Agtech mais valiosa dos EUA prepara terreno para trazer seu marketplace de grãos ao Brasil

Para consolidar sua operação local, a agtech Indigo Ag, avaliada em US$ 3,5 bilhões, planeja lançar a versão brasileira da plataforma já disponível nos EUA ainda em 2021. Os planos também incluem trazer sua iniciativa de créditos de carbono ao País

Quando chegou ao Brasil, no início de 2019, a Indigo Ag já era uma das startups mais relevantes do cenário agtech americano, tendo captado US$ 600 milhões de fundos como o Flagship Pioneering, controlado por Noubar Afeyan, cofundador da empresa de biotecnologia Moderna.

Na bagagem, a empresa trouxe sua linha de sementes prontas, com um tratamento específico para aumentar a produtividade. Desde então, ampliou esse portfólio com um produto exclusivo para o País: a Indigo Safra, que digitaliza a operação de barter – mecanismo pelo qual o produtor paga pelos insumos com os grãos que vai colher – e pode ser usada no financiamento de produtos biológicos.

Para consolidar a operação no Brasil e na América Latina, o próximo passo será o lançamento da versão local do marketplace de grãos, ainda em 2021. “Estamos trabalhando na adaptação da ferramenta para que ela fale português”, diz o CEO da Indigo Ag na América Latina, Dario Maffei, ao NeoFeed.

Já disponível nos Estados Unidos, o marketplace permite ao produtor ofertar trigo, soja, milho, arroz e sementes de girassol em uma plataforma digital, estabelecendo o preço em linha com as características da sua produção, como o conteúdo proteico do grão. Quando conclui a venda, ele pode usar o próprio sistema de frete oferecido pela Indigo Ag.

No Brasil, Maffei afirma que a adaptação tem esbarrado em alguns obstáculos, como a infraestrutura de transporte. Enquanto as vantagens da plataforma são claras para o produtor, o comprador precisa enxergar valor nas facilidades que a ferramenta oferece e a questão logística tem um peso importante. “É nisso que estamos trabalhando para que a plataforma chegue balanceada”, diz.

É fácil de entender o interesse da Indigo Ag nessa área. O Brasil é o segundo maior exportador de grãos do mundo. Em 2020, foram 122 milhões de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos, com 138 milhões. De acordo com a Embrapa, a produção brasileira de grãos cresceu 210%, enquanto a mundial aumentou 60% entre 2000 e 2020.

O País também é o maior produtor global de soja. Na safra 2019/2020, o Brasil produziu 124.845 milhões de toneladas do grão. A produção dos Estados Unidos, segundo no ranking, foi de 96.676 milhões de toneladas.

Mas, quando trouxer seu marketplace no País, a Indigo Ag encontrará um mercado com muitos concorrentes. Um deles é a Orbia, marketplace que a Bayer lançou em 2019, fruto de um spin-off de seu programa de relacionamentos. Por enquanto, a plataforma permite apenas a venda de soja, em uma parceria com a Bunge, mas outras culturas devem ser integradas no futuro. A Orbia tem 170 mil produtores cadastrados, que representam cerca de 70% da área plantada do país.

Há ainda o marketplace CBC Agronegócios, que cobra apenas uma mensalidade dos produtores e compradores interessados em negociar dentro da plataforma. As transações não são taxadas e é possível vender milho, trigo, soja, café, arroz e outros grãos. A startup argentina Agrofy, que tem operações no Brasil, já manifestou interesse em integrar a compra e venda de grãos a seu marketplace, mas, por enquanto, a opção não está disponível.

O marketplace não é a única área que a Indigo Ag pretende investir para aumentar suas operações no Brasil. Desde 2020, a Indigo também tem acelerado outra área de atuação: o mercado de créditos de carbono. Por enquanto, a solução está disponível apenas nos Estados Unidos, mas o plano é ofertá-la a produtores da Europa ainda neste ano. Em 2022, será a vez da América Latina receber a plataforma.

Na ferramenta, a Indigo Ag emite créditos no valor de US$ 20, equivalentes a uma tonelada de carbono capturado da atmosfera pelos produtores. Esses créditos são comprados por clientes corporativos, como Barclays, J.P. Morgan Chase e IBM.

Ao final da safra, a agtech vai até os produtores e aplica uma tecnologia que usa algoritmos e amostragem para comprovar que o carbono foi capturado. Depois dessa checagem, os agricultores são remunerados.

Para colocar o projeto de pé, a startup precisou de mais recursos. Em 2020, a Indigo Ag captou mais US$ 560 milhões em uma rodada série F com participação do Fundo Permanente do Alasca, da Flagship Pioneering e da FedEx. No total, a Indigo já levantou US$ 1,5 bilhão e é avaliada em US$ 3,5 bilhões.

Com a injeção de recursos, a empresa também ampliou o quadro de funcionários na América Latina, especialmente na área comercial. Dos 1,2 mil profissionais que compõem o time global, cerca de 100 estão na região. O foco é potencializar também sua solução de crédito.

A Indigo Safra usa uma tecnologia que faz a análise de crédito, a emissão da CPR (Cédula de Produto Rural) e o monitoramento do plantio para permitir que o produtor tenha acesso ao financiamento, ao mesmo tempo em que dá mais transparência do processo para o investidor. A agtech afirma que a cadeia envolve 17 empresas, mas não revela as empresas que são parceiras.

Na avaliação de Bernardo Fabiani, CEO da TerraMagna, startup que usa tecnologia para avaliar risco e comprar dívidas de pequenos e médios produtores, o cenário é promissor para esse modelo.

“Estamos vendo um fenômeno pela primeira vez”, afirma Fabiani. “Com a falta de crédito subsidiado e a alta da taxa de juros, dada a precificação que os investidores estão dando para a Selic daqui a dois anos de mais de 8%, o produtor perdeu seu poder de compra.”

Nesse contexto, o capital privado pode ser uma alternativa importante ao agricultor. Já existe interesse do mercado financeiro em investir no agro. “Converso com gestoras e muitas já entenderam que existe muita oportunidade no setor”, diz Fabiani.

FONTE: https://neofeed.com.br/blog/home/agtech-mais-valiosa-dos-eua-prepara-terreno-para-trazer-seu-marketplace-de-graos-ao-brasil/