App oferece crédito a partir de R$ 30 sem juro para moradores da periferia

Fintechs como a Jeitto querem promover a inclusão financeira das classes C, D e E. Há 55 milhões de brasileiros fora dos bancos

Em cada quatro famílias brasileiras, três chegam ao fim de todo mês sem conseguir poupar nada ou endividadas. Sem educação financeira, 120 milhões de brasileiros das classes C, D e E precisam tomar crédito caro e de valores mínimos altos em bancos e financeiras, e muitas vezes têm o empréstimo negado.

Nesse contexto, cada vez mais fintechs, startups de serviços financeiros, nascem para ajudar essas pessoas a se organizar financeiramente. Uma delas é a Jeitto.

A fintech oferece crédito entre 30 reais e 500 reais para moradores da periferia que ganham até 3 mil reais por mês. Em vez de cobrar um percentual sobre o valor emprestado, o juro, a Jeitto cobra uma tarifa de 3 reais a 8 reais por empréstimo.

O crédito não é liberado em dinheiro, mas em forma de boleto bancário, para fazer recarga de celular e pagar contas como água e luz, além de serviços como Uber. O usuário tem 40 dias para pagar o boleto e, se não pagar em dia, seu nome é negativado no SPC Brasil.

“Não queremos superendividar o consumidor. Ele consome, paga, consome, paga. A ideia é ajudar no seu fluxo de caixa, sem dar um empréstimo maior do que ele precisa”, diz Fernando Silva, um dos sócios da Jeitto.

É claro que o ideal é só consumir com o dinheiro na mão, mas, como essa não é a realidade de muitos brasileiros, pode sair mais barato tomar esse empréstimo do que atrasar uma conta de luz, por exemplo. No entanto, só deve pegar o empréstimo quem sabe que vai ter dinheiro para quitá-lo em 40 dias.

Inspiração na África

A Jeitto se inspirou em empresas da África que bancarizaram pessoas de baixa renda por meio do celular, como a M-Pesa, do Quênia. Assim como no Brasil, africanos que precisam de pouco dinheiro emprestado só encontram opções de empréstimos de altos valores nos bancos e financeiras, a juros caros, ou não têm o crédito aprovado pelo risco de inadimplência.

Além da dificuldade de ter acesso às instituições financeiras tradicionais, outro problema para essa população é a falta de conveniência. “As pessoas passam horas em transporte público, odeiam ficar em filas e não têm agências perto da sua casa para pagar uma conta. Precisamos ajudá-las a fazer seu controle financeiro”, diz Silva.

O foco da fintech é dar crédito, mas quem não tem o empréstimo aprovado pode usar a carteira digital pré-paga da Jeitto. O cliente carrega essa carteira com dinheiro e consegue fazer transferências, pagar boletos e realizar compras sem conta em banco, por um real por transação. Essa é uma forma da Jeitto conhecer o cliente e, quem sabe, poder dar crédito lá na frente.

Análise de crédito

Para conseguir prever a capacidade de pagamento de um público excluído pelo mercado tradicional, as fintechs têm desenvolvido modelos diferentes de análise de concessão de crédito, usando robôs e informações públicas. A Jeitto observa como o usuário usa seu celular para decidir se vai dar crédito ou não para o consumidor. É algo como “diga-me como usas o celular, e eu te direi quem és”.

Quem fala mais no telefone à noite, por exemplo, pode ter mais chance de conseguir um empréstimo, porque o robô presume que o usuário trabalha durante o dia. Já quem liga com frequência para o mesmo número, por exemplo, também pode ter acesso ao crédito com mais facilidade, porque o robô entende que o usuário se preocupa com os outros. Como essas, são mais de 400 variáveis.

“Analisamos o comportamento das pessoas e o senso de responsabilidade. É louco, mas funciona. Há empresas fazendo isso na África e nos Estados Unidos”, diz Silva. A taxa de inadimplência na Jeitto é de 15%.

Desbancarizados

Atualmente, há 55 milhões de brasileiros sem ter nenhuma ligação com qualquer banco. Além da Jeitto, há várias fintechs que querem promover a inclusão financeira e atender a desbancarizados.

O Banco Maré é a maior referência na área de fintechs de impacto social. Por meio de uma recarga no celular, em uma carteira digital, o usuário consegue realizar pagamentos nos comércios credenciados na sua região.

Outras empresas também oferecem carteiras digitais, como a RecargaPay. Há também fintechs que ajudam brasileiros a renegociar dívidas, como a Quero Quitar, ou que ajudam microempreendedores individuais a fazer negócios, como a Smart MEI.

FONTE: EXAME