AUVs: conheça os robôs submarinos autônomos que estão criando nova era da vigilância no mar

Para além de usos científicos, Austrália, Reino Unido, China e Estados Unidos são alguns dos que já possuem ou começaram a investidor nos veículos subaquáticos autônomos para fins militares.

Os veículos subaquáticos autônomos (AUVs, na sigla em inglês) surgiram para explorar áreas de alta pressão do fundo do oceano que são inacessíveis por humanos. Apesar de seu uso inicial ser voltado para cientistas e empresas de petróleo e gás para pesquisas, aos poucos eles começam também a despertar o interesse de Marinhas de todo o mundo.

Segundo a rede CNBC, os robôs submarinos não tripulados podem ser ferramentas úteis na exploração militar do oceano, obtendo informações críticas como o mapeamento do fundo do mar, a procura por minas – um caso de uso atual na guerra entre Rússia e Ucrânia – e o fornecimento de vigilância subaquática.

“Existem cada vez mais ameaças que estão em cima e debaixo d’água e que só podem ser abordadas por sistemas robóticos que podem se esconder da vigilância inimiga, que podem se esconder do que você pode ver no ar e podem fazer coisas que só é possível fazer debaixo d’água”, disse Palmer Luckey, co-fundador da Anduril Industries.

A empresa adquiriu a fabricante de AUV Dive Techologies e conquistou assim um AUV personalizável chamado Dive-LD. Ela expandiu suas operações para a Austrália e fez parceria com a Força de Defesa do país em um projeto de US$ 100 milhões (R$ aproximadamente 519,1 milhões) para a criação de três AUVs extragrandes para a Marinha Real Australiana.

Avanço dos AUVs no mundo

No Reino Unido, a Marinha Real encomendou recentemente seu primeiro veículo subaquático autônomo. Trata-se do Cetus XLUUV, fabricado pela MSubs, que deve ser concluído em cerca de dois anos. O Ministério da Defesa da região também anunciou em agosto do ano passado a doação de seis drones subaquáticos autônomos à Ucrânia para ajudar na luta contra a Rússia, localizando e identificando minas russas.

No caso da China, o país concluiu recentemente a construção do Zhu Hai Yun, um navio não tripulado feito para lançar drones e que utiliza inteligência artificial para navegar pelos mares sem a necessidade de tripulação, destaca a CBNC. O navio é descrito por oficiais de Pequim como uma ferramenta de pesquisa, mas muitos especialistas acreditam que também será usado para fins militares.

AUV da Boeing, que passou a trabalhar em conjunt com a Marinha dos EUA  — Foto: Boieg/Reprodução

AUV da Boeing, que passou a trabalhar em conjunt com a Marinha dos EUA — Foto: Boieg/Reprodução

A Boeing, que trabalha com AUVs desde a década de 1970, fabricou seu primeiro modelo extragrande, o Echo Voyager, em 2017, após cerca de cinco anos de projeto. Agora, a empresa está desenvolvendo o Orca XLUUV com financiamento da Marinha dos Estados Unidos – ela ganhou um contrato de US$ 43 milhões (R$ 223,2 milhões), em 2019, para construir quatro AUVs.

Inicialmente, os veículos seriam entregues em dezembro de 2020, mas houve atrasos e a nova data planejada é 2024. “É um programa de desenvolvimento e estamos desenvolvendo uma tecnologia inovadora que nunca foi construída antes”, disse relatou Ann Stevens, diretora sênior de Submarino Marítimo da Boeing. “Estivemos em sintonia com a Marinha o tempo todo. Teremos um ótimo veículo saindo do outro lado.”

Desafios a superar

Maani Ghaffari, professora assistente do departamento de Arquitetura Naval e Engenharia Marinha da Universidade de Michigan, dos Estados Unidos, destaca que a robótica e a automação em geral são um campo jovem – os pesquisadores começaram a projetar AUVs há cerca de 50-60 anos.

“Estamos no estágio em que podemos construir hardware e sensores muito melhores e mais eficientes para os robôs, à medida em que esperamos implantar alguns deles na vida cotidiana em algum momento”, disse a especialista.

Apesar do avanço da tecnologia, esses veículos têm desafios a superar antes de se tornarem um mecanismo viável para uso diário. Por exemplo, precisam funcionar em um ambiente mais hostil do que o ar, onde a densidade mais alta da água cria arrasto hidráulico que os desaceleram e drenam mais rapidamente a energia de suas baterias.

Além disso, a comunicação subaquática dos AUVs é limitada, pois os sinais usados para transferir mensagens no ar são absorvidos rapidamente na água, e suas câmeras não são tão nítidas debaixo d’água.

Ghaffari observa que, se os submarinos não tripulados serão eventualmente usados como mais do que uma ferramenta de vigilância e se envolverão em guerra subaquática, isso é mais uma questão de ética dentro da inteligência artificial e da robótica. A questão é que, embora eles possam ser sofisticados o suficiente para tomar decisões autônomas, surgem preocupações quando as decisões podem afetar vidas humanas.

“A única ideia é que você basicamente passa a batalha com esses robôs em vez de soldados – menos pessoas podem morrer, mas por outro lado, quando a inteligência artificial pode tomar decisões mais rapidamente que os humanos e agir mais rápido que os humanos, isso pode aumentar a quantidade dos danos que podem causar. Essa é a fronteira que não foi explorada e temos que conversar sobre isso à medida que avançamos no futuro”, concluiu a professora.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/tecnologia/noticia/2023/03/auvs-conheca-os-robos-submarinos-autonomos-que-estao-criando-nova-era-da-vigilancia-no-mar.ghtml