As ‘smart pills’ percorrem o corpo internamente para diagnosticar e tratar de doenças de modo menos invasivo
Imagine receber no celular uma mensagem com o diagnóstico de que você está sob o risco iminente de sofrer um ataque do coração. E que essa notificação não vem de seu médico, mas de um microequipamento que percorre o seu organismo em busca de possíveis sinais de alerta para a sua saúde. É o que podem fazer as chamadas pílulas inteligentes (smart pills), cápsulas que embutem sensores ingeríveis capazes de diagnosticar e tratar doenças dentro do corpo humano e que prometem fazer uma revolução na medicina wireless. Pois essa tecnologia já existe e pode ser consumida, literalmente, com todos os benefícios médicos que proporciona.
As cápsulas com sensores são capazes de medir pH, enzimas, temperatura, nível de açúcar e pressão arterial. “São dados que nos permitem ter uma imagem pluridimensional do corpo humano”, comenta Kalantar-zadeh. Uma das empresas que já operam nessa direção é a Scripps Health, que produz nano-sensores capazes de percorrer a corrente sanguínea e enviar mensagens para o celular do usuário com informações sobre sinais de infecção ou outros problemas cardiovasculares.
Um dos achados fundamentais dos primeiros testes diz respeito à segurança comprovada desse tipo de tecnologia. “As pílulas inteligentes são inofensivas e não há risco de retenção das cápsulas”, acrescenta o especialista. Nos Estados Unidos, a Agência de Administração de Alimentação e Medicamentos (FDA na sigla em inglês) já aprovou a ingestão de um tipo de pílula equipada com uma microcâmera como alternativa à colonoscopia. A PillCam COLON, criada por uma empresa israelense, foi concebida para pacientes com dificuldade para se submeter a procedimentos invasivos, seja por problemas de anatomia, seja por causa de alguma cirurgia prévia ou por alguma doença. Nesses casos, a pílula pode ser usada para se visualizar de forma remota o trato gastrointestinal e o cólon, detectando, assim, possíveis pólipos e identificando os primeiros sinais de um eventual câncer colorretal.
Flotilhas de equipamentos no corpo humano
Os especialistas acreditam que essa tecnologia “proporcionará a mudança mais significativa em nossas vidas” dentro dos próximos cinco anos. É o tempo que eles estimam que levará para essas pílulas se popularizarem. A recente solução encontrada para um dos obstáculos que havia para as smart pills –ou seja, a transmissão de sua localização exata dentro do corpo para o usuário e a equipe médica—poderá acelerar o fenômeno. Uma equipe de engenheiros do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) criou um microchip de silicone de 1,4 milímetro quadrado que pode ser acoplado aos nano-equipamentos a fim de determinar em que parte do corpo eles se encontram.
Denominado ATOMS, esse microchip opera com base nos mesmos princípios da ressonância magnética. “Um princípio essencial desse conceito é que um gradiente de campo magnético faz com que os átomos de dois lugares diferentes ressoem em duas frequências diferentes, o que facilita para saber onde eles estão. Nosso equipamento imita esse comportamento”, explica o engenheiro elétrico Manuel Monge, principal responsável pela pesquisa.
O ATOMS ainda está em fase inicial de desenvolvimento, mas seus criadores já tem um novo objetivo em mente: produzi-lo menor ainda, para que consiga chegar a órgãos de difícil acesso, como o cérebro ou o coração. “Isso nos possibilitará criar novas formas de diagnóstico e novas terapias para doenças graves”, diz Monge. Ele os outros pesquisadores imaginam no futuro a existência de uma flotilha de nano-equipamentos inteligentes circulando dentro dos nossos corpos e nos informando sobre o que acontece em nossos órgãos internos para então lhes indicarmos o que fazer.
FONTE: EL PAÍS