A batalha mundial dos subsídios para painéis solares

*escrito por Felipe Augusto

Como a China desbancou os países ocidentais para se tornar o maior produtor mundial de painéis solares? Os EUA foram os pioneiros na tecnologia solar, graças à demanda do seu programa espacial. Muito mais cara do que os combustíveis fósseis, ela só fazia sentido onde não era possível utilizar outra opção, como nos satélites encomendados pela NASA. Na virada do século, preocupações com a segurança energética, o desastre de Chernobyl e o aumento do movimento ambiental na Alemanha levaram à implementação de um subsídio que garantia preços altos a produtores de energia solar. Em 2009, 49% das instalações solares no mundo eram alemãs. Nos EUA, George W. Bush passaria a ser o primeiro presidente americano a prometer que os EUA se tornariam uma superpotência em energia limpa. Nesse contexto, incentivos foram desenhados para atrair empresas para a produção de painéis solares. No Oregon, por exemplo, a alemã SolarWorld recebeu isenções fiscais estaduais equivalentes a 35% dos custos do projeto. Faculdades locais lançaram programas para treinar trabalhadores na produção de painéis. Lei criada sob Bush previa garantia estatal para empréstimos ao setor. Mais tarde, Obama prometeu 5 milhões de empregos “verdes”. Isenções fiscais de 30% do custo das plantas foram concedidos para fabricantes de energia limpa. O programa de garantia estatal saiu do papel e viabilizou capital inicial para tecnologias avançadas em energia.

Na Ásia, a China utilizava ainda mais ferramentas: empréstimos subsidiados, isenções fiscais, compras governamentais, eletricidade e terrenos a preços baixos, conteúdo local. Resultado: sobrecapacidade, aprendizado produtivo e inundação de painéis chineses a preços baixos. Em 2010, na sede da Solyndra, um confiante Obama afirmou que os EUA sairiam de 5% da produção de painéis solares para 10% nos anos seguintes. Só que a própria Solyndra entraria em falência um ano depois, dando calote de US$ 535 milhões ao governo americano. Sem muita saída, Obama apelou para tarifas de até 249% sobre as importações de painéis chineses em 2012. Na Europa, medidas anti-subsídios e antidumping foram aplicadas entre 2011 e 2014. A China reagiu iniciando disputa na OMC contra as medidas europeias e retaliando diretamente os EUA com tarifas de 57% sobre o políssilício, um insumo chave para a produção de painéis solares. Os EUA, que produziam 50% dos polissilícios mundiais, hoje produzem apenas 5%. Até Trump, que não era um conhecido defensor de energias renováveis, atuou para proteger o setor, com cotas de importação e tarifas de 30%. Não adiantou muito. Hoje, apenas 14% dos empregos ligados ao setor solar estão na indústria. E produzem apenas peças mais simples. Biden, além do megapacote de infraestrutura “verde”, pretende ressuscitar as isenções fiscais de 30% e fazer uso de compras governamentais para estimular a indústria nacional. Não será nada fácil. A China hoje produz 80% do polissilício mundial e quase 98% dos wafers e lingotes. Sete dos dez maiores produtores de painéis são chineses. Metade do polissilício mundial agora é produzido em Xinjiang. O governo Biden não descarta sanções a produtos solares originários dessa província, alegando abuso de direitos humanos da minoria Uigur. A China afirma que é pura desculpa do Ocidente para proteger suas empresas. Analistas americanos ainda não jogaram a toalha. Acreditam que o país pode desenvolver a próxima geração da tecnologia solar, ultrapassando novamente os chineses. Porém, para isso, dizem que os esforços terão que ser maiores e mais duradouros do que foram.

FONTE: https://www.paulogala.com.br/a-batalha-mundial-dos-subsidios-para-paineis-solares/?fbclid=IwAR2vPHf5E2QKa8mX3mmWGH0vi2g4_m0STjXyHIDE5_Q6IGbRglKNtDqOcnA