Bayer e Embrapa anunciam sequenciamento do genoma do fungo da ferrugem

Os resultados do estudo permitirão o desenvolvimento de novas cultivares com resistência à ferrugem

A Bayer e a Embrapa anunciaram nesta quarta-feira, 2, em evento em São Paulo, o sequenciamento e a montagem do genoma do fungo causador da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Ambas integram um consórcio global formado por 12 entidades públicas e privadas que trabalharam em conjunto para mapear os genes do fungo. Segundo a Embrapa e a Bayer, os resultados do estudo permitirão o desenvolvimento de novas cultivares com resistência à ferrugem e a melhor alocação de recursos para pesquisa de químicos para combater a doença.

A pesquisa teve início a partir de um acordo de desenvolvimento de tecnologias e soluções firmado entre Bayer e Embrapa em 2015, disse o diretor do Centro de Expertise em Agricultura Tropical da Bayer, Dirceu Ferreira Junior. “Com essa informação, Bayer e Embrapa vão começar a trabalhar na pesquisa de novas soluções químicas e de sementes que venham a contornar a facilidade que o fungo tem de se adaptar e criar resistência a esses produtos”, disse. O chefe de pesquisa da Embrapa Soja, Ricardo Abdelnoor, assinalou que o mapeamento do genoma da soja, há dez anos, contribuiu para o entendimento do fungo. “Já sabemos como a soja responde a esse inimigo (a ferrugem). Agora chegou o momento de conhecer o inimigo”, disse. Segundo ele, o sequenciamento do genoma do fungo possibilitará o avanço em tecnologias que “vão levar a soluções mais duradouras contra a doença”. “Foi uma grande conquista, mas a pesquisa não para aqui.”

O gerente de soluções agronômicas para soja e algodão para América Latina da Bayer, Rogério Bortolan, destacou a importância dos resultados também para o restante da América Latina. “O Brasil tem potencial para 45 milhões de hectares nos próximos anos. Mas essa pesquisa, a obtenção do genoma e os próximos passos vão servir para a América Latina como um todo: os mesmos problemas de controle que enfrentamos aqui existem no Paraguai e na Bolívia.”

No Brasil, a ferrugem asiática é hoje a principal ameaça fitossanitária à produção de soja, segundo o pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer. “Há 18 anos a gente vem tentando conhecer a biologia desse fungo. Nós temos uma dificuldade enorme em manter estáveis e efetivas medidas de controle”, afirmou. Ele destacou que atualmente o tripé do controle da ferrugem são medidas legislativas, como vazio sanitário e calendarização do plantio, controle com químicos e desenvolvimento de cultivares resistentes. Contudo, tanto as cultivares quanto os químicos apresentam perda de efetividade ao longo do tempo. Segundo a pesquisadora Francismar Marcelino, também da Embrapa Soja, isso se deve às características genéticas do fungo de alta variabilidade – “É um fungo que muda muito” – e da elevada capacidade de dispersão pelo ar. “Uma variação genética que surge no Rio Grande do Sul pode chegar em uma safra ao Norte do País”, afirmou. Segundo a pesquisadora, o fungo tem um genoma grande, próximo do tamanho do genoma da própria planta de soja, com 22 mil genes, e DNA altamente repetitivo. Com o mapeamento, será possível entender o que o fungo faz e como a planta de soja reage quando ocorre a infecção, o que será útil no desenvolvimento de moléculas e biotecnologia para combate à doença. “Até então tínhamos aberto uma estrada para determinação das estratégias de controle, essa descoberta do genoma asfaltou essa estrada”, afirmou Meyer.

Conforme Francismar, há um horizonte de “médio a longo prazo” para que estratégias de controle relacionadas à biotecnologia cheguem ao produtor. “Tem muita coisa possível a ser desenvolvida. No longo prazo, um período de 10 anos, para transgenia. Com edição gênica talvez leve um tempo menor.” Segundo Bortolan, da Bayer, a empresa usará os resultados para avaliar tanto o potencial de químicos que já estão em desenvolvimento e quanto a possível duração dos que já estão no mercado. “Conhecendo melhor inimigo, poderemos investir mais em pesquisa para trazer soluções um pouco mais rápido”, disse. “Dá para focar melhor os investimentos que a gente quer fazer.” Segundo o executivo, o prazo de desenvolvimento de um novo químico de combate à ferrugem é de 10 anos. “Com esse tipo de informação, podemos reduzir isso”, disse, ressaltando, entretanto, que depois disso ainda há o prazo de aprovação de órgãos regulatórios. A empresa não revelou o montante investido na pesquisa.

A Bayer e a Embrapa estimam que o custo de controle da ferrugem a cada safra pode chegar a US$ 2,8 bilhões. Boa parte desses recursos é gasta no Brasil, já que a dimensão do problema por aqui é maior do que nos vizinhos Bolívia e Paraguai.

FONTE: ÉPOCA