‘As fintechs vão ter que se reinventar’, diz o CEO do BBNK, Yan Tironi

Novo modelo de negócio permite que empresas sejam bancos de seus próprios funcionários

“Começamos a operar em janeiro e já temos 26 contratos assinados. O potencial desses contratos já passa de 2 milhões de contas. Nossa estimativa é de ter 500 mil contas abertas até o fim do ano”

O executivo Yan Tironi, CEO e fundador do BBNK, sigla que define ‘Be Bank’ (seja banco), está no comando daquilo que ele define como uma segunda geração de fintech. Em sociedade com o Banco Máxima, Tironi criou um modelo de negócio que permite que empresas sejam bancos de seus próprios funcionários, oferecendo serviços como conta-corrente, transferências, seguros e até crédito. Na prática, o BBNK acaba com a necessidade de ser cliente de uma grande instituição financeira ou mesmo de um banco digital. Para ele, o mercado terá de se reinventar. Acompanhe a entrevista a seguir.

Como surgiu a ideia de criar o BBNK?

Percebemos que muitos serviços oferecidos pelos bancos poderiam ser feitos pelas próprias empresas, sem a necessidade de uma instituição convencional. Atualmente, com o uso da tecnologia, as empresas podem pagar seus funcionários em vez de abrir uma conta. Pode-se fazer uma TED, pagar boleto, dar empréstimo e tudo mais. Todas as operações que um banco oferece.

Por que você criou uma nova marca e não usou a reputação do Banco Máxima?

O BBNK é uma plataforma. É mais do que um banco. Somos um new age de tecnologia que se integra com uma série de fornecedores, como se fosse uma nova geração de fintech. O primeiro fornecedor é o próprio Banco Máxima. Em seguros, estamos conectados a uma grande corretora multinacional. Em consórcios, há uma operação independente, aliada contratualmente ao banco Máxima. O BBNK nasceu independente e pretende continuar independente. O maior desafio das fintechs é a integração de serviços e sistemas. Uma vez integrado, funciona tranquilo, igual a um banco.

Existem planos de internacionalização?

Estamos com planos de levar nossas operações a outros países e integrá-las a um banco do Chile e da Colômbia. Já temos conversas adiantadas com os dois países, mas isso é mais para 2020. Em 2019, nosso foco será com parceiros no Brasil.

O que muda contar com a parceira de um banco estrangeiro na plataforma?

A vantagem de operar lá fora é exatamente dar uma estrutura local para nossos clientes. Mas ainda existem muitas questões de regulação a serem resolvidas. Hoje, no Brasil, temos domínio das questões regulatórias e jurídicas. Para dar um passo lá fora, precisamos estudar bem cada mercado. Por isso, falo que a gente só vai fazer isso em 2020.

Com esse modelo de negócio, o BBNK não tem concorrentes?

Os concorrentes são os bancos que estão aí. Quando olhamos para os bancos digitais, todos estão em processo de construção de marca. Isso vale para o Neon, para o Nubank, o Inter e todos os outros. Nosso modelo de negócio permite que a própria empresa seja um banco de seus funcionários, sem a necessidade de intermediação. Então, com isso, nossa concorrência maior é com os bancos tradicionais.

Ou seja, esse mercado já nasce com uma concorrência forte, que não poderia ser mais difícil de enfrentar.

Sim, mas a concorrência se dá nos serviços, não na tecnologia. Nunca o brasileiro vai ver um anúncio “abra uma conta no BBNK”. Mas muitos terão uma conta nossa por meio de sua própria empresa. E o lucro dessas transações vai ficar para a empresa que queira ter um banco com sua marca. Em vez de um funcionário receber o salário em um banco tradicional ou um banco digital novo, ele vai receber o salário na compra da empresa e todo o lucro que isso gerar. Estamos criando o conceito de White Label, que foi muito usado nos cartões de créditos no passado. Grandes empresas de investimentos nasceram baseadas nesse conceito e agora estamos fazendo isso na BBNK.

Isso é uma ameaça às fintechs?

Exatamente. O que as fintechs tentaram fazer foi, sem ser banco, oferecer serviços de banco. Ou seja, estava todo mundo indo num caminho de remontar coisas, juntar coisas para oferecer um serviço de quase banco, mas sem ser banco. O caminho aqui, em vez de ter uma fintech pura, é uma fintech já integrada ao banco que permite que tenha um nível de segurança, nível de compliance e de regulação maior. Além disso, ao analisar o mercado, notamos que todas as fintechs quando crescem viram banco, porque é mais eficiente. Aí perdem as vantagens de ser uma fintech. Ou seja, as fintechs vão ter que se reinventar o tempo todo para se adaptar aos avanços naturais do mercado.

Não existe o risco do BBNK virar um banco convencional também?

Como a gente tem uma integração muito próxima com o banco Máxima, que detém 70% do capital, não faz sentido para nós. O Banco Máxima já oferece serviços bancários.

Qual foi a aceitação do mercado a esse novo modelo de fintech?

Está sendo muito boa. Começamos a operar em janeiro e já temos 26 contratos assinados. O potencial desses contratos já passa de 2 milhões de contas. Nossa estimativa é de ter 500 mil contas abertas até o fim do ano, e 2 milhões de contas até o fim de 2020.

Em termos de custo, qual é a economia gerada às empresas por esse novo modelo de operação?

A redução de custo é estimada em 30%. É a margem que os bancos tradicionais lucram. Logicamente, essa é uma estimativa aproximada, porque não temos nada científico quanto a esses valores.

Então, no futuro, as próprias empresas poderão oferecer crédito a seus funcionários?

Sim, em breve. Já estamos estruturando isso. De uma forma comedida, a gente vai usar o nosso time de tecnologia, junto com nosso time de crédito, para modelar estratégias. Vamos testar antes. Isso deve ficar para o segundo semestre de 2020.

Os grandes bancos, que podem ser ameaçados por isso, tendem a criar algo semelhante, não?

Não consigo imaginar um grande banco aprovar um modelo deste. O lucro de 100% do banco tradicional vai cair para menos de 5%. Seria uma canibalização. Então, acho que eles vão continuar na estratégia deles. Vão oferecer banco digital muito competitivo, mas sem canibalizar os serviços que dão lucro.

Mas as fintechs têm causado dor de cabeça aos grandes bancos…

Não acho isso. O que existe hoje fora dos grandes bancos ainda não é relevante para impactar os resultados deles. Se olharmos para o tamanho do mercado de bancos digitais é muito pequeno em relação aos cinco grandes bancos. Além disso, o Banco Central está com uma agenda de permitir a competição, de fomentar a competição muito saudável, e o papel dos grandes bancos é muito importante nesse contexto.

O ambiente econômico está favorável ao avanço das novas tecnologias no setor bancário?

Na verdade, à medida que a gente traz para uma empresa a redução de despesas, nosso negócio é muito bem-recebido. Principalmente em tempos de incerteza, quando todas as empresas querem diminuir despesas e aumentar receita. Então, percebo que a crise e a instabilidade geram oportunidades. Estamos com 26 grandes contratos fechados, dentro de um prazo em que esperávamos ter no máximo 10.

Você acredita que a reforma da Previdência será suficiente para colocar o Brasil de volta aos trilhos?

A reforma é um degrau muito importante, mas não é tudo. Vai nos colocar em outro patamar, sim. Vai permitir que as empresas se planejem e voltem a investir. Ainda existem muitas outras coisas a fazer. A reforma tributária ainda é uma confusão, mas a equipe econômica é muito preparada para atuar. No caso da Previdência, acredito que o pragmatismo vai prevalecer e o Congresso vai aprovar uma reforma suficiente para que o Brasil ganhe um fôlego e possa seguir. Porque, do contrário, pode ser desastroso. Acredito também que o governo vai melhorar a capacidade de articulação. Está aprendendo com tentativas e erros.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE