Adeus aos unicórnios: startups correm risco de perder status de bilionárias em 2023

A questão central para o ano é como atrair recursos de um mercado em crise sem vender participações descontadas nas ‘rodadas de baixas’.

O ano de 2022 só não foi pior para as startups porque muitas ainda tinham dinheiro em caixa para enfrentar a forte retração nos investimentos de risco. Mas, em 2023, o desafio será maior, alerta a agência Dow Jones. Com as reservas perto do fundo, os unicórnios (startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais) estão diante do dilema de como levantar capital novo em meio a uma crise global para manterem seu status.

Essas empresas tendem a ter negócios em estágio avançado, com custos elevados, em um mercado mais maduro em termos de consumo e, principalmente, de concorrência. Poderiam antecipar uma estreia no mercado de capitais, mas com os planos de ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) em grande parte estagnados graças à fuga dos investimentos de risco, os unicórnios se veem quase sem saída para o ano, relata a agência.

A questão central é: como atrair recursos em um ambiente de bolsa internacionais em queda, sem vender participações a um preço com desconto em relação a rodadas anteriores de investimento, o que poderia acarretar a perda de milhões – e até bilhões – para essas empresas?

O exemplo mais próximo do pequeno investidor brasileiro do que aconteceu globalmente com os unicórnios que decidiram ir à bolsa, onde a correção de valores é mais rápida e agressiva, é o Nubank. Do IPO em dezembro de 2021, que estimou a empresa em US$ 41,5 bilhões — elevando-a ao posto de maior instituição financeira da América Latina —, até hoje, o “roxinho” perdeu US$ 22,4 bilhões em valor de mercado, montante que equivale a mais que um Banco do Brasil (US$ 19 bilhões).

Claro que Nubank está longe de perder seu posto como unicórnio, mas o caso aponta a tendência de desvalorização das empresas “de crescimento” nas bolsas.

Quase todas as companhias com negócios baseados em tecnologia – aquelas cujo direcionamento se baseia no avanço das operações e na perspectiva de retornos no futuro – apanharam da impaciência de investidores diante de um mercado de capitais em crise com os juros elevados.

Para os unicórnios que seguiram com o venture capital (os veículos privados que investem em empresas pequenas com potencial de crescimento), a fonte também secou em 2022. No Brasil, as startups saíram de um 2021 de investimentos recordes, de US$ 9,4 bilhões em aportes totais, para menos da metade, US$ 4,48 bilhões, entre janeiro e novembro de 2022, segundo a plataforma Distrito.

Até março deste ano, existiam mais de 1 mil startups unicórnios no mundo em 2022, com valor de mercado combinado de mais de US$ 3 trilhões. Não houve encolhimento por ora, mas uma desaceleração no ritmo de crescimento do grupo, o que já acende um alerta no mercado, principalmente, diante da deterioração do valor das maiores empresas de tecnologia neste ano.

Assim, o cenário que se pinta para os unicórnios em 2023 não envolve nenhum arco-íris, e nem se assemelha em nada aos contos de fadas.

Segundo um levantamento do Pitchbook, os top 10% unicórnios mais valiosos dos Estados Unidos em 2021 perderam cerca de metade de seu valor de mercado até o terceiro trimestre deste ano.

Alternativas a um “rebaixamento” de preço

Durante a maior parte de 2022, muitas startups em estágio avançado evitaram as rodadas de investimentos pelo risco de baixa – quando os preços das participações acionárias caem abaixo dos valores obtidos na rodada anterior, informa a Dow Jones. A saída foi “raspar o tacho”, quer dizer, usar as reservas de caixa, estender rodadas de financiamento anteriores, assumir dívidas e cortar custos de todos os lados.

A maioria das empresas recorreu aos famigerados layoffs – a velha demissão em massa, em bom português. E o corte foi na carne, com rodadas de mais de 200 desligamentos por vez. Estimativas dão conta de que, só no Brasil, mais de 4 mil pessoas foram atingidas pelas “revisões de crescimento”, como as startups chamaram o processo de enxugamento da força de trabalho.

Tendo já recorrido a tudo que tinham à mão e com uma perspectiva de mais um ano fraco para os investimentos de risco, o que sobra para as grandes startups em 2023?

Aquelas que estavam considerando IPOs em 2022, mas acabaram suspendendo seus planos, voltaram a ver o segundo semestre de 2023 com outros olhos, para considerar se haveria adiante uma janela para abrir capital, reporta a Dow Jones.

Ainda assim, Kyle Stanford, analista sênior da PitchBook, diz à agência esperar uma taxa acelerada de rodadas de investimento que embutam desvalorização das empresas em 2023, à medida que as contínuas incertezas do mercado de capitais forçam as startups maduras a permanecerem com o capital fechado.

Mas o pior, disse ele, é que as startups que se tornaram unicórnios nos últimos anos – quando as baixas taxas de juros atraíram uma enxurrada de dinheiro – precisarão se reajustar a uma nova mentalidade de investidor que passa a priorizar o potencial de uma empresa de obter lucro, em detrimento de sua capacidade de alcançar um crescimento rápido.

Outro fenômeno que deve se acelerar no segmento são as fusões e aquisições. Com acordos de financiamento escassos e os IPOs não parecendo uma alternativa para muito, alguns unicórnios, especialmente aqueles em setores atualmente menos atraentes a investidores, como o de saúde e de varejo, podem estar mais receptivos a essas transações.

O tempo dirá o que será de 2023, afinal, como a história (e principalmente 2022) ensina: é esperar para ver.

FONTE: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2023/01/09/adeus-aos-unicornios-startups-correm-risco-de-perder-status-de-bilionarias-em-2023.ghtml