As pessoas estão sedentas para entender o futuro’, diz Guy Perelmuter

Especialista em tecnologia completa um ano de coluna no Estadão explicando temas como inteligência artificial, economia 4.0 e realidade virtual

 

Negocios Disruptivos

Guy Perelmuter completa um ano de coluna no Estadão

Explicar temas complexos do mundo da tecnologia, como fintechs, inteligência artificial ou internet das coisas, de forma simples e com linguagem acessível. Essa é a missão à qual o engenheiro Guy Perelmuter tem se dedicado há um ano em sua coluna no portal do Estadão. “As pessoas estão sedentas para entender o que vai acontecer no futuro”, diz Perelmuter, em entrevista ao Link comentando o primeiro ano da coluna, publicada todas as quintas-feiras desde novembro de 2016.

Engenheiro da computação, Perelmuter desde cedo se dedicou à tecnologia – aprendeu aos 9 anos de idade a programar. Nos anos 1990, foi o vencedor do Prêmio Jovem Cientista, da Fundação Roberto Marinho, com um sistema que adaptava impressoras matriciais para fazer impressões em braille. “É engraçado, é um sistema que nem existe mais. Faz parte do mundo da tecnologia”, comenta. Depois disso, Perelmuter se dedicou ao mercado financeiro, auxiliando investidores a encontrar as melhores apostas no mundo da tecnologia – e em especial, em startups.

Em sua coluna, Perelmuter decidiu ter uma abordagem didática, dividindo suas discussões em blocos temáticos, como Carro Autônomo, Impressão 3D ou Realidade Virtual. A cada semana, questões específicas desses temas eram abordadas – a última coluna, por exemplo, foi sobre blockchain, em meio a uma série sobre mudanças no mundo das finanças. “Todas as indústrias sofrerão mudanças dramáticas nos próximos anos. A ideia é tentar antecipar o que pode acontecer”, diz Perelmuter. “Cada coluna tem um encadeamento lógico, e antecipa o tema da semana que vem”.

Para o próximo ano de textos, o especialista pretende continuar apresentando alguns temas importantes da tecnologia atual – tais como Drones, Nanotecnologia ou Robótica. “Depois, a ideia é começar a juntar esses blocos de Lego, para mostrar como áreas diferentes como blockchain e manufatura podem se juntar.” Já o futuro a longo prazo é mais desafiador – mas a aposta é de que, cada vez mais, a inteligência artificial será importante. A seguir, confira os melhores trechos da entrevista.

Como surgiu a ideia para a coluna? 

A ideia era falar sobre os temas da tecnologia que podem impactar a vida das pessoas e da indústria nos próximos anos. As pessoas estão sedentas para entender o que vai acontecer no futuro, dentro do que a gente chama de Economia 4.0. Basicamente, ela significa a revolução causada pela combinação entre homem e máquina. Estamos vendo chegar ao mercado coisas que já têm certa história de pesquisa, mas só se viabilizaram economicamente e tecnologicamente recentemente. É o caso do carro autônomo: o primeiro teste foi feito no final dos anos 1980 pela Universidade Carnegie Mellon, mas ainda era fruto de uma pesquisa, não era algo que podia ganhar escala industrial. Trinta anos depois, com mudanças de preço, escala de penetração e diversos avanços, o carro autônomo já não é mais uma questão de “se”, mas sim de “quando”. Para explicar coisas como essa, dividi alguns temas em blocos, como o próprio carro autônomo, economia colaborativa, internet das coisas, realidade virtual. Estou fazendo essa apresentação por blocos, algo que segue pelos próximos momentos da coluna. A temática que a gente escolheu tem um público amplo, então tento usar uma linguagem o menos técnica o possível, porque ninguém é obrigado a ser tarado por tecnologia e conhecer o jargão. O jargão afasta as pessoas.

Por que é importante falar de tecnologia hoje? 

Existe uma frase famosa de um cientista do Bell Labs nos anos 1960: “a melhor forma de prever o futuro é inventá-lo”. Ou seja: não adianta prever o futuro. Temos que estar perto dos inovadores que vão criar o futuro, para que a gente possa se preparar para ter um mundo diferente, e, espera-se, melhor que o que a gente tem hoje. É crítico, na minha visão, estar perto desses avanços para entender o que vai acontecer. Existe uma percepção clara que a dinâmica do trabalho vai ser muito impactada. Tem uma dupla de pesquisadores da Universidade de Oxford que fez um estudo, com 700 carreiras, e analisou qual é a probabilidade dessas carreiras serem substituídas por robôs. Segundo eles, 47% das carreiras atuais, incluindo motoristas, atendentes de telemarketing e trabalhadores braçais, serão substituídos por robôs. O trabalho humano, de atenção, de análise, como o do terapeuta, do professor, do jornalista, vai sobreviver. Estamos vivendo a era da automação do setor de serviços, depois de ver isso acontecer no campo e na indústria. Vai ser uma grande transformação.

O que esperar do segundo ano da coluna? 

Ainda temos alguns blocos para apresentar. A ideia de manter colunas com encadeamento lógico tem tido reação positiva, tenho leitores que acham a coluna e começam a voltar para entender como a história se encadeia. Sempre tento remeter as pessoas ao panorama geral. Algumas verticais ainda não deu tempo de falar, como manufatura, nanotecnologia, robótica, drones, mapeamento. Quando eu conseguir completar a introdução dessas novas verticais, vou começar a cruzar os temas, podendo mostrar, por exemplo, como blockchain e manufatura podem se juntar e criar algo completamente diferente.

Como o sr. vê o mundo daqui a dez anos, e qual será a tecnologia mais importante nas mudanças que veremos até lá? 

Se eu tiver que escolher uma, será a inteligência artificial. É quem estará mais presente na recombinação de técnicas. Veremos a inteligência artificial ligada ao blockchain, à criptografia, à segurança, ao desenvolvimento de novas drogas. Hoje, as pessoas estão começando a falar com os assistentes no celular, mas isso vai se tornar muito mais presente. As casas serão conectadas e sensorizadas, podendo passar informações. É preciso levar em consideração, claro, que o Brasil nem sempre está na vanguarda. Mas acredito que vamos ver essa revolução acontecendo aqui ao mesmo tempo: o brasileiro é um povo conectado, e vamos começar não só a receber essas informações, mas também a enviá-las.

FONTE: Estadão – por Bruno Capelas