Alto-falantes inteligentes: o que falta para o Brasil também surfar nessa onda?

Há dois grandes desafios a serem vencidos na adoção da tecnologia: barreiras culturais e de acessibilidade tecnológica

Estamos em constante processo de evolução tecnológica, em que novas aplicações relacionadas à Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas moldam o comportamento humano. Em diversos aspectos, essas inovações impactam o modo como vivemos e interagimos com objetos e pessoas. Neste contexto, uma tendência que tem se consolidado são os dispositivos com controle de voz, disponíveis em computadores, smartphones, caixas de som e eletrodomésticos.

Um dos dispositivos mais difundidos são os alto-falantes inteligentes, caixas de som conectadas à internet e integradas com assistente virtual que permitem ações por meio da pronúncia de palavras como “ligar”, “aumentar volume” e “trocar música”. Já foram vendidos mais de 100 milhões de unidades no mundo, segundo estudos da Canalys. A estimativa é de que o número cresça para 225 milhões em 2020.

De acordo com a Voicebot.ai, especializada no mercado de assistentes de voz e inteligência artificial, os principais usos dos alto-falantes inteligentes são respectivamente: ouvir músicas por meio de serviços de streaming (como Spotify, Deezer), fazer perguntas gerais (como “quem é o atual presidente da França? ” ou “qual a capital do Brasil?”), além de consultar a previsão do tempo.

Alguns dos aspectos que favorecem a difusão são a independência de telas para gerar ações e a sociabilidade estimulada com o uso dos dispositivos. De acordo com pesquisa realizada pela consultoria americana Edison, cerca de 47% das pessoas afirmam que a interação com alto-falantes inteligentes ocorre quando há outras pessoas ao redor, seja para ouvir música, notícias ou checar a temperatura. Aproximadamente 38% dizem que um dos fatores de decisão de compra é justamente o intuito de reduzir dependência em relação às telas.

Os gigantes da tecnologia responsáveis pelas principais plataformas de assistentes virtuais, notadamente Amazon e Google, não medem esforços para popularização de seus assistentes de voz. A cada dia, novos serviços e produtos são integrados a esse ecossistema. Nos EUA, por exemplo, já é possível pedir pizza ou chamar Uber simplesmente com comandos de voz. A tendência deve mudar significativamente o perfil de uso atual e contribuir para a proliferação dos dispositivos.

Enquanto isso, no Brasil, o uso de auto-falantes inteligentes ainda é bastante incipiente. Por ora, apenas um dos assistentes de voz dominantes no mercado está disponível em português, e com certa limitação quanto aos comandos disponíveis – além de não haver ainda oferta desses produtos no varejo nacional. Por outro lado, os brasileiros demonstram interesse em adquirir um dispositivo doméstico nessa categoria. Com base na pesquisa PwC Global Consumer Insights 2018, na média global, 32% dos entrevistados afirmam ter interesse em adquirir algum produto comandado por voz. Entre os brasileiros, esse número é 59%.

Mesmo com essa tendência global, ainda há dois grandes desafios a serem vencidos na adoção da tecnologia: barreiras culturais e de acessibilidade tecnológica. Barreiras culturais são relacionadas ao hábito de utilizar telas como a principal interface de controle de sistemas e dispositivos. Assim como o uso massivo de smartphones revolucionou formas de interagir com outras pessoas, com serviços e dispositivos, a indústria deve prover os consumidores conteúdo suficiente para sobrepor essa barreira e habituar as pessoas à presença de assistentes de voz em suas casas. Já as barreiras de acessibilidade podem representar tanto um desafio quanto uma oportunidade: tornar todos esses equipamentos disponíveis, com qualidade e de maneira acessível aos vários perfis de consumidores.

FONTE: ITM