Pesquisadores do Departamento de Biologia da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, com a colaboração de especialistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e Universidade McMaster, no Canadá, descobriram uma forma de acabar com o problema que besouros trazem às plantações mundiais.
“Embora possa parecer um tanto perverso, não há nada de novo em tentarmos eliminar as pragas que destroem a produção de alimentos. Estamos simplesmente tentando fazer isso de uma maneira mais inteligente e direcionada que leva o meio ambiente ao redor em maior consideração do que os pesticidas tradicionais”, completou.
Há milhões de anos pequenos insetos nocivos colaboram para que até 25% da produção global de alimentos sejam perdidas, principalmente por besouros. Com isso, diversos pesticidas são desenvolvidos e liberados para o controle de pragas em plantações, o que prejudica a biodiversidade, o meio ambiente e principalmente a saúde humana.
A pesquisa tenta trazer uma nova solução para o dilema, que seja suficiente para erradicar as pragas, mas que não prejudique os humanos ou os insetos benéficos como as abelhas. O estudo demonstra que os besouros regulam sua forma renal de uma maneira fundamentalmente diferente de outros insetos, o que pode ser explorado para interromper fatalmente o seu equilíbrio de fluidos. Essa diferença na biologia dos insetos é um detalhe importante quando se busca combater determinadas espécies.
“Os inseticidas de hoje paralisam o sistema nervoso de um inseto. O problema com essa abordagem é que os sistemas nervosos dos insetos são bastante semelhantes em todas as espécies. O uso desses inseticidas causa a morte de abelhas e outros insetos de campo benéficos e prejudica outros organismos vivos”, explica Halberg.
Segundo os dados da pesquisa, essa forma renal única dos besouros se desenvolveu a cerca de 240 milhões de anos atrás e desenvolveu um papel significativo e de triunfo para a espécie.
Os antigos egípcios sabiam desse equilíbrio hídrico controlado pelos besouros e, na época, para conter a devastação de sua vegetação eles usavam pedrinhas nos depósitos de grãos que os insetos acessavam. As pedras arranhavam a camada externa cerosa do exoesqueleto dos besouros, que serve para minimizar a evaporação de fluido.
“Não importa que eles tenham lascado um dente ocasional nas pedras, os egípcios puderam ver que os arranhões mataram alguns dos besouros devido à perda de fluido causada pelo dano à camada de cera. No entanto, eles não tinham o conhecimento fisiológico que temos agora”, conta o professor.
Gastos com pesticidas em escala global
Todo ano, o gasto com pesticidas em seu uso global é avaliado em 100 bilhões de dólares. Com as regras para seu uso se tornando cada vez mais rígidas, agricultores passam a ter menos opções para o combate às pragas. Segundo Halberg, “só na Europa a produção de alimentos diminuiria 50% sem o uso de pesticidas”, por isso desenvolver novas opções e compostos podem ter “ganhos imensos tanto para a vida selvagem, quanto para os humanos”.
Na alternativa para os besouros, o desenvolvimento de um novo composto exige que os químicos projetem uma nova molécula que se assemelhe aos hormônios do inseto. Além disso, é necessária uma forma para que eles absorvam o hormônio, seja pela alimentação ou por meio de seus exoesqueletos.
“Compreender a formação de urina em besouros é um passo importante no desenvolvimento de controles de pragas mais direcionados e ecológicos para o futuro. Estamos agora no processo de envolver especialistas em química de proteínas que podem nos ajudar a projetar um hormônio artificial de inseto. Mas ainda há um muito trabalho pela frente antes que qualquer nova forma de controle de pragas veja a luz do dia”, conclui o professor Halberg.
FONTE: https://olhardigital.com.br/2021/04/19/ciencia-e-espaco/besouros-que-urinam-ate-a-morte-podem-servir-como-pesticida-natural-diz-estudo/