Apostar na relação com os clientes é a chave para o futuro

António Ramalho, do Novo Banco, Paulo Macedo, da CGD, e Nuno Amado, do Millennium bcp, participaram no debate
TIAGO MIRANDA

Em rápida mudança. Assim se pode descrever a situação da banca. Em Portugal e no mundo. Com a transformação digital a dinamizar a entrada de novos concorrentes no mercado, a transformar a relação com os clientes e a exigir novas respostas da gestão e dos trabalhadores, ao mesmo tempo que a pressão regulatória se intensifica, os grandes bancos tradicionais estão no centro do furacão.

Este foi um dos grandes temas do CEO Banking Forum: Uma visão para o país, uma parceria entre a Accenture e o Expresso, que na última semana juntou alguns dos maiores banqueiros portugueses. Conclusões? Nada fazer não é opção, é preciso desenhar estratégias para o futuro.

Certo é que uma das grandes oportunidades para a banca passa pela inovação e transformação digital. “A transformação digital permite trabalharmos em mercados globais e em nichos, mas à escala global”, explica o vice-presidente da Accenture, Luís Pedro Duarte. Isto “porque a parte física perde peso a favor da parte remota”, enfatiza.

Mas é também um dos seus maiores desafios. Entrar no digital, embora essencial, passa também por enfrentar um conjunto de novos concorrentes no sector, como as novas empresas que usam tecnologia para fornecer serviços financeiros (fintech) e as grandes tecnológicas. “Quando comparamos os bancos tradicionais com os novos bancos como a Revolut, o N26 ou os GAFA [Google, Apple, Facebook e Amazon], a principal questão está relacionada com a forma de envolver o cliente”, sublinha Laurent Bertin, diretor-geral e responsável pela área de New Banking da Accenture.

Ao contrário dos bancos tradicionais, que cobram comissões pelos serviços prestados, as fintechs mostram uma tendência de redução de preços — e as tecnológicas que entram no sector bancário, por monetizarem os dados, não têm uma necessidade tão grande de cobrar taxas. Mas Bertin acredita que este não é o maior desafio para os bancos tradicionais, que podem também apostar “em ofertas diferenciadas e segmentadas”, recorrendo ao conceito de Freemium utilizado por muitas fintechs — que têm alguns serviços grátis, mas disponibilizam também contas Premium que permitem aceder a melhores serviços.

Cruzar canais
O maior desafio da banca é, para o responsável da Accenture, cruzar os diferentes canais para envolver o cliente. Hoje os bancos já não podem ficar “à espera que os clientes vão aos balcões, às aplicações, ao website” e devem, à semelhança das fintechs e tecnológicas, “envolver proativamente os clientes, em tempo real, de forma personalizada e contextualizada”. Um exemplo pode estar em passarem de uma lógica de serviço ao cliente apenas cinco dias por semana, com um horário limitado, para 24 horas por dia, sete dias por semana, especifica Laurent Bertin.

Até porque, para este especialista, daqui a dez anos, haverá muito menos balcões. “Se olharmos para as tendências mundiais, vemos que, por exemplo, no Reino Unido, os grandes bancos já têm, para 60 milhões de pessoas, uma rede de 600 ou 700 balcões. Em França está-se a diminuir os balcões em 10% a 15%. Em Portugal o número de balcões também deverá diminuir.”

Mas os balcões não vão desaparecer. Terão formatos diferentes dos atuais: “Haverá balcões mais tecnológicos e até balcões pop-up, que tentam angariar novos clientes, aparecendo nos locais onde as pessoas costumam ir, como os centros comerciais”, exemplifica Laurent Bertin.

“A banca, tal como o sector dos media, precisa de se reinventar, continuar a inovar e a acarinhar a transformação digital — e hoje foram discutidas várias soluções inovadoras nesse sentido”, remata Francisco Pedro Balsemão, presidente da Impresa.

PORTUGAL NA PRÓXIMA DÉCADA

“O desafio continua a ser o desenvolvimento. Ou seja, atrair mais talento, reter 
a geração qualificada, apostar mais 
na ciência, ter 
mais empregos qualificados… 
O desafio é 
afirmarmo-nos 
no mundo não 
só pela segurança 
e qualificação 
das pessoas mas também atraindo 
mais empresas. Fazendo isso 
temos mais empregos, empreendedorismo 
e inovação”
Paulo Macedo
Presidente da CGD

“No passado 
crescemos pouco 
com muita dívida, 
hoje o desafio é crescer muito com pouca dívida. E julgo que temos dado os passos certos nesse sentido. 
A aposta no conhecimento e no capital é fundamental para esse objetivo: ter investimentos rentáveis e com taxas de retorno superior aos juros que pagamos pela dívida. Parece simples, mas é muito difícil”
António Ramalho
Presidente do Novo Banco

“O grande desafio 
é crescer de 
forma sustentada, controlando a dívida 
e o défice. Isso 
só é possível com 
maior abertura 
da economia e, portanto, com um contributo maior 
das exportações 
em termos de PIB 
(que têm evoluído muito bem). Só se consegue isto com 
mais investimento 
do sector privado 
e com uma grande colaboração entre público e privado”
Nuno Amado
Presidente do Millennium bcp

TRÊS PERGUNTAS A:

Laurent Bertin
Responsável pela área de 
New Banking da Accenture

Os consumidores confiam 
na banca digital?
Penso que sim. Os bancos fizeram, desde 2000, um bom trabalho na mudança das operações básicas para os canais digitais. Muitas transferências já são feitas pela internet ou apps, a questão é quais os próximos passos.

Olhando para os próximos dez anos, e em países como Portugal, o que deve preocupar mais os bancos?
A qualidade do serviço. Se olharmos para o preço, os novos atores tendem a baixar os tarifários. Mas os bancos podem gerir isso com ofertas diferenciadas. A qualidade de serviço é muito difícil de concretizar, porque está relacionada com a forma como se cruzam os diferentes canais para envolver o cliente, tem a ver com ter centros de contacto disponíveis 24 horas, sete dias por semana, que respondam aos clientes… E os bancos não estão, claramente, nesse nível.

As fintechs podem ocupar
 o lugar da banca na concessão 
de crédito às empresas?
Esta é uma área que as fintechs estão a atacar fortemente, e os GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon) também. Ainda não em países como Portugal, mas é uma área de concorrência.

O Expresso e a Accenture juntaram alguns dos maiores banqueiros portugueses para darem a sua visão para a banca e deixarem ideias para o sector. As entrevistas, os vídeos e as principais ideias deste evento podem ser vistas no site do Expresso.

FONTE: EXPRESSO