Banco digital alemão N26 repensa a sua presença no Brasil

O banco alemão anunciou sua chegada ao Brasil em fevereiro de 2019. Mas o NeoFeed apurou que ele estaria deixando o País antes mesmo de ser lançado

Em fevereiro do ano passado, o anúncio veio por meio de um tweet. “See you soon Brazil!”, escreveu o banco digital alemão N26 na rede social. Era oficial, a fintech com presença em mais de 20 países desembarcaria no concorrido mercado brasileiro.

O escritório foi montado e o general manager da operação local foi escolhido. Eduardo Prota, experiente executivo que trabalhou no Santander, na Cielo e na startup de mobilidade Tripda, assumiu o comando do negócio por aqui e começou a montar o time.

Não demorou para o banco se pronunciar sobre a atuação no mercado local. Em abril, Prota concedeu entrevista ao Infomoney, site de propriedade da XP Inc., e disse que iniciaria as operações ainda em 2019. O ano terminou e nada.

No site do N26 consta a seguinte mensagem: “A conta digital que o mundo ama está chegando”. E um ícone para quem pretende se cadastrar na “Lista de Espera”. Segundo fontes do mercado, ouvidas pelo NeoFeed, a tal espera pode não ter fim.

Profissionais que conhecem a empresa disseram que a matriz desistiu de operar no Brasil. Os funcionários já teriam sido avisados pelo board da companhia que o País já não faz mais parte do plano de crescimento da fintech. Pelo menos, agora.

Procurado pelo NeoFeed, Prota afirmou que o N26 continuará operando no Brasil. Sobre o início da operação, o executivo afirma que “a data está bastante aberta” e que vai iniciar “quando tiver um produto bom e competitivo”.

Indagado sobre funcionários do banco que estariam deixando a operação no Brasil, ele também diz que “como em qualquer empresa, há um ajuste de rota”. Mas preferiu não comentar sobre o número atual de funcionários.

Executivos que conhecem a operação do N26, entretanto, disseram ao NeoFeed que o que teria feito a fintech repensar a sua presença no Brasil foi, principalmente, o tamanho de seus rivais já estabelecidos por aqui.

Nubank, cujo modelo mais se assemelha ao N26, por exemplo, já conta com mais de 20 milhões de clientes. O Inter tem mais de 4,5 milhões, o Original ultrapassou os 3 milhões, o Neon está com 2 milhões e o C6 conta com 1 milhão de clientes. Detalhe: à exceção do Nubank, que ainda está em fase inicial de internacionalização, todos são focados no mercado brasileiro.

Os fundadores: os austríacos Maximilian Tayenthal (à esq.), atual CFO da empresa, e Valentin Stalf, o CEO do N26

Fundado em 2013 pelos empreendedores austríacos Valentin Stalf e Maximilian Tayenthal, o N26, de acordo com o site CrunchBase, já recebeu US$ 682,2 milhões em sete rodadas de investimentos. Isso fez com que seu valor de mercado atingisse os atuais US$ 3,5 bilhões.

Entre os principais investidores do N26 estão a chinesa Tencent, que também já aportou US$ 400 milhões no Nubank; a Horizon Ventures; o fundo GIC de Cingapura; e o Valar Ventures, do empresário americano Peter Thiel – o cofundador do PayPal e da Palantir.

A fintech alemã tem muito funding, é verdade, mas não o suficiente para engatar uma operação robusta no Brasil ao mesmo tempo em que opera em mais de duas dezenas de países.

O N26 está em 26 países, sobretudo na Europa, e desembarcou nos Estados Unidos em julho do ano passado para tirar clientes de bancões como Citibank, Chase Bank, Bank of America e Wells Fargo. Desde então, conquistou 250 mil clientes nos EUA, atingindo um total de 5 milhões de clientes no mundo.

A avaliação é a de que seria muito difícil ganhar tração no País. Some-se a isso, a dificuldade de obter licenças para atuar aqui. A regulação é muito grande e complexa. “O mercado brasileiro não é fácil. Para se dar bem aqui, tem de ter foco”, diz um banqueiro que atua no segmento digital.

Há também uma competição cada vez mais crescente no universo de contas digitais. Empresas como Mercado Pago, do Mercado LivreAme Digital, da B2W; BanQi, da Via VarejoMagazine Luiza e Lojas Pernambucanas são alguns exemplos de varejistas que estão pisando no acelerador para capturar os clientes dos bancos tradicionais.

Há quem enxergue uma bolha neste segmento. “Muitas vão morrer. Será sangue para todo lado”, diz um executivo do setor. Na visão desse profissional com vasta experiência no mercado financeiro, vai ganhar a competição quem apostar em uma oferta completa. “O próprio Nubank, que começou com cartão de crédito, acordou para isso e está oferecendo mais serviços”, diz ele.

Estima-se que para botar um banco completo de pé seria necessário R$ 1 bilhão em investimento. E isso não é garantia de sucesso. O N26 teria de competir com os bancos digitais que já estão estabelecidos e conhecidos por aqui e também se preparar para as respostas dos bancos tradicionais que estão investindo em marcas digitais.

FONTE: NEOFEED