Bancos digitais ampliam serviço para atender melhor os clientes

Os principais bancos puramente digitais e fintechs (empresas de tecnologia que ofertam serviços financeiros) já contabilizam 5,737 milhões de contas correntes e de pagamento.

É pouco em um universo de mais de 160 milhões delas, mas mostra o potencial desse segmento, que se estabeleceu no país há menos de três anos.

O cliente é atraído pelo custo menor, já que muitas vezes há isenção de tarifas e facilidade de acesso. Daqui para frente, ele deverá contar com um leque cada vez maior de serviços.

Davi Cunha, responsável pela área de bancos digitais da consultoria Sciensa, lembra que essas instituições estão ganhando força rápido, ao mesmo tempo que expandem o leque de produtos.

Dessa forma, conseguem ir além da oferta de um cartão para fazer transações do dia a dia e já se preparam para o open banking . Nesse modelo de negócios, é possível que uma instituição financeira compartilhe com outras empresas o acesso à sua base de clientes.

“Não sabemos qual será a velocidade de adoção do open banking no Brasil, já que não há um modelo desenhado no país. Mas é um sistema extremamente necessário, porque a própria competição bancária estimula esse tipo de compartilhamento de clientes — explica Cunha, lembrando que isso também reduz custos e permite a oferta de produtos mais em conta.

Nesse modelo, o cliente de um banco digital poderá receber oferta de uma seguradora dentro da plataforma que já utiliza. Isso é possível porque a instituição financeira dá abertura para esse acesso através de APIs (sigla em inglês para interface de programação de aplicações).

Maior concorrência. O Banco Central espera que ainda neste ano seja possível estabelecer uma regulação para esse modelo. Com parâmetros definidos, o open banking deve ganhar força, assim como ocorreu na Europa.

O novo presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse na semana passada, em sua posse, que esse modelo é uma das ferramentas para estimular a concorrência bancária no Brasil.

Enquanto a regulação não chega, os bancos já fazem alguns testes. No Next, banco digital do Bradesco, que começou a operar em outubro de 2017, os clientes têm acesso aos serviços mais demandados: cartão de crédito, pagamentos e linhas de empréstimo.

Ainda assim, a instituição decidiu fazer parcerias com outras empresas para a oferta de serviços nesse novo modelo de negócios.

“Isso permite dar mais benefícios aos clientes. É possível oferecer serviços que estão na rotina dos usuários ou produtos financeiros”, diz Jeferson Honorato, diretor do Next.

Um dos APIs do banco permite a oferta, por exemplo, de um serviço de cashback (devolução de parte do dinheiro gasto) feito pela fintech Get More.

A devolução de parte das compras feitas em 240 lojas parceiras vai diretamente para a conta do correntista. Com o mesmo modelo de open banking , é possível também chamar um carro do Uber diretamente pelo aplicativo do Next.

O desenvolvimento de um novo serviço em uma plataforma já cheia de produtos, como a de um banco, pode levar tempo. A abertura para uma empresa já existente é mais ágil, o que permite uma oferta mais rápida de serviços aos clientes de bancos digitais. O objetivo é atender à demanda do público mais jovem, em geral mais conectado e sedento por novidades. No caso do Next, 88% dos 750 mil clientes têm entre 18 e 35 anos.

O modelo também parte do pressuposto de que as informações bancárias pertencem ao cliente, não ao banco, e, por isso, caso ele queira, podem ser compartilhadas com outros prestadores de serviço.

O Original, primeiro banco digital do país, também permite que fintechs tenham acesso a esses APIs. Um dos exemplos é a Picpay, empresa que oferece cartões de crédito virtuais.

“É questão de estar preparado para esse modelo. Isso, inclusive, é uma das diretrizes do Banco Central. Já temos essa parceria com a Picpay, o que garante a oferta do crédito de forma mais automatizada”, diz Raul Moreira, diretor de Tecnologia e Produtos do banco.

Além da oferta de serviços bancários de forma gratuita a seus clientes, o Inter vê que a transformação no setor exige a oferta de uma nova experiência ao cliente.

“Temos serviços de câmbio, venda de cartões-presente e recarga de celular. A proposta central é que somos um banco, mas, na prática, somos um marketplace (plataforma de oferta de produtos) capaz de oferecer outros serviços — explica Ray Chalub, diretor de Conta Digital do Inter.

Estímulo do BC. No Brasil, o maior número de contas digitais está no NuConta — que não faz parte de um banco, mas da fintech Nubank, que funciona como uma instituição de pagamento.

Vitor Olivier, responsável por esse serviço, acredita que é possível expandir ainda mais o acesso dos clientes a serviços, mesmo sem ser um banco. Uma das razões é o próprio estímulo do BC às fintechs, que podem contribuir para a expansão dos serviços bancários e do crédito no Brasil.

“Somos uma empresa de tecnologia que presta serviços financeiros. Com o lançamento da função débito, a perspectiva é cada vez mais positiva, pois a NuConta nos permitirá tornar clientes aqueles que ainda não conseguimos atender com o cartão de crédito — diz Olivier. (de O Globo)

FONTE: O GLOBO