Bancos tem reforço na briga com fintechs

Nova regra retira exigências para abertura de contas digitais pelos bancos em 2020.

As regras para abertura, manutenção e encerramento de contas de depósitos serão simplificadas a partir de janeiro de 2020, em uma decisão do Conselho Monetário Nacional que deve reforçar os bancos tradicionais na competição com as fintechs.

Foram revogadas 10 exigências para abertura de contas em bancos, incluindo a obrigatoriedade de documentos e comprovantes físicos na abertura de contas.

Até agora, só estavam dispensadas de pedir documentos físicos as chamadas “instituições de pagamento”, uma categoria menos regulada de instituições financeiras que incluem as chamadas fintechs.

Um dos principais atrativos para os clientes (e fonte de corte de custos) de fintechs como a Nubank foi justamente o processo digital de abertura de contas, usando recursos como fotos de documentos e biometria facial.

Agora, os bancos também poderão determinar, segundo suas próprias políticas de negócios e de acordo com o perfil de cada cliente, quais documentos o cliente terá de enviar para começar seu relacionamento com cada banco.

“Com a nova resolução, o processo de abertura de relacionamento em canais digitais ficará mais amigável e conveniente para os clientes”, afirma Leandro Vilain, diretor de Negócios e Operações da Febraban, entidade que representa os grandes bancos do país e participou da elaboração das novas regras.

Para Vilain, o processo também ganhou maior sofisticação, porque permitirá o uso de mais fatores de autenticação dos usuários e das operações, como georreferenciamento e a consulta de dados em outras bases públicas ou privadas de informação.

Os bancos também poderão encerrar contas nas quais identificarem irregularidades consideradas graves em informações prestadas, o que é um incentivo para facilitar a abertura de contas por canais digitais.

O número de fintechs em operação no Brasil só aumenta. Entre agosto de 2018 e julho deste ano a cifra total aumentou de 453 para 604, um aumento de 151 empresas, um salto de 33%, segundo dados do Radar FintechLab.

Dentro desse grupo, o bloco de iniciativas dedicadas a conceder empréstimos chega a quase 100, as de pagamentos 151 e as de investimentos 38.

Em setembro, Roberto Setúbal, presidente do conselho do Itaú Unibanco, disse em conferência com analistas que tem se “angustiado toda noite”, pensando nas fintechs.

É interessante de se observar a distância que separa a conversa de Setúbal com os analistas com uma manifestação pública sobre o assunto feita em 2016.

Na época, fazendo um dos keynotes do Ciab Febraban, o executivo afirmou que os os bancos brasileiros poderiam encarar com relativa tranquilidade o fenômeno das fintechs.

“Se as margens ficarem menores, os custos precisam ficar menores. A equação vai seguir fechando se os bancos souberem trabalhar direito”, resumiu Setúbal, na ocasião.

Muita coisa mudou desde então, incluindo a qualidade e a quantidade de fintechs em operação no país.

Em julho, o Nubank foi avaliado em R$ 10 bilhões, um marco histórico para o mercado de fintechs.

Capitalizadas, fintechs como Nubank e Banco Inter também não sofrem a pressão por lucratividade de um banco estabelecido.

“As fintechs têm licença para perder dinheiro. Se permitissem essa mesma licença ao banco, o regulador ficaria preocupado”, agregou Candido Bracher, CEO do Itaú Unibanco, na mesma call com investidores.

Bom, parece que os reguladores decidiram dar uma colher de chá para os bancos.

FONTE: BAGUETE