Americana Yellow Visa acaba de lançar app no país, enquanto Cidadania4U já fatura mais de R$ 100 milhões.

Natasha Rocha, chefe de operações globais da Yellow Visa: “Brasil é a bola da vez em emigração” — Foto: Digulgação
A população de brasileiros vivendo no exterior ultrapassou, no ano passado, a marca dos 4,5 milhões, de acordo com o Itamaraty — um número que só cresce desde 2016 e que chegou a saltar 17% em 2020, com a pandemia. Nesse contexto, uma série de plataformas e startups tem surgido para ajudar quem quer sair do país a ter toda a documentação nos conformes e atender a uma demanda que, até então, era absorvida por escritórios tradicionais de advocacia.
É o caso, por exemplo, da Yellow Visa, uma empresa americana que acabou de abrir uma operação no Brasil, de olho nessa demanda crescente. A startup é a primeira a oferecer a solicitação digital do green card para brasileiros, além de quatro tipos de vistos americanos (EB1, EB2, EB2-NIW, O1) — fica nos EUA, afinal, a maior comunidade de brasileiros no exterior. Por família, o processo pode custar entre US$ 10 mil e US$ 12 mil. Outros serviços incluem o pedido de cidadania portuguesa e italiana pela plataforma, a partir de 2,5 mil euros por pessoa.
“Tudo aponta que o Brasil é a bola da vez no sentido de fluxo de pessoas que querem sair do país em busca de oportunidade. Nós enxergamos muito clara essa oportunidade”, diz a brasileira Nathasha Rocha, chefe global de operações da Yellow Visa.
Quem atua no setor enxerga alguns fatores para o aumento do interesse, como a maior facilidade de emigrar de forma legal ao exterior, que foi alcançada só mais recentemente. Também conta a favor o estímulo financeiro e regulatório de países como Portugal e Itália para atrair uma população mais jovem e produtiva, frente ao envelhecimento de sua população. Além disso, países como o Canadá têm atraído empreendedores brasileiros com condições vantajosas para abrir negócios.
Para dar conta desse mercado, a Yellow acabou de criar um aplicativo que ajuda com a documentação e permite acompanhar o andamento do processo. A ferramenta exigiu um investimento de R$ 2,7 milhões do 1F Group, grupo que controla a startup e reúne outras empresas de mobilidade global e finanças cross border, como a LFvate, Haywex e Haybranding. Com a Yellow Visa, a ideia é ter um portfólio completo de produtos e serviços para atender quem quer emigrar.
Esse mercado, porém, não é exatamente um oceano azul. Há diversos escritórios de advocacia, consultorias e até advogados autônomos especializados no serviço. Entre os mais relevantes no segmento, é possível citar o Hofstaetter Tramujas & Castelo Branco, Ferrara Cidadania, HB Associati, Você Português e Nacionalitália, além da consultoria D4U Immigration e o escritório mineiro AG Immigration, que em apenas quatro anos de operação já fatura R$ 12 milhões.
Só que apesar das operações robustas, o processo nesses casos ainda é bem artesanal e fica no offline. Algumas diretrizes da OAB, como o impedimento de abordar clientes, atrasam o processo de digitalização do setor e levam advogados a adotarem caminhos mais tradicionais. Nesse contexto, startups que atuam com os chamados “serviços não exclusivos da advocacia”, ou mesmo terceirizando parte dos processos a advogados parceiros ou contratados, têm tentado reinventar o mercado.
O maior exemplo talvez seja a Cidadania4U. A plataforma — desenvolvida com base nas dificuldades enfrentadas pelo próprio fundador, o programador Rafael Gianesini, em seu próprio processo de cidadania — permite que os clientes acompanhem passo a passo o andamento da documentação, subam arquivos e abram demandas, tudo no digital.
“Meu caso era bem mais complexo que o normal. Eu sou descendente de imigrantes de Trento, que, por ter sido anexada ao Império Austro-Húngaro, não é considerada mais parte da Itália. Foi estabelecida uma data limite em 2010”, conta Gianesini. “Nesse processo, percebi que era um mercado sem transparência e sem tecnologia, difícil de escalar. Fiquei determinado a construir uma solução melhor.”
Fundada no fim de 2018, a startup já emprega 330 colaboradores, entre infraestrutura e advogados, e deve faturar R$ 110 milhões neste ano. São 20 mil usuários ativos, solicitantes de cidadanias italiana, portuguesa e, mais recentemente, espanhola. A empresa tem sido abordada por fundos e escritórios para M&As, mas quer seguir por conta própria.
Já na Cidadania & Visto, é possível ir acompanhando o processo via alertas no email e WhatsApp. Por meio de robôs, um serviço terceirizado, a plataforma acompanha o andamento dos processos em tribunais e consulados na Europa, enquanto mantém o cliente do lado de cá informado. A plataforma foi lançada em junho de 2021, em meio à pandemia, e conta com um escritório de advocacia parceiro para dar andamento à parte legal das solicitações.
FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/as-startups-que-querem-facilitar-a-migracao-de-brasileiros-para-o-exterior.ghtml