Em entrevista ao programa Conexão Ciência, da EBC, Celso Moretti falou sobre os principais desafios e expectativas para a pesquisa em 2020
Em entrevista ao programa Conexão Ciência no dia 04/02/2020, o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, afirmou que o setor agropecuário é o que mais trouxe inovação à economia brasileira. Por trás do sucesso desse segmento, responsável por aproximadamente 23% do PIB brasileiro, está a pesquisa científica desenvolvida por instituições públicas e privadas do País. “É a agricultura movida a ciência”, como costuma dizer Moretti. O Conexão Ciência é produzido em parceria entre a Embrapa e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e fica disponível nas páginas das duas instituições na internet e no YouTube.
Segundo Moretti, cinco áreas são hoje prioritárias para a atuação da Embrapa: agricultura digital, sistemas integrados de produção, bioeconomia, nanotecnologia e alimentos de base vegetal.
Campo mais “sexy”
A agricultura digital, que envolve uso de drones, sensores, internet das coisas e inteligência artificial, mudou completamente o panorama das áreas rurais no Brasil. “Hoje, uma colhedeira de grãos tem mais tecnologia do que a Apolo 11, que levou o homem à lua em 1969”, ressalta o presidente. A conectividade tem tornado o campo mais “sexy” e atraente para os jovens, o que pode contribuir para a fixação do homem no campo.
De acordo com Moretti, o Brasil tem um desafio enorme de avançar a passos largos nessa área. A evolução das ferramentas digitais no campo, como aplicativos e softwares, entre outras, tem aumentado a demanda de capacitação de produtores e outras pessoas envolvidas com o agro. “Antigamente, quem não estudava ficava na roça. Hoje, para ficar na roça, você tem que estudar”, comentou, lembrando que esse é um sinal claro da modernização do agro brasileiro.
Sistemas integrados: sucesso sustentável
Outra prioridade da Embrapa é continuar investindo na formação de sistemas integrados de produção, que começaram há cerca de 30 anos no Brasil e hoje ocupam mais de 11 milhões de hectares. “São iniciativas que deram muito certo no Brasil e se baseiam na manutenção de lavoura, pecuária e floresta na mesma área”, explica o presidente.
Brasil: modelo de agricultura sustentável
Aliás, como afirma Moretti, “O Brasil é um modelo de agricultura sustentável. Nós alimentamos hoje sete vezes a população do País, o que significa 1,4 bilhão de pessoas, preservando 66,3% do nosso território”. Fora isso, a agricultura nacional conta com um conjunto robusto de práticas sustentáveis, como plantio direto e controle biológico de pragas, entre outras, aliado a um arcabouço legal – Código Florestal, Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), entre outros instrumentos – que garantem o selo de sustentabilidade para a agricultura brasileira.
Bioeconomia e os ovos de Colombo
A bioeconomia, ou economia de base biológica, é outra das áreas de destaque no radar de atuação da Embrapa, como explicou o presidente. Segundo ele, o fato de possuir uma das maiores biodiversidades do mundo oferece ao Brasil oportunidades fantásticas nesse campo. “Até o momento, só somos capazes de enxergar uma pontinha do iceberg do que é a potencialidade da bioeconomia”, explicou o presidente.
Um dos avanços significativos nessa área, que ele define como o primeiro ovo de Colombo, é a fixação biológica de nitrogênio, por exemplo, que permite hoje ao País cultivar 35 milhões de hectares de soja sem aplicar um único grama de nitrogênio sintético.
Tesouras genéticas
Moretti enfatizou também a área de edição genômica, que grosso modo, pode ser entendida como um “corta” e “cola” de pedaços do genoma de plantas, animais e microrganismos para desenvolver variedades com características de interesse para a agropecuária. As prioridades da Embrapa nessa área estão mais voltadas para o desenvolvimento de cultivares de soja com tolerância à seca e resistência a nematoides e feijão com resistência ao escurecimento precoce.
A utilização dessas “tesouras genéticas” podem ajudar o Brasil na conquista de mercados que não aceitam produtos transgênicos, como o europeu e o japonês. Mas, Moretti, não vê as ferramentas de edição genômica como substitutas da modificação genética de organismos e sim como aliadas.
Nanotecnologia: a ciência do futuro no presente
Em relação à nanotecnologia, o presidente declarou que a Empresa já mantém há mais de 10 anos em São Carlos, SP, um laboratório voltado exclusivamente a estudos nessa área. Ele destacou o recobrimento nanoestruturado, desenvolvido recentemente para frutas, que permite aumentar a qualidade e o tempo de conservação pós-colheita, e os adubos com partículas nanoestruturadas, que possibilitam a liberação gradativa de nutrientes na agricultura. “São apenas dois exemplos de uma enorme programação de pesquisa que a Embrapa mantém nessa área, em parceria com instituições públicas e privadas de pesquisa e ensino”, constatou Moretti.
Alimentos de base vegetal
Os alimentos à base de plantas têm se tornado uma tendência mundial e movimentam hoje um montante de cerca de US$ 5 bilhões, com previsões de alcançar em 2030 cifras da ordem de US$ 100 bilhões. “Como uma instituição de geração de conhecimento em ciência e tecnologia, a Embrapa não poderia ficar de fora das pesquisas nessa área”, afirmou o presidente, lembrando que duas unidades de pesquisa – Agroindústria de Alimentos (RJ) e Agroindústria Tropical (CE) – já iniciaram estudos para utilizar a fibra de caju como substituto da carne na produção de hambúrgueres, nuggets, entre outros produtos.
Além do mercado em ascensão, os estudos agregam valor a essa fibra, cuja quantidade chega a 60 mil toneladas por ano no País, como resíduo da produção de castanha e de suco de caju.
FONTE: PEGN