Aplicação de dados e IA são as tecnologias mais usadas pelas Agtechs

O Mapeamento Agtech 2021, da Abstartups, traça o perfil de 299 startups do agro brasileiras. O SaaS é o modelo de negócio mais usado
Por Marina Hortélio no THE SHIFT

O campo é tech. Mais tecnologia é sinônimo de mais produtividade e as agtechs são fundamentais para a inovação do setor. Segundo o “Mapeamento Agtech 2021“, da Abstartups em parceria com a Dell Technologies, a aplicação de dados e a Inteligência Artificial (IA) são as tecnologias mais utilizadas pelas startups do ramo, com 22,5% e 19,8% de representatividade, respectivamente. Entretanto, ainda existe a grande barreira da falta de conectividade e infraestrutura na zona rural.

Segundo a autora do estudo, Ana Flávia Carrilo, muitas das tecnologias utilizadas pelas agtechs estão atreladas à atuação dentro da fazenda. A internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) é a terceira tecnologia mais utilizada pelas startups dos setor.

“O uso dentro da fazenda está ligado à tentativa de trabalhar cada vez mais o crescimento sustentável e mais facilitado para o produtor rural no dia a dia com o maquinário, no trabalho dentro do campo, no mapeamento. Temos também a questão do IoT em relação a drones e mapeamentos de espaço. A tecnologia atua nesse ponto de facilitar o processo e transformar essas informações de forma mais organizada e tecnológica”, afirmou Carrilo durante a live de lançamento do estudo.

O software é o tipo de tecnologia mais predominante, sendo citado por 79,6% das empresas. Em termos de modelo de negócio, o software as a service (SaaS) sai na frente por ser aplicado por 36,9% das agtechs ouvidas. Em segundo lugar aparece o hardware, com 15,9%, seguido da venda direta (14,6%), da taxa sobre transações (7,6%) e da venda de dados (7,6%).

Já o público-alvo é praticamente dividido entre o modelo B2B2C, com uma intermediação entre o produtor e o consumidor, e B2B, quando a venda é direta entre empresas. Juntos, esses dois mercados representam 87,2% da atuação das companhias; o restante é separado entre B2C (10,2%), B2G (1,9%) e P2P (0,6%).

As soluções das agtechs ainda encontram dificuldade para atender agricultores de todo o país. O estudo ressalta que o agronegócio é composto por muitos produtores rurais pequenos, que ainda não têm acesso à tecnologias, por barreiras que vão desde a pouca escolaridade até os custos de implementação

Alguns desafios já se tornaram menores. A pandemia acelerou a digitalização no campo, ampliando as oportunidades de atuação das agtechs. As novas gerações de agricultores também são mais abertas ao uso de novas tecnologias. “Os filhos dos donos de propriedades estudaram e estão voltando para o campo com uma mente muito mais aberta para a adoção de tecnologia na propriedade”, pontua Vitor Marques, consultor associado na Markestrat Group.

Atrás de inovação, as grandes empresas e o governo também têm se aproximado das agtechs. Segundo o mapeamento, 40,7% das startups têm ou já tiveram relacionamento com grandes corporações e outras 14,2% com o governo. As cooperativas são parceiras de 36,3% das companhias mapeadas.

O relacionamento entre os diferentes players do ecossistema é benéfico para todos os envolvidos. Enquanto, as agtechs acessam novas ferramentas para desenvolver suas soluções, as grandes empresas ganham celeridade no processo de inovação.

“Inovar é uma necessidade. O consumo, a compra e o investimento em startups tem se tornado um caminho sem volta e uma necessidade dessas grandes empresas. Há um alavancamento da linha de aquisições. Tem sido cada vez mais comum grandes empresas terem de forma estruturada e setorizada um braço de M&A e realizarem o investimento conhecido como CVC no mercado que são aportes para levar a experiência e o capital necessário para as startups terem a robustez para desenvolver as soluções”, pontuou José Muritiba, diretor executivo da Abstartups.

Com os governos, o caminho é parecido, já que os entes públicos têm mais entraves para se adaptarem e inovarem do que as agtechs. O diretor da associação avalia que o Marco Legal das Startups surge para estreitar ainda mais a aproximação entre o ecossistema empreendedor e o poder público.

Segundo a pesquisa, 47,1% das agtechs já receberam investimentos. As maiores fontes de investimento são: Investidor-Anjo (33,8%), Programas de aceleração (25,7%), Seed (16,2%), Venture Capital (12,2%) e Bootstrapping (8,1%).

Perfil das agtechs
O estudo traça o perfil das 299 agtechs mapeadas em 2021, mas a associação reconhece que mais empresas do tipo existem no Brasil. Segundo o Radar Agtech Brasil 2020/2021, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o país possui 1.574 agtechs ativas.

“Esse estudo tem a missão de trazer informações sobre o setor e para isso, não necessariamente, precisa falar com 100% dos empreendedores. Fazemos uma amostragem sobre os dados”, explicou Muritiba. “Pegamos startups que estão em operação, em atividade, que estão faturando e tem o seu modelo de negócio escalável. Trabalhamos dentro de um conceito do que representa ser uma startup. Existem empreendedores que podem não estar mapeados”, completou.

A análise da ABStartups é que o ecossistema de agtechs é maduro porque 42% das empresas mapeadas estão em fase de tração e escala. “Esse é o período em que se está buscando mais investimentos e crescendo cada vez mais a sua solução e escalando o produto. O que é muito positivo e mostra que o setor agro tem realmente uma maturidade grande em relação a outros segmentos mais novos. O agronegócio é um mercado consolidado, as agtechs acompanham isso e estão em uma fase mais madura”, afirmou a autora do estudo.

Existe outro bom sinal que é o contínuo surgimento de novas startups do agro, o que é positivo por dar continuidade ao desenvolvimento de novas soluções e manter o potencial de aquecimento do setor. Estão em fase de validação 29,9% das empresas, enquanto 24,2% estão em operação e 3,8% em ideação.

Cerca de 20,4% das agtechs possuem cinco anos de atividade, mas empresas mais novas, com um ano (19,7%), dois anos (18,5%) e três anos (17,2%) também têm grande representatividade no mercado.

Das 299 agtechs mapeadas pela ABStartups, 72,6% atuam dentro da porteira. Neste nicho, o destaque vai para a oferta de Gestão de Dados Agrícolas, Analytics e IoT, ramo de 41,2% das empresas, e a Agropecuária de precisão (32,5%).

Oferecem soluções para depois da porteira 17,2% das startups e os 10,2% restantes têm uma atuação antes da porteira.

A pesquisa da ABStartups constata o que o Radar da Embrapa já apontava: a maior parte das agtechs se concentra no Sudeste. Estão localizadas na região 40,8% das empresas, segundo o mapeamento da associação. O Sul também possui um ecossistema forte, com 36,9% das companhias. O restante se divide entre Centro-Oeste (14,6%), Nordeste (6,4%) e Norte (1,3%).

Ambos os estudos também evidenciam a capilarização das agtechs pelo país. Desde o último mapeamento, em 2018, o Sudeste, que possuía metade das startups brasileiras do tipo, perdeu expressividade. Já o Radar aponta que cidades de menor porte como Viçosa (MG), São Carlos (SP) e Chapecó (SC) se destacaram com alta concentração de startups do setor.

Para o sócio da Homo Ludens e um dos coordenadores do Radar, Luiz Ojima Sakuda, o processo de expansão é orgânico. “Os dados do Radar Agtech Brasil 2020/2021 mostram que, apesar de ainda haver a liderança dos centros tradicionais, a cultura de empreendedorismo e inovação está chegando com força a novos locais. Identificamos 316 cidades com agtechs, sendo que 26 cidades possuem um ecossistema com 10 ou mais startups”, ressalta, em entrevista exclusiva à The Shift.

Além da pouca diversidade regional, o ecossistema de startups do agro é dominado pelos homens. Apenas 7,6% das fundadoras são mulheres, contra 85,4% de founders do gênero masculino. Em apenas 7% das startups possui uma proporção igual de gênero entre os fundadores.

FONTE: https://theshift.info/hot/aplicacao-de-dados-e-ia-sao-as-tecnologias-mais-usadas-pelas-agtechs