Bancos precisam escolher entre competir e colaborar com fintechs, big techs ou bancos digitais

CEOs de instituições financeiras internacionais avaliam que dentro do cenário de transformação digital, empresas inovadoras são importantes e colaboração é sinônimo de oportunidade

CEO do Deutsche Bank nos EUA, Christiana Riley, que participou do painel sobre “Global Banking”, em evento on-line do Financial Times — Foto: Reprodução

Dentro do cenário de transformação digital do sistema financeiro, os bancos tradicionais têm de escolher se vão competir ou colaborar com novos entrantes, como fintechs, big techs ou bancos digitais, afirmou a CEO do Deutsche Bank nos EUA, Christiana Riley, que participou do painel sobre “Global Banking”, em evento on-line do Financial Times.

“O mercado financeiro é muito competitivo globalmente, mas nós fizemos uma escolha de parceria para levar adiante uma modernização muito importante e necessária em termos de tecnologia e infraestrutura do mercado”, pontuou a executiva.

Segundo Riley, o banco alemão iniciou nos últimos anos um processo de mudança dos sistemas legados para uma infraestrutura baseada em nuvem. A mudança mostra como o sistema financeiro pode se beneficiar de parcerias com big techs, avaliou a executiva.

“Estamos mais focados na colaboração do que na competição porque vemos muitas oportunidades”, disse a CEO do Deutsche EUA. “No espaço de pagamentos, por exemplo, vemos inovações fenomenais. O banco pode prover uma plataforma importante para esses modelos ganharem escala.”

Conforme o CEO do Standard Chartered, Bill Winters, “vemos essas grandes ideias e estamos no mesmo lugar [do Deutsche] e vejo fintechs mais como ajuda do que ameaças”. Segundo o executivo, o banco inglês tem investimentos em várias fintechs com diversos modelos de negócios, de pagamentos a contas digitais, bem como um serviço de banco como serviço em alguns países. “Há uma competição, mas por boas ideias e tratar bem o consumidor”, acrescentou.

Na visão do CEO do Mashreq Bank, dos Emirados Árabes Unidos, Ahmed Abdelaal, “as fintechs estão criando as ferramentas da próxima geração e cada lado pode colaborar fazendo o que faz de melhor”. O executivo ressaltou que a convergência entre instituições incumbentes e as os novos entrantes cria oportunidades em ambientes como o do open banking ou em plataformas de banco como serviço (BaaS, na sigla em inglês).

“Há um grande espaço para coexistência entre bancos, fintechs e big techs também. Há um novo mindset [na indústria financeira] voltado cada vez mais para as necessidades do cliente”, afirmou o CEO do Mashreq. O executivo citou como exemplo do avanço da conveniência e das possibilidade de inclusão financeira proporcionado pelas mudanças tecnológicas a facilidade de abertura de novas contas. “Hoje conseguimos abrir uma conta digital em 3 minutos, o que era impossível dois anos atrás”, pontuou Abdelaal.

Sobre o mercado de criptomoedas e criptoativos, o CEO do Standard lembra que, apesar das turbulências recentes no mercado, a tecnologia por trás desses novos ativos digitais vão desempenhar um papel importante no futuro do sistema financeiro. “As ‘stablecoins’, por exemplo, sejam emitidas por BCs ou por entes privados serão ferramentas essenciais na economia digital.”

Conforme Riley, do Deutsche, “stablecoins e criptomoedas são parte do futuro e o sistema financeiro precisa estar preparado, com infraestrutura e parcerias com big techs, fintechs e no mundo do ‘DeFi’ [decentralized finance ou finanças descentralizadas na tradução do inglês] para ajudar os clientes com o que vem por aí”.

Em termos de cenário de riscos, diante de um agravamento do ambiente macroeconômico e geopolítico, os executivos veem tempos difíceis pela frente, mas enfatizaram que as turbulências podem ter uma duração menor do que a esperada.

Na análise de Abdelaal, do Mashreq, “a tendência é continuarmos lutando contra preços elevados de energia, alimentos e inflação alta por algum tempo”. Conforme o executivo, os efeitos da pandemia potencializados pela guerra da Ucrânia não são uniformes e vão pesar mais sobre países de baixa renda. “O impacto varia dependendo do país. Se for um país de baixa renda, o risco de crédito, especialmente, pode ficar maior, com o sistema financeiro local com dificuldade de liquidez.

“Por outro lado, avaliou o CEO do Mashreq, “países exportadores de petróleo tendem a se beneficiar de preços mais elevados da commodity, o que pode prover um certo colchão para as condições mais restritivas”. Conforme Abdelaal, “os custos de financiamento aumentaram significativamente, mas dessa vez os preços do altos do petróleo podem dar suporte à liquidez”.

Para a CEO do Deutsche EUA, “no médio prazo, as mudanças nas cadeias de energia podem trazer algumas oportunidades”. Na visão da executiva, “pode haver oportunidades no incremento de investimentos em distribuição e na produção sustentável de energia”.

O CEO do Standard Chartered disse acreditar que os problemas em termos de inflação e alta de juros globalmente acirrados pela guerra podem levar a uma recessão no próximo ano. “Alguns países estão sofrendo mais, devido aos preços de energia, mas os exportadores de commodities irão relativamente bem. O aumento de custos de salários [nos EUA], a subida de juros, substancialmente, podem levar a uma contração de atividade econômica, mas deveremos sair relativamente rápido, se nada mais ficar pior [em termos de inflação e tensões geopolíticas].”

A CEO da filial americana do Deutsche compartilha de visão semelhante ainda que tenha ressaltado ser muito difícil enxergar o cenário diante da subida de juros pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA). “Se não houver escalada da crise geopolítica podemos ver a política monetária mudar rapidamente [se houver uma desaceleração mais forte da atividade]”, pontuou.

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/06/07/bancos-precisam-escolher-entre-competir-e-colaborar-com-fintechs-big-techs-ou-bancos-digitais.ghtml