Bancos aceleram digitalização para fintar a onda de fintechs

Da CGD ao Crédito Agrícola, os bancos em Portugal apostam em força na corrida ao ouro da banca digital.

A banca vive numa era de crescente automação de processos, inteligência artificial e algoritmos. Uma era em que os dados são ouro. Em Portugal, o setor prepara-se para uma onda de rivais digitais. Para o presidente executivo do Caixa Agrícola (CA) é certo que as fintechs vão “parcialmente” substituir os bancos tradicionais.

“As fintechs têm um modelo de negócio diferente do que conhecemos durante muitos anos no sistema bancário”, disse Licínio Pina ao Dinheiro Vivo. O banco que tem 675 balcões – a maior rede de agências do país – e tem vindo a reforçar a sua aposta na área tecnológica e na oferta de serviços digitais, com um investimento anual de mais de 20 milhões de euros nessa área.

Os novos concorrentes dos bancos, que oferecem serviços através do telemóvel e da Internet, ganham cada vez mais espaço. As novas regras abrem espaço para haver ainda uma maior concorrência por parte de fintechs. A britânica Revolut – popular em pagamentos e transferências de dinheiro no estrangeiro – conta com mais de 120 mil clientes em Portugal. A empresa – que já é banco -, bem como o N26 e a Monese, ganha espaço aos bancos.

Em setembro, entra em vigor – com atraso – a nova diretiva comunitária de serviços de pagamentos. Em Portugal, a banca optou por uma plataforma única desenvolvida pela SIBS – que é detida pela generalidade dos bancos no mercado. Além de investirem no alargamento da base de clientes digitais e no desenvolvimento de novas aplicações, os bancos tradicionais apostam também na associação a tecnológicas financeiras para não ficarem para trás.

“As fintechs vieram despertar os bancos para uma realidade adormecida que terão de desenvolver e acompanhar”. Licínio Pina CEO da Caixa Central de Crédito Agrícola É o caso da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e do Banco Montepio. “Cada vez mais assiste-se à colaboração entre as fintechs – particularmente startups com soluções tecnologicamente muito inovadoras e os bancos tradicionais, porque os clientes continuam a precisar de todos os serviços”, disse Paulo Macedo, presidente da CGD, ao Dinheiro Vivo.

“E, à medida que os bancos fazem eles próprios incorporação tecnológica, a colaboração é frequentemente a resposta mais eficiente e onde uns e outros – bancos, fintechs e clientes – mais têm a ganhar”. [Os bancos] devem saber tirar todo o partido das fintechs”, disse Dulce Mota, CEO do Banco Montepio. CGD líder Mais de 3,5 milhões de portugueses utilizam os serviços de banca na Internet, quase 40% da população residente, segundo um estudo da Marktest. Face ao final de 2017, quando 32% dos portugueses usavam a banca digital, o mercado português deu um salto. A estatal CGD assume-se como a líder na área da banca digital. Conta com mais de 1,5 milhões de clientes no serviço Caixadireta. O banco público tem várias aplicações: Caixadireta, Caixa Easy e Caderneta. A app Caixadireta tem uma quota de mercado de 47%, com mais do dobro dos utilizadores do banco que surge em segundo lugar.

“O Banco Montepio está atento a este setor está inclusivamente aberto a eventuais parcerias no futuro”. Dulce Mota CEO do Banco Montepio O Millennium bcp, que tem mais de um milhão de clientes digitais em Portugal, inicia este sábado o pré-lançamento das novas Apps Millennium bcp e Activobank. Recentemente, lançou as Apps Mtrader e ActivoTrader. O Santander está a ter um aumento anual de 34% no número de clientes digitais que somam 734 mil, e tem vindo a recrutar especialistas em matemática. O Novo Banco criou o cargo de chief digital officer – ocupado pelo ex-Mckinsey João Dias – e vai investir 80 milhões de euros no digital até 2021. Recentemente, o banco lançou a abertura de conta online com uma aplicação do Estado. Mas, apesar da aposta no digital, os bancos não preveem a morte dos balcões.

“É previsível que a médio prazo tenhamos uma solução híbrida, com uma forte componente digital para as operações do dia-a-dia”, disse Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal. Paulo Macedo garante que a CGD “vai continuar a investir nas agências tradicionais, de forma a adaptar aí a qualidade e rapidez de serviço às exigências dos clientes e à experiência que o cliente tem nas plataformas digitais”. “Bancos e fintechs são complementares.

As fintechs trazem inovação, novas soluções e o futuro passa por obter as melhores sinergias”. Pedro Castro e Almeida CEO do Santander Portugal AdC pronta para intervir “O acesso aos serviços bancários terá de ser tão fácil quanto é hoje em dia enviar um e-mail ou efetuar a aquisição de uma passagem aérea online”, disse fonte oficial do Banco de Portugal, que admitiu que a “inovação coloca enormes desafios aos reguladores”.

A Autoridade da Concorrência “não deixará de tomar uma posição caso identifique restrições à concorrência no mercado que comprometam o benefício da inovação para os consumidores, que as fintechs representam”, disse uma fonte oficial do regulador, ao Dinheiro Vivo. Em Portugal, os bancos optaram por uma plataforma única desenvolvida pela SIBS. Mas Luís Vieira, presidente da AFIP – Associação Fintech, avisa: algumas das fintechs “serão muito fortes no futuro próximo” no país.

FONTE: DINHEIRO VIVO