Bancos criam linhas para energia renovável

A matriz energética brasileira é considerada referência mundial pela elevada participação, de 45,3%, de fontes renováveis em sua composição. Ainda assim, há um bom espaço para aumento da fatia da chamada energia verde no consumo do país. Com essa visão, bancos de desenvolvimento e organismos multilaterais vêm criando programas de financiamento para a transição energética rumo a uma matriz limpa, em linha com a Agenda 2030 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável. É o que mostram as carteiras dessas instituições, que aumentaram seus financiamentos a projetos de usinas eólica e solar.

Pioneiro no financiamento de projetos de energias renováveis no Brasil, com de cerca de R$ 36 bilhões aprovados nos últimos cinco anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entrou firme no financiamento à geração solar. A carteira reúne cinco operações aprovadas, com investimentos de R$ 2,8 bilhões e capacidade de quase 500 megawatts.

O banco também está empenhado na expansão de eficiência energética e geração distribuída (GD), que tem 1 gigawatt de potência instalada, com fonte basicamente solar, e acaba de lançar nova linha: BNDES Direto 10, para operações entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, com prazo de amortização de até onze anos. “O Brasil precisa avançar em eficiência energética e geração distribuída” diz superintendente da área de energia do BNDES, Carla Primavera.

Atuante no país, o banco de desenvolvimento alemão KfW destinou US$ 500 milhões nos últimos dez anos para financiamento usinas de energia eólica. Só em 2018, conforme Martin Schröder, diretor do KfW no Brasil, foram € 120 milhões emprestados ao BNDES, seu principal parceiro no Brasil, para o ProClima, programa destinado à mitigação das mudanças climáticas por meio de financiamento a projetos de eficiência energética e energias renováveis, como parques solares em Minas Gerais, iluminação pública e cogeração na indústria.

No Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), os contratos para projetos de energia renovável dentro do programa Produção e Consumo Sustentáveis (PSC) cresceram 14,5% entre dezembro de 2016 e agosto deste ano, atingindo R$ 1,3 bilhão, de um total de R$ 1,6 bilhão contratado nos últimos quatro anos também para setores de agricultura de baixo carbono, gestão de resíduos e uso sustentável da água. Os projetos em energia eólica e solar são destaques do PSC, segundo Luciano Feltrim, superintendente de planejamento e sustentabilidade do BRDE, e são demandados por empresas de porte e setores variados como supermercados, confeitarias, fábricas de móveis e escolas.

A La Salle foi uma delas. A instituição contratou R$ 6,4 milhões com o BRDE para instalação de dois parques de geração de fonte fotovoltaica em Nova Santa Rita e em Viamão (RS). As usinas, que terão capacidade de 2 MW, fornecerão energia para 12 unidades da La Salle. Além da economia, de cerca de 60%, as usinas serão utilizadas no processo educativo, com duas estações meteorológicas, utilizadas para pesquisa acadêmica, segundo Graciela Oliveira, coordenadora de comunicação e marketing da empresa.

A agenda renovável também inclui o biogás. A Ecometano, associada da A Biogás, é pioneira no Brasil na produção de gás natural a partir de resíduos sólidos. Ela tem unidades em São Pedro da Aldeia (RJ) e em Caucaia (CE), cujo aterro sanitário recebe em média 4 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Com investimentos de R$ 100 milhões, a planta cearense contou com financiamentos do Banco do Nordeste (BNB) e a empresa está em nova negociação com o banco para a expansão da usina.

Segundo Melina Ushida, gerente de novos negócios da Ecometano, a capacidade de geração de biometano de Caucaia é de 90 mil m3 por dia e 100% da produção é injetada na rede de distribuição de gás natural da Cegás, a concessionária local. “O biometano já representa 20% de todo o gás natural comercializado no Ceará”, lembra.

Projetos de energias renováveis são foco também do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). “Temos uma carteira com mais de R$ 45 milhões em projetos fotovoltaicos, 77% deles no norte do Estado”, diz o economista-chefe do banco, Adauto Modesto Junior, destacando o potencial da região, com grande incidência solar.

Em processo para a instalação de escritório regional das Américas, com sede em São Paulo, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) vem construindo uma carteira sólida de projetos no Brasil. Conhecido como o banco do Brics, a instituição aprovou US$ 621 milhões em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável no país. Os projetos no Brasil representam 6,2% da carteira total do banco. “A meta é elevar o percentual para até 20% a médio prazo”, destaca Cláudia Prates, diretora geral do escritório regional Américas.

FONTE: O PETROLEO