BC discute regulação da tecnologia open banking

Em entrevista à StartSe, Mardilson Queiroz, consultor de Regulamentação do Banco Central, falou sobre as expectativas do open banking para 2019; a tecnologia permite maior integração entre os bancos e as fintechs.

Com a transformação digital dos serviços financeiros, o open banking passou a ser uma pauta cada vez mais discutida no Brasil. Não por acaso, a tecnologia que regula o acesso de terceiros para dados e movimentações bancárias tem sido estudada pelo Banco Central.

A expectativa é de que o Brasil regulamente o tema em 2019. O open banking pode promover uma maior integração entre os agentes do mercado financeiro – como bancos e fintechs -, permitindo mais parcerias, serviços e até novos modelos de negócio.

Uma das formas que o Banco Central está estudando o assunto é observando os modelos já aprovados e atuantes em outros países. “Temos olhado países da Ásia e Europa principalmente. Como isso é um processo novo inclusive lá fora, eles também estão em desenvolvimento, aprendendo e ajustando alguma questão e estamos acompanhando isso”, comenta Mardilson Fernandes Queiroz, Consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, em entrevista à StartSe.

A Europa regulamentou o open banking no início de 2018, a partir da PSD2, chamada de “Segunda Diretriz de Serviços de Pagamento”. Com a iniciativa, os bancos perderam a exclusividade das informações sobre seus clientes.

Agora, no continente, os bancos são obrigados a compartilhar informações financeiras dos clientes com outras empresas. Isso é realizado através de APIs – no português, interface de programação de aplicações -, que integram diferentes sistemas e permitem o compartilhamento de informações de maneira mais segura e automática.

Já na Ásia, a iniciativa foi regulamentada em Singapura, Hong Kong, Malásia, entre outros. No entanto, cada país possui suas próprias diretrizes.

“O lado bom de não ter saído na frente é que acabamos observando e começamos de um nível diferente de quem está começando do zero, pela primeira vez. Tem sido bastante educativo para nós olhar para as experiências internacionais”, afirma o consultor.

Para 2019, a expectativa do Banco Central é de continuar avançando nos estudos em busca da regulamentação. “O open banking está mais proeminente. Vamos conversar com o mercado e de fato definir, ao longo de 2019, como será a implantação no Brasil”, disse Mardilson Queiroz.

O benefício para os brasileiros…

Para os brasileiros, ter o open banking regulamentado é a certeza de um mercado financeiro com ainda mais concorrência. Um exemplo são as fintechs, startups do mercado financeiro. Com os dados bancários dos clientes, fintechs de empréstimo podem desenvolver taxas mais baratas de acordo com o crédito de cada pessoa.

O open banking pode trazer soluções ainda mais diretas. Ele permite que, se desejar, os usuários acessem suas informações bancárias até em outros aplicativos, fugindo do perigo do monopólio bancário.

É claro que, por se tratar de uma tecnologia delicada, o compartilhamento de dados requer cuidados. A regulamentação é quem dirá, por exemplo, com quais tipos de empresas os dados serão compartilhados, além das limitações do compartilhamento.

É por isso que a regulamentação, geralmente, leva tempo. “As vezes, é demandado pelo próprio mercado. ‘A gente pode fazer isso? É possível ou não é’, perguntam as empresas para o BC. A maturação dessas demandas, observando inclusive em modelos internacionais em fóruns que participamos, vai amadurecendo até que culmina em uma norma. Geralmente, leva um ano, um ano e meio”, comentou Queiroz.

No entanto, ele reafirma que o tempo é discutível e tudo depende “do tamanho do porte do projeto regulatório”. “Não existe uma regra pré-definida”, explica.

Um exemplo de startup que atua com uma tecnologia semelhante ao open banking é o Guiabolso. A fintech reúne e analisa os dados bancários de seus clientes, mas a aplicação ainda é manual – os clientes colocam suas senhas bancárias para tal. Com a tecnologia, a expectativa é que essa deixe de ser uma necessidade.

…e para as fintechs

Qualquer decisão em relação ao open banking afetará, inegavelmente, as fintechs. Mas a perspectiva é positiva, principalmente após a regulamentação das fintechs de crédito no ano passado.

“Hoje, não há uma necessidade tão grande de uma instituição financeira depender de um banco. O open banking vem para nivelar melhorar essas potenciais necessidades de um em relação ao outro”, esclarece Mardilson Queiroz.

Com indícios promissores para este ano quanto à regulamentação, as fintechs têm conquistado cada vez mais espaço e são reconhecidas. “O impacto pode ser visto de várias formas. Além de ter concorrência, você percebe uma forma mais adequada de relacionamento com o cliente”, afirmou o consultor do Banco Central.

“Elas vieram com uma roupagem de relacionamento com o cliente muito mais adequada, tempestiva e customizada. Fez com que os grandes se movimentassem frente aos entrantes”, finaliza Queiroz. E esse movimento não parece terminar tão cedo. Confira o Especial da StartSe sobre fintechs.

FONTE: StartSe