Bancos digitais apostam em novas ferramentas

Mudanças culturais e na regulação favorecem o mercado

Por Danylo Martins — Para o Valor, de São Paulo

Há alguns dias, o Nubank anunciou que atingiu a marca de 20 milhões de clientes. Ainda distante dos números das grandes instituições financeiras, a fintech – que se popularizou pelo cartão roxo sem anuidade – pavimentou o caminho para o avanço dos bancos digitais.

Prova disso é que, entre 2017 e 2018, mais do que dobrou o número de bancos digitais no país, segundo estudo recente do boostLAB, do BTG Pactual, em parceria com a empresa de inovação ACE. Com o chamariz de uma conta digital gratuita, o Banco Inter ultrapassou 4 milhões de clientes no fim de 2019, em comparação a 1,45 milhão no último trimestre de 2018. Neste ano, a expectativa é pelo menos dobrar a quantidade de clientes, para 8 milhões, prevê Priscila Salles, diretora de marketing e CRM do banco. Segundo ela, o alto nível de desbancarização no país é uma oportunidade para fisgar novos clientes. Correntistas insatisfeitos com os serviços de grandes bancos também estão na mira.

“Os bancos digitais ficaram mais conhecidos em 2019, mas agora o maior desafio é como se diferenciar”, observa. Uma das estratégias da instituição mineira é o chamado “super app”, plataforma lançada em novembro de 2019 e que reúne produtos e serviços de mais de cem lojistas, entre aluguel de carro, eletrodomésticos e passagens aéreas. “Hoje, o aplicativo é a vida das pessoas e oferece cada vez mais conveniência”, aponta. Para 2020, uma das metas é o lançar uma solução de pagamento instantâneo, diz.

O Banco Original passou de 700 mil clientes em 2018 para 3 milhões no fim do ano passado. Os novos correntistas têm vindo, principalmente, dos bancos tradicionais, explica Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia da informação, produtos e operações do banco. Para Moreira, o ambiente regulatório favorável, a evolução tecnológica e as mudanças no comportamento do consumidor são os fatores que explicam o crescimento dos bancos digitais no Brasil. “Para que possa efetivamente ser o principal banco do cliente, é preciso ter uma solução completa.” A instituição também decidiu ingressar no segmento de pequenos negócios e lançou no ano passado uma conta digital para microempreendedores – em menos de um ano, atingiu 100 mil clientes. Segundo Moreira, o grande desafio dos bancos digitais é conquistar a confiança, mas a tendência é que os brasileiros comparem cada vez mais as opções.

“Nos próximos cinco ou seis anos, pelo menos um banco digital estará entre os cinco maiores”, diz. Fundada em 2016, a Neon Pagamentos aposta em produtos e serviços para pessoas físicas, microempreendedores e pequenas empresas – com até 50 funcionários. No ano passado, a fintech comprou a MEI Fácil, empresa que ajuda no processo de abertura de microempreendedor individual. “Nossa obrigação é fazer com que a pessoa tenha tempo para fazer o que sabe fazer e não precise gastar tempo com complexidades financeiras”, afirma Jean Sigrist, sócio da fintech, hoje com cerca de 2 milhões de clientes.

Com foco nas classes C e D, o Agibank tem investido na combinação entre canais digitais e a presença física. Na contramão das maiores instituições financeiras, o plano do banco gaúcho é passar dos cerca de 600 pontos de atendimento para mais de 1.400, voltados principalmente para clientes que não têm familiaridade com tecnologia, conta Fernando Castro, diretor de tecnologia, produto e marketing do Agibank, que tem 1,2 milhão de clientes. Até o fim do primeiro semestre, o banco prevê lançar uma nova versão do aplicativo. Em setembro do ano passado, o BS2 lançou uma solução para empresas, com conta digital, plataforma de cobrança e maquininha oferecida pela Adiq, credenciadora do grupo. A ideia é montar um marketplace com produtos e serviços não apenas financeiros, por meio de parceiros.

“Criamos a base para isso porque a plataforma tecnológica é composta por diversas APIs [interface de programação de aplicações]”, conta Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva do banco. Com 400 mil clientes, o BS2 criou uma conta digital internacional em dólar e ampliou a plataforma aberta de investimentos, que hoje reúne mais de cem produtos. Com isso, entrou na briga por um mercado cada vez mais concorrido, que inclui XP, Órama, Guide e BTG Pactual digital.

“Temos estrutura de custos baixa e adequada ao cenário atual, de juro baixo”, diz Marcelo Flora, head do BTG Pactual digital. Em sua prateleira, a plataforma soma cerca de 400 fundos de 150 gestores, além de uma oferta de mais de 30 fundos de previdência. No ano passado, o banco lançou um simulador de previdência e planeja incluir novas funcionalidades no aplicativo, numa estratégia conhecida como “mobile first” – desenvolvimento de soluções inicialmente para dispositivos móveis.

FONTE: VALOR ECONOMICO