgação

Startup de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, a Next Innovative Therapeutics (Nintx) acaba de receber um aporte seed de US$ 3 milhões. A biotech aposta na biodiversidade brasileira para trabalhar com a chamada inovação radical, termo usado pela indústria farmacêutica para a descoberta de remédios do zero, e não adaptações de produtos já existentes.

A rodada foi liderada pela Pitanga, gestora com foco em deep techs fundada pelo cientista Fernando Reinach e que tem entre seus cotistas os fundadores da Natura &Co, Pedro Passos e Guilherme Leal, Candido Bracher, ex-CEO do Itaú Unibanco e conselheiro do banco, e Eduardo Vassimon, ex-presidente do BBA.

Os investidores estrelados já tinham aplicado no Pitanga Invest, o primeiro fundo da casa e gerido diretamente por Reinach, e são também investidores do Pitanga Redux, gerido por Gabriel Perez. A casa de venture capital já investiu em startups como a brasileira I.Systems e a argentina Sattelogic.

Na Nintx, Guilherme Leal também investiu por meio da Maraé Investimento, seu family office e o empresário Peter Andersen, presidente do Grupo Centroflora — maior fabricante brasileira de extratos para medicamentos —, aderiu à rodada.

“Nosso país agrega os biomas mais ricos do mundo. Cerca de 25% de toda a biodiversidade global está aqui”, diz Stephani Saverio, cofundador da Nintx. “Mas não é simples desenvolver um projeto que seja vendável e registrado, dentro das exigências regulatórias.” Saverio acumula 25 anos de experiência na indústria farmacêutica, com passagem por laboratórios multinacionais como Merck e Aché.

A pesquisa e desenvolvimento de novos ativos e compostos exige tempo e conhecimento técnico específico. Em países da Europa e nos Estados Unidos, as big pharmas já terceirizam o processo para biotechs. Já no Brasil, a maioria das iniciativas ainda fica no campo da chamada inovação incremental, que são pequenas diferenciações de um produto que já existe ou mesmo cópias e genéricos.

Um bom exemplo de como essa interface funciona lá fora foi a parceria que a Pfizer fechou com a alemã Bio-NTech para ter acesso a tecnologias que permitiram desenvolver mais rapidamente uma vacina contra a Covid-19. Mesmo em casos em que a P&D é proprietária, companhias costumam desmembrar a vertical — como na Johnson & Johnson. A Janssen, braço de pesquisa da big corp, ficou mais conhecida durante a pandemia. Outras vezes, é de dentro das universidades que surge a inovação, como foi com a Oxford e a AstraZeneca.

A Nintx foi fundada em 2020 por três técnicos experientes para replicar esse modelo de negócios no país. Além de Saverio, a startup tem ainda como sócios fundadores os cientistas Miller Freitas, com passagem por Libbs e Pfizer, e Cristiano Guimarães, especialista por Yale e também ex-Pfizer. O trio se conheceu no núcleo de inovação da Aché e decidiu empreender na área.

Com pouco tempo de operação, a startup já se tornou uma espécie de hub para o setor e atraiu pesquisadores independentes e acadêmicos para parcerias. Atualmente, são oito projetos em andamento, alguns deles desenvolvidos em conjunto com grandes companhias e institutos, como o grupo Adeste e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

No sistema de parcerias que a Nintx opera com outros pesquisadores, institutos e empresas locais, geralmente a participação vai de 50% a 80% dos resultados financeiros do projeto. O share depende do estágio em que se encontre a pesquisa no momento do contrato e do tipo de aporte com que o parceiro entre, seja ele intelectual, de capital ou de outros recursos.

A Nintx estima que deve iniciar os processos de licenciamento daqui a cinco anos. No momento em que fizer o registro, a startup planeja ficar com algo em torno de 20% dos resultados financeiros potenciais do protudo — os outros 80% são da big pharma que adquirir a tecnologia.

O plano é vender tecnologia inovadora a grandes farmacêuticas, num modelo de contrato que geralmente considera as receitas que a companhia terá globalmente nos próximos 20 anos com o novo produto, trazido a valor presente. A maioria dos projetos em andamento tem potencial superior a US$ 1 bilhão, afirmam os sócios. O faturamento potencial é de entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões por projeto, algo entre US$ 800 milhões e US$ 1,2 bilhão considerando todo o portfólio atual de P&D — e levando em conta que apenas cerca de 50% das pesquisas são bem sucedidas nessa fase.

Até aqui, a Nintx desenvolveu uma plataforma que replica o sistema digestivo humano, o que permite analisar como certos compostos e ativos naturais atuam na microbiota intestinal — o intestino tem sido chamado pela comunidade científica de “segundo cérebro” dada sua importância para a imunidade e o bom funcionamento de todo o corpo. O objetivo, com isso, é encontrar substâncias multi-target, que tratem várias doenças.

“Há estudos que mostram que as moléculas derivadas de plantas são as mais capazes de modular nossa microbiota intestinal”, diz Guimarães. “No passado, muita gente fugiu da pesquisa em biodiversidade por limitação tecnológica, questões de acesso, barreiras jurídicas. Agora, estamos vivendo um momento muito bom nesse sentido porque hoje existe todo um arcabouço regulatório, regras claras pra fazer registros dos estudos”, emenda Freitas, que é o CEO da Nintx.

Outra vertical de atuação da biotech é na área de dados. A startup trabalha atualmente para lançar uma plataforma de machine learning que elenque toda a literatura já produzida sobre compostos específicos e catalogue novos ativos descobertos pelas pesquisas e suas funcionalidades. “Isso é muito importante, especialmente quando a gente fala em biodiversidade, porque existe muito conhecimento difuso que pode ser organizado”, ressalta Guimarães.

Em outubro, a Nintx inaugura seu laboratório no Techno Park, em Campinas. O capital da Pitanga, Maraé e de Peter Andersen vai ajudar a biotech a encher os tubos de ensaio.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/biotech-nintx-atrai-pitanga-fundo-de-guilherme-leal-e-candido-bracher.ghtml