As impressoras 3D estão prontas para deslanchar

Desafio para revendas e distribuidores, a oferta de equipamentos para produção de objetos em três dimensões se apresenta como boa alternativa de lucro, já que esse mercado tem muito a crescer. Leia abaixo a reportagem publicada na edição de julho da mídia impressa de Infor Channel, que está em circulação

A quarta revolução industrial recebeu um grande estímulo com a tecnologia e equipamentos para a modelagem tridimensional ou prototipagem rápida, mais conhecida como impressão em 3D. Pode-se dizer que ao criar um objeto com base em aplicação em camadas, a partir de um arquivo digital, é o processo inverso do artista que esculpe em madeira ou em mármore.

Essa ciência que fascina por sua singularidade, invade muitas áreas que exigem alta precisão como a automobilística, autopeças e aeroespacial, além da saúde, em ortopedia, cardíaca e dentária. Ao longo dos anos, a impressão 3D tem avançado da prototipagem e produção de ferramental, para a efetiva fabricação de componentes de produtos finais, como no caso da indústria aeroespacial.

No varejo e pequenos negócios há inúmeras outras aplicações em objetos de decoração, bijuterias e brinquedos, impulsionadas pelo barateamento de equipamentos, as chamadas versões desktops, e pela iniciativa ‘Faça você mesmo’. O mercado de impressão doméstica, porém, tem um potencial de crescimento baixo em comparação com a modelagem em três dimensões industrial, que tem registrado um aumento exponencial.

A impressão 3D tem avançado da prototipagem e produção de ferramental, para a efetiva fabricação de componentes finais

Há seis anos com escritório no Brasil e sede em Israel, a Stratasys, uma das principais fabricantes desses equipamentos do mundo, viu o mercado nacional amadurecer. “Em 2013, quando iniciamos operação no Brasil, sentimos que existia um boom fora do País, como nos Estados Unidos e em países europeus, mas no Brasil as empresas ainda estavam buscando conhecer mais a tecnologia. Naquele momento, mercado era imaturo para absorver, mas tinha demanda”, diz Anderson Soares, líder da Stratasys para o Brasil. De acordo com ele, o amadurecimento do mercado brasileiro decorreu de fatores como maior conhecimento dos clientes acerca dos benefícios da impressão 3D traz para os processos das companhias e o barateamento da tecnologia. “O mercado é gigante para impressão 3D. Não atingimos nem 10% do potencial”, ressalta Soares.

Ele acredita que, apesar de a tecnologia já ter barateado, dentro de um horizonte de dez a 15 anos, ela vai baratear ainda mais e a produção vai aumentar. “Vamos estar, cada vez mais, competitivos com os processos de manufatura atuais como usinagem”, aponta. Segundo ele, um dos maiores utilizadores da tecnologia é a área de manufatura, com clientes usando impressão 3D com objetivo de redução de custos. “Os clientes economizam por volta de 70% dos custos dos ferramentais e diminuem o tempo para que tenham as ferramentas em mãos. Também temos clientes que trocaram as garras dos robôs, que eram bem pesadas, por impressão 3D. Têm a mesma resistência, mas é mais leve para os robôs, o que contribui para a redução do custo de manutenção preventiva e pode aumentar a produtividade do robô”, exemplifica.

Claudio Raupp Fonseca, presidente da HP no Brasil, destaca que o mercado de 3D, antes restrito a prototipagem e modelagem, hoje alcança a produção final de peças. “Nós desenvolvemos uma metodologia e conseguimos endereçar três problemas fundamentais: a velocidade, que era muito lenta e não atendia ao volume; o custo, que no modelo tradicional era muito alto; e a qualidade de peça, tendo um melhor acabamento e definição para entregarmos o produto final”, afirma.

A fabricação avançada habilitada pela impressão 3D oferece níveis mais altos de escalabilidade, agilidade, flexibilidade e eficiência

Raupp afirma que 3D traz muitos benefícios e impacta outros segmentos da cadeia, entre eles, gestão, coordenação e suprimentos. “Na manufatura tradicional, você produz uma grande quantidade de peças e tem o transporte, a logística; já com 3D não precisa de molde, o time to market para o desenvolvimento de produto é mais rápido. Você vai imprimir a peça no local de destino, não precisa de um hub, além de reduzir a pegada de carbono”, explica. Além de impressão sob demanda, outra promessa da 3D é a possibilidade de personalização sem que isto gere um custo maior, pois não é preciso de moldes.

Medir as vantagens
Usuária da impressão 3D há pelo menos dez anos, a Flex, que fabrica produtos eletrônicos e se autodenomina uma empresa ‘do esboço à escala’ (sketch-to-scale), foi pioneira na compra e utilização da HP Multi Jet Fusion. “Houve uma evolução das máquinas. No começo, as peças eram rudimentares e hoje fazem peças de padrão de qualidade muito alta, com precisão, qualidade do material e resistência mecânica”, diz Leandro Santos, gerente-geral da Flex no Brasil e vice-presidente de operações. Ele conta que a com a nova máquina tem conseguido produzir um volume de peças superior, podendo manufaturar em escala e com alta resistência mecânica.

Santos explica que é preciso fazer contas para saber se vale a pena ou não produzir em modelagem tridimensional. Há muitas situações em que a escala é pequena, a exemplo de um objeto para medição de campo, que será usado uma vez por ano, portanto, não precisa de muitos destas peças. “No método tradicional é preciso fazer um molde mecânico que custa, em média, US$ 200 mil. Para produtos que o volume total seja pequeno, até 60 mil unidades, este modelo de impressão permite um novo processo de manufatura”, explica, acrescentando que o aspecto pode não ficar muito bonito, mas as peças têm boa qualidade e resistência.

A Flex tem três fábricas no Brasil: em Sorocaba e em Jaguariúna, ambas cidades paulistas, e em Manaus, no Amazonas. A nova impressora foi instalada em maio último na planta de Sorocaba.

O gerente-geral da Flex analisa que, no mercado corporativo, as impressoras 3D estão bem difundidas, já que todas as empresas que trabalham com prototipagem usam 3D. “Os centros de pesquisas e empresas que trabalham com projetos, também têm feito investimentos nestas impressoras, mas ainda é difícil achar profissional que saiba mexer com 3D, operando o equipamento e o software”, assinala Santos.

Vendas especializadas
A venda de impressoras 3D requer canais especializados, principalmente, quando o foco é atender à indústrias específicas e à manufatura com equipamentos industriais. “No caso da impressora industrial, é necessário criar um projeto específico para vendê-la. O canal tem de ser especializado e conhecer a indústria para fazer uma venda mais consultiva. Tem de entender o processo do cliente”, detalha Raupp, da HP, que tem como parceira a SKA, de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, comandada por Siegfried Koelln. Já para o segmento residencial ou de varejo, os canais tradicionais normalmente estão capacitados para oferecer aos clientes este tipo de produto.

Os equipamentos industriais não são vendidos por atacado, portanto, exigem uma venda consultiva, esforço e competência de quem está no negócio. A falta maturidade plena do mercado requer uma consultoria consistente, para que o cliente compre produto adequado às suas demandas.

O entendimento comum é que há falta de mão de obra capacitada, profissionais e distribuidores especializados. Soares, da Stratasys, compartilha a mesma opinião com relação à capacitação. A empresa atua somente por meio de canal no Brasil e possui um grupo de sete revendas habilitadas em uma determinada indústria, como, por exemplo, aeroespacial. “O mais importante é que sejam especializadas no setor, que tenham conhecimento e relacionamento com o segmento no qual atuam. É preciso dar muito foco à aplicação”, diz.

A Alcateia, distribuidora de produtos de tecnologia, identificou o potencial do mercado das impressoras 3D e ingressou nele há cerca de três anos. “Percebemos a demanda por impressora 3D e software”, conta Luiz Emanuel Campos, engenheiro de aplicações e consultor de impressão 3D da Alcateia Distribuidora. A empresa decidiu apostar em outra frente, diante da mudança que o mercado de distribuição sofreu, com a venda direta e por assinatura de software e, também, com os fabricantes de hardware passando a vender via internet.

“Desde a entrada, vendemos entre dez a 15 impressoras ao mês e o público aumentou: desde escolas fundamentais até indústrias diversas”, conta Campos.

A distribuidora, que promove treinamentos de capacitação, mantém um departamento de solução 3D para apoiar seus revendedores. São 4,5 mil canais no Brasil inteiro, sendo que destes, 20 são mais ativos no dia a dia. Para a empresa é fundamental desmitificar o fato de que é difícil fazer uma impressão 3D.

Modelos de negócios são transformados quando o processo de criação de objetos em três dimensões é integrado a uma plataforma de fabricação

Campos, que trabalha com impressão 3D há cerca de 18 anos, auxiliando empresas no uso de impressão 3D aplicada aos processos de criação, prototipagem e produção, avalia que houve uma grande mudança no segmento provocada tanto por empresas iniciantes quanto pelas de grande porte. “Isto ocorreu à medida que startups passam a usar esta tecnologia para testar seus produtos em máquinas de menor porte antes de alçar voos maiores, ao mesmo tempo em que companhias do porte da Embraer começam a imprimir peças finais para seus aviões.

Do ano 2000 para cá, duas situações também colaboraram para a mudança: a evolução tecnológica e a redução de custo. O software que desenhava as peças era caro e difícil de operar. Hoje, o acesso às ferramentas e ao software é maior, da mesma forma, a acessibilidade, a queda de preço, a facilidade de manuseio. “Isso tem trazido pessoas criativas para a indústria, que aprenderam a criar em casa”, pontua.

Outro fator a ser destacado foi a criação de leis que direta ou indiretamente vai incentivar a adoção de prototipagem rápida. Campos cita como exemplos a Lei nº 13.755, que institui o Programa Rota 2030, que visa à potencialização do setor automotivo no País, e o fato de as escolas terem de constituir um espaço criativo para a experimentação de tecnologias. “Só com a Base Nacional Comum Curricular temos 186 mil instituições de ensino fundamental, sejam públicas ou privadas, vão demandar impressoras 3D”, acredita.

A vez dos pequenos
Criada em 2017 por dois irmãos, a Engiprinters iniciou as operações em abril de 2018 com objetivo de facilitar os processos de fabricação tradicionais da indústria, por meio da impressão em três dimensões.

“Eu vejo um mercado muito novo e pouco desenvolvido, considerando o potencial desta tecnologia”, destaca Felipe Casanova Montesso, CEO e cofundador da empresa. Para ele, atualmente o que mais ocorre são empresas que produzem modelos em três dimensões, oferecendo itens facilmente encontrados em lojas, como objetos decorativos, esculturas, bonecos, brinquedos etc. “Este não é o caminho”, acredita.

A comparação entre o custo da manufatura aditiva (3D) com o da manufatura tradicional é injusta, uma vez que um item produzido em massa terá um custo total menor devido ao grande volume. Claramente, esta comparação de custos funciona apenas quando desafiamos a impressão 3D a produzir peças projetadas para tecnologias convencionais de fabricação, como moldagem, fundição e usinagem. “Esta comparação falha quando um item foi projetado especificamente para este processo; ele pode ter um design inovador, incomum e geometrias tão complexas que somente poderá ser produzido via impressão 3D”, pondera Montesso.

Esta tecnologia está evoluindo rapidamente e criando oportunidades para interromper ou alterar modelos de negócios em diversos setores. A impressão 3D amadora não requer habilidades especiais para integrar hardware-software-materiais; ao contrário, estas soluções podem ser compradas na Amazon. Ao mesmo tempo, mais aplicações industriais de modelagem em três dimensões passaram da prototipagem para a produção e estão fazendo com que as empresas criem valores totalmente novos. “Isso permitiu que muitas empresas se aprimorassem, criando ofertas de produtos mais personalizados”, diz o CEO da Engiprinters.

A expectativa da empresa é de expansão para o mercado nacional à medida que cresça o número de pessoas que entende os benefícios da manufatura aditiva. De acordo com o executivo, as organizações estão usando a impressão 3D para alterar seus modelos de negócios, já que este tipo de impressão pode formar peças complexas; na verdade, quase impossíveis de se fazer em um processo tradicional.

Uma maneira de se transformar os modelos de negócios é quando o processo de criação de objetos em três dimensões é integrado a uma plataforma de fabricação, que permita às tecnologias e aos ecossistemas de hardware e software modernizar e ampliar a produção. Por sua vez, a fabricação avançada habilitada pela impressão 3D oferece níveis mais altos de escalabilidade, agilidade, flexibilidade e eficiência”, finaliza Montesso.

Diferentes tecnologias
Fused Deposition Modeling – A modelagem por fusão e deposição produz seus objetos camada por camada. A impressão FDM produz peças com maior resistência de material, por exemplo, para gabaritos e dispositivos para manufatura nos quais o acabamento da peça do cliente não é tão importante.

Polijet – Esta tecnologia permite fabricar o produto mais real possível. Em geral, é usada na fase inicial, de desenvolvimento do produto, quando a peça tem de ser bastante realista e parecida com o produto final.

No que se refere a custos, as máquinas apresentam bastante variação, de acordo com o tamanho e o número de materiais que se pode operar. Os valores para impressoras de fácil utilização iniciam em R$ 6,5 mil e passam a R$ 300 mil para uma impressora industrial de entrada — as mais complexas podem chegar a R$ 4 milhões.

FONTE: !NFOR CHANEL